Cotidiano

Crime custa US$ 91,38 bilhões ao ano para o Brasil

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RIO – O custo do crime e da violência no Brasil alcançou US$ 91,38 bilhões em 2014 (cerca de R$ 258,3 bilhões), ou 3,78% do PIB daquele ano, segundo estudo divulgado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Esse valor representa mais da metade (53%) do custo total com crime e violência na América Latina e no Caribe ? de US$ 171,78 bilhões, o equivalente a 3,55% do PIB da região ? ou duas vezes mais que a média dos países desenvolvidos. O levantamento é o primeiro a avaliar o gasto com a violência em 17 países e tem um capítulo sobre o Brasil.

? Para avançar, é preciso investir em prevenção social ao crime, agregando ações em diversas áreas, como educação, cultura e saúde, além da segurança, e melhorar a eficácia policial. No Brasil, num cenário de recessão e crise fiscal, é mais urgente trabalhar priorizando as áreas de mais altos índices de violência e faixa etária e grupos mais atingidos, como jovens e negros ? ponderou Dino Caprirolo, especialista em segurança do BID. ? Os países que mais têm despesas com prisões não são necessariamente os com menos violência.

Para calcular o valor, o banco utilizou uma metodologia contábil e outras duas adicionais, considerando custos diretos com segurança pública e privada e alguns indiretos, como o da renda de trabalho não gerada por detentos. Laura Jaitman, coordenadora de pesquisa na área de Segurança Cidadã e Justiça do BID, destaca que é preciso entender a dimensão de um gasto da ordem de 3% do PIB na América Latina e Caribe.

? Isso equivale à mesma fatia do PIB da região dedicada a investimentos em infraestrutura. Se esse custo for reduzido à metade, dá para ampliar em 50% o que se investe no setor ? explicou ela, dizendo que o gasto equivale ainda à renda dos 30% mais pobres da região.

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No estudo ?Os custos do crime e da violência: novas evidências e constatações na América Latina e Caribe?, a região aparece como a mais violenta do mundo, excluindo zonas de guerra. Embora represente 9% da população global, tem perto de um terço das vítimas de homicídios no planeta. Essas estatísticas se refletem em robustos custos com encarceramento. Entre 2010 e 2014, US$ 6,5 bilhões foram gastos ao ano apenas para manter ou construir prisões na região. O impacto na economia mais do que dobra de valor ao considerar o quanto os presos deixam de gerar em renda: US$ 7,3 bilhões anuais.

? O Brasil é o quarto país do mundo em população encarcerada. Faltam medidas para reduzir esse número e ressocializar presos, resultando na crise do sistema prisional ? disse Caprirolo.

BRASIL EM 5º NA REGIÃO

Entre os 17 países avaliados, o Brasil está na quinta posição em fatia do PIB engolida pelos custos do crime, atrás de Honduras (6,51%), El Salvador (6,16%), Bahamas (4,79%) e Jamaica (3,99%). O estudo pode ajudar a melhorar a aplicação de recursos e as políticas preventivas e de controle da criminalidade.

? No Brasil, o custo do crime varia entre as regiões, estados e municípios de forma tão contrastante quanto entre países da América Latina e Caribe. Alguns gastam três vezes mais que outros ? afirmou Laura.

Os gastos com vigilância privada, tanto por empresas quanto por famílias, no Brasil chegam a 48% do custo total do crime, o que mostra uma falta de confiança na atuação do governo em segurança.

Outra questão é a alta taxa de homicídios, equivalente a 50% do registrado na América Latina e Caribe. Mas o problema não afeta todos da mesma forma. Pelo IBGE, 53,6% dos brasileiros eram negros e pardos em 2014. No entanto, essas pessoas são 74,58% das vítimas. Já os jovens, 16,3% da população, são 35,7%.

O Sudeste, região mais violenta do país até meados dos anos 2000, vem reduzindo homicídios. Apenas Minas Gerais registrou avanço nas estatísticas entre 2010 e 2014. No Rio, o recuo foi de 32%; em São Paulo, de 67%, e no Espírito Santo, de 12%. Nos dois últimos anos, porém, os números voltaram a subir no Rio.

? As UPPs são exemplo de uma estratégia que surtiu efeitos positivos no controle do crime e da violência. De forma isolada, contudo, não têm sustentabilidade. Precisa haver ações educacionais agregadas ? ressaltou Caprirolo.