CIDADE DO MÉXICO ? O presidente mexicano, Enrique Pena Nieto, avalia a possibilidade de cancelar sua visita de Estado a Washington após Donald Trump assinar uma ordem executiva formalizando a construção de um muro na fronteira, revelou à AP uma autoridade do governo. De acordo com Trump, a construção de até US$ 14 bilhões será paga pelos contribuintes americanos e posteriormente reembolsada pelos mexicanos, o que Peña Nieto disse ser inaceitável. trump-imigração
De acordo com a alta fonte da AP, Peña Nieto está a par da pressão imposta por vários setores políticos e culturais para que adote uma postura mais dura contra Trump, que anunciou unilateralmente a construção do muro e em nenhum momento recebeu aval dos mexicanos. Eles têm encontro marcado para o dia 31.
Em 2016, durante a campanha, o presidente mexicano foi duramente criticado por receber Trump no palácio presidencial. Ali, ambos discutiram a questão migratória. O então candidato americano ressaltou que debateu o muro e que o México havia se comprometido a financiá-lo, o que Peña Nieto rejeitou, numa briga aberta.
Trump assinou na quarta-feira decretos presidenciais para ativar a construção do prometido muro na fronteira sul, aumentar a fiscalização migratória interna e punir cidades que protegem imigrantes em situação ilegal.
Em trechos de uma entrevista que será publicada pela rede ABC, Trump garantiu que o muro será “construido imediatamente” e será pago inicialmente pelos contribuintes dos EUA, e pelo México posteriormente, em forma de reembolso.
Num evento no Departamento de Segurança, ele delineou sete pontos sobre os quais assinou ordens específicas: o muro; o fim da política de “capturar e libertar” na fronteira (imigrantes ilegais terão que esperar julgamento detidos); exigir de outros países o recebimento de seus emigrantes culpados de crimes nos EUA; punir cidades-santuário (municípios que limitam cooperação com funcionários da imigração, tecnicamente ajudando a proteger ilegais); reforçar a atuação dos agentes de patrulha fronteiriça; triplicar a contratação destes funcionários; e criar um escritório dentro da Segurança Interna dedicado a apoiar vítimas de crimes cometidos por imigrantes ilegais.
Trump disse que “o Estado de direito nos EUA está sendo restaurado”.
? Estamos em meio a uma crise sem precedentes que ameaça tanto o México quanto o EUA ? prosseguiu. ? Uma nação sem fronteiras não é uma nação. A partir de hoje, os EUA, estão de volta ao controle de suas fronteiras. Por anos, a mídia ignorou vastamente as histórias de vítimas americanas de crimes cometidos por imigrantes ilegais. Para todos aí fora que sofreram, vocês não serão mais ignorados.
Trump garantiu que a ordem executiva “salvará milhares de vidas”.
? Tiraremos pessoas ruins, traficantes e gangues de nosso país, e rápido. Os países de onde eles vêm vão recebê-los de volta.
Peña Nieto rejeitou categoricamente a proposta de Trump, dizendo que a relação entre os países não será de confronto, tampouco de submissão.
? Trabalharemos por uma fronteira que nos una e não nos divida. O México não acredita em muros ? afirmou Peña Nieto na segunda-feira, durante um pronunciamento sobre a política externa mexicana.
Lista: Cinco fatos sobre o muro que Trump quer construir entre EUA e México
A fronteira entre os EUA e México tem mais de 3.200 quilômetros e, destes, hoje apenas 1.000 quilômetros são cercados.
? Se você construir um muro, você ainda terá que apoiar essa barreira com patrulhamento por seres humanos, por sensores, por dispositivos de monitoramento ? observou o secretário de Segurança Interna, John Kelly, com quem Trump se reuniu na cerimônia para assinatura do decreto.
Através do Twitter, na terça-feira, Trump disse: ?Grande dia planejado para SEGURANÇA NACIONAL amanhã. Entre outras coisas, iremos construir o muro!?. Rascunhos de decretos divulgados pela imprensa mostram que Trump deve proibir ainda por vários meses a entrada de refugiados nos EUA ? exceto minorias religiosas que fogem de perseguição ? até que vetos mais agressivos sejam implementados. Outro decreto deve bloquear vistos emitidos para qualquer pessoa de Síria, Iraque, Irã, Líbia, Somália, Sudão e Iêmen.