Cotidiano

Em nota, bancada do PMDB no Senado pressiona contra sanção de terceirização

BRASÍLIA – Numa operação comandada pelo líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL) e da senadora Marta Suplicy, parte da bancada do partido assinou uma nota para pressionar o presidente Michel Temer a não sancionar o projeto de terceirização aprovado semana passada na Câmara dos Deputados. Em uma reunião tensa, que durou mais de três horas, nove dos 12 presentes assinaram a nota, sendo dois com ressalva de que não são contra a terceirização, apenas melhoria do projeto. O presidente da Casa, Eunício Oliveira (PMDB-CE), prometeu a líderes das centrais sindicais, pautar outra proposta aprovada na Câmara em 2015 para tramitar na Comissão de Constituição e Justiça da Casa.

O movimento de Renan foi descrito pelos que se negaram a assinar a nota ? a maioria de 22 senadores ? como uma tentativa de ?reposicionar sua imagem? e confrontar o Governo Temer na questão da terceirização e da reforma da previdência. Ele estaria irritado ainda com o vazamento, pelo COAF, da investigação pelo Ministério Público de saques que foram feitos por ele no Banco do Brasil, somando R$300 mil. Como o COAF é um órgão do governo, os peemedebistas não alinhados dizem que Renan abriu guerra contra Temer. Após a reunião Renan disse que se Temer sancionar a lei, será o responsável pelo desemprego e queda na arrecadação.

? Recomendamos, na nota, que por enquanto o presidente da República não sancione o projeto aprovado pela Câmara. Na recessão e na crise, o projeto vai precarizar as relações de trabablho. É o boia fria.com. Vai retroceder nas relações de trabalho ? criticou Renan, completando:

? Se o fizer o presidente da República vai se responsabilizar, sozinho, pelo agravamento do desemprego, a precarização dos empregos e a queda da arrecadação da previdência.

Na reunião Renan contou que procurou Temer para pedir que ele não sancionasse o projeto da Câmara, mas Temer ficou irredutível. Disse que já conversou com Temer sobre o assunto pelo menos 10 vezes. A nota assinada pelos nove senadores, sendo dois com ressalvas, diz:

?A bancada do PMDB do Senado, em reunião nessa terça-feira (28) , decidiu, por maioria ( dos presentes escrito a caneta), se posicionar contrária a sanção do projeto de lei de terceirização para todas as atividades, conforme texto aprovado na Câmara dos Deputados. A bancada defende a regulação e a regulamentação das atividades terceirizadas que já existem e não a terceirização ampla e irrestrita, como prevê o projeto. Para a bancada o texto do projeto aprovado precariza asa relações de trabalho, derruba a arrecadação, revoga conquistas da Consolidação das Leis de Trabalho e piora a perspectiva de aprovação da reforma da Previdência?.

A carta é encabeçada pela assinatura da senadora Marta Suplicy (PMDB-SP), que negou ser a autora. Foi dela também a leitura da carta durante a reunião. Depois, disse que leu mas não sabe de quem era a autoria.

? Não é minha não. Eu só li. Estava lá ? disse Marta.

? É uma proposta da senadora Marta ? declarou Renan, após a reunião.

A carta gerou uma discussão acirrada na longa reunião.

? Isso é coisa do Renan que quer mostrar força e partiu para o enfrentamento com o governo, tentando levar junto a bancada. Mas só seis assinaram e outros três o fizeram com ressalva. Se quis mostrar força, mostrou fraqueza, porque uma minoria da bancada assinou, mesmo assim para pedir mais discussão ? disse um dos senadores que se negou a assinar.

Assinaram a carta contra a sanção da terceirização os senadores Marta Suplicy, Renan, Kátia Abreu (PMDB-TO), Eduardo Braga (AM), Helmano Ferrer (PI), Rose de Freitas (ES) e Hélio José (DF). A senadora Simone Tebet (PMDB-MS), que junto com Valdemir Moka (PMDB-MS), assinou com ressalvas, foi uma das que mais brigou na reunião contra a ideia da carta.

? Eu assinei para melhorar o projeto. O dia que a bancada do partido do presidente precisar de carta para falar com o governo, eu prefiro sair do partido ? disse Tebet, que escreveu ao lado da assinatura: ?Concordo com o conteúdo, mas manifesto minha contrariedade quanto a forma?.

? Assinei para dizer que é preciso melhorar o projeto, mas não sou contra a terceirização nem contra o governo ? disse Moka.

O senador Garibaldi Alves (PMDB-RN) , que se recusou a assinar a carta, disse que a reunião rachou os presentes, metade da bancada.

? Foi uma coisa constrangedora. Parte da bancada não assinou, a maioria por achar que o projeto que se encontra para sanção tem seus méritos e não pode ser todo derrubado, no máximo alguns vetos. O líder do governo Romero Jucá chegou no final para acalmar, mas não foi possível. Mas uma maioria frágil dos presentes assinou ? disse Garibaldi.

Renan também voltou a abrir fogo contra a proposta de reforma da previdência do governo. Repetiu que a bancada do PMDB é muito grande e não tem dono e que o governo deveria ter discutido melhor a proposta da reforma da previdência com o partido.

? Chama o PMDB para discutir!Temos que fazer a reforma possível, essa, é absolutamente exagerada. É uma proposta muito ruim do ponto de vista do equilíbrio federativo. Esmaga algumas regiões, trata desiguais como iguais ? bombardeou Renan.