BRASÍLIA – As doações eleitorais do empresário Eike Batista, que teve a prisão determinada pela Justiça nesta quinta-feira, mostram o trânsito dele por diversos partidos. De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Eike destinou, entre 2006 e 2012, R$ 12,6 milhões a políticos e diretórios regionais de 13 partidos em oito estados. Em depoimento à Força Tarefa da Lava-Jato em maio, Eike admitiu ter feito pagamentos ao casal João Santana e Mônica Moura a pedido do ex-ministro Guido Mantega por despesas de campanha do PT, mas disse que todas as demais doações feitas foram ?oficiais?. Sua defesa destacou, na ocasião, o caráter ?republicano? da contribuição.
As doações abrangem as campanhas presidenciais de 2006 e 2010. Eike doou R$ 1 milhão para o comitê financeiro do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006 e R$ 100 mil para Cristovam Buarque (então no PDT, hoje no PPS). Quatro anos depois, quando já era o homem mais rico do Brasil, Eike fez transferências de R$ 1 milhão para os comitês de Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) e de R$ 500 mil para o de Marina Silva (então no PV, hoje na Rede).
Os partidos que receberam recursos foram PT, PMDB, PSDB, PP, PSD, PSB, DEM, PR, PDT, PV, PCdoB, PTB e PTC. Os estados dos políticos são Rio, Minas Gerais, Santa Catarina, Maranhão, Ceará, Mato Grosso do Sul, Amapá e o Distrito Federal. A maior parte das doações (R$ 12,1 milhões) foram feitas por Eike como pessoa física. Somente em 2012 ele se valeu de uma das empresas, MMX Mineração, para fazer repasses totalizando R$ 500 mil.
Algumas doações foram feitas diretamente para candidatos. O ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), preso desde novembro e acusado de ter recebido propina de Eike, registrou uma contribuição de R$ 750 mil do empresário para sua campanha à reeleição, em 2010. Há ainda repasses declarados para os ex-governadores André Puccinelli (PMDB-MS), de R$ 400 mil em 2006, e Luiz Henrique (PMDB-MS), este já falecido, de R$ 200 mil.
Cristovam Buarque, que tinha recebido R$ 100 mil em sua campanha presidencial em 2006, obteve o mesmo valor quatro anos depois em sua campanha para o Senado. Em depoimento de Eike de maio passado, o caso foi usado para justificar o caráter republicano de suas doações porque o empresário disse que nem o conhecia quando da primeira contribuição.
O senador cassado Delcídio Amaral (sem partido), que já foi preso e se tornou delator na Lava-Jato, foi beneficiário de doações de Eike em 2006 e 2010, totalizando R$ 900 mil. O deputado Vander Loubet (PT-MS) recebeu R$ 400 mil em 2006. Também receberam contribuições de forma direta o deputado estadual Paulo Melo (PMDB-RJ), R$ 100 mil em 2010, e os ex-deputados Zé Fernando (PV-MG), R$ 50 mil em 2006 e Dalva Figueiredo (PT-AP), R$ 30 mil no mesmo ano.
Em 2008, Eike repassou recursos de forma direta às campanhas de Eduardo Paes (PMDB-RJ), R$ 500 mil, Fernando Gabeira (PV-RJ), R$ 100 mil, e Márcio Lacerda (PSB-MG), R$ 400 mil, além de ter destinado R$ 100 mil para dois candidatos da cidade de Conceição do Mato Dentro (MG), onde o empresário atuou na área de mineração.
REPASSE A PARTIDOS
A maior parte dos repasses, porém, foi feita por meio de diretórios e comitês. Eike destinou, em 2010, R$ 100 mil à direção nacional do DEM. Na época, o atual presidente da Câmara, Rodrigo Maia, era o presidente do partido. No mesmo ano, foram repassados R$ 300 mil à direção nacional do PCdoB, que já era comandado pelo atual presidente Renato Rabelo. DEM e PC do B não tiveram candidatos a presidente da República em 2010 e a legislação não obrigava a identificar para qual campanha foram destinados os recursos.
O empresário fez ainda mais uma doação a um comitê nacional. Em 2012, a MMX mineração repassou R$ 100 mil para o PMDB nacional, presidido na época pelo senador Valdir Raupp durante licença do presidente Michel Temer. Também neste caso não há identificação do destino final da contribuição.
As demais contribuições foram feitas para diretórios regionais. Em 2006 foram beneficiados o PMDB do Rio, que era comandado por Sérgio Cabral e recebeu R$ 400 mil, o PFL (atual DEM) do Maranhão, que tinha à frente a ex-governadora Roseana Sarney e obteve R$ 1 milhão, o PSB cearense, comandado então pelos irmãos Ciro e Cid Gomes e que ficou com R$ 200 mil, o PSB do Amapá, liderado por João Capiberibe e que captou R$ 200 mil, e o PDT do Amapá, que é comandado até hoje pelo atual governador Waldez Góes e recebeu na época R$ 200 mil.
Em 2010, as doações beneficiaram o PT de Mato Grosso do Sul, comandado por Zeca do PT e que recebeu R$ 500 mil, o PR fluminense, que tinha Anthony Garotinho à frente e recebeu R$ 200 mil, o PMDB maranhense, de Roseana Sarney, que ficou com R$ 500 mil, e o PT catarinense, da ex-ministra Ideli Salvatti, que recebeu R$ 300 mil.
Em 2008, ano de eleições municipais, Eike fez repasses de R$ 100 mil ao comitê do PDT de Macapá (AP), que tinha Roberto Góes como candidato, e de R$ 500 mil ao PMDB do Rio, representado por Eduardo Paes na disputa da prefeitura. Em 2012, foram repassados R$ 400 mil pela MMX a diretórios mineiros de oito partidos (PMDB, PSDB, PSD, PSB, DEM, PP, PTB e PTC). Neste caso, não houve a identificação de em quais cidades os recursos foram empregados.