Cotidiano

Após 3 meses do início do ano letivo, alunos da rede estadual do Paraná estão sem livros escolares

Quase três meses depois do início do ano letivo nas escolas da rede estadual de ensino do Paraná, há alunos que ainda não têm livro escolar. Por essa razão, algumas turmas precisam fazer rodízio do material. Para o dever de casa, os alunos levam cópias da atividade.

Os alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa, em Curitiba, precisam se desdobrar nas aulas de matemática. Para cinco turmas do 2º ano do Ensino Médio, que juntas têm 190 alunos, a escola tem apenas 70 livros da disciplina – ou seja, faltam 120 livros.

A situação se repete em outras matérias e com alunos de diferentes anos. A solução é compartilhar ou planejar as aulas sem a ajuda dos livros.

“Atrapalha bastante, até porque eu acredito que o livro é o professor lá na casa do aluno. Então se o aluno tivesse alguma dúvida, ele teria que ter um livro em casa, teria como estudar. Os alunos não têm como estudar em casa por conta disso, por conta de material”, afirmou a professora de matemática Ruane Bastita Leite.

A promessa era de que os livros chegassem à escola até o fim de março, porém, até agora, quase nada mudou.

“Desde a última visita que nós tivemos de vocês [da equipe de reportagem da RPC], o nosso quadro praticamente permanece inalterado. Da demanda de 500 títulos, nós obtivemos em torno de 40 obras”, disse o diretor Jaílson Neco.

Segundo a Secretaria Estadual de Educação (Seed), é o Ministério da Educação (MEC) responsável pelo fornecimento dos livros. O diretor do Colégio Estadual Lysímaco Ferreira da Costa contou que já fez o pedido, mas ainda não foi atendido.

Outra alternativa seria fazer o remanejamento dos materiais entre as escolas estaduais da cidade, isto é, o que sobre em uma poderia ser usado na outra. Entretanto, as sobras não atendem todo mundo.

“Essa troca se mostrou inócua uma vez que também outras escolas possuem carência do material. O professor, por exemplo, não pode explorar a tarefa de casa no dia a dia, o aluno, por conseguinte, não consegue se aprofundar nos conteúdos. Os prejuízos são de grandes proporções”, relatou o diretor.

“O livro é um auxílio do aluno. Todos nós temos direito do livro, e a gente não recebe”, afirmou a estudante de 15 anos Bianca Correia.

Conforme o MEC, das quase 1.200 escolas estaduais aqui do estado, 635 precisaram pedir mais livros. Em Foz do Iguaçu, no oeste, o Núcleo Regional registrou falta de livros em 80% dos colégios estaduais.

Aluno sem livro

O filho de Cledione Carvalho leva cópias de lições para o dever de casa. A Escola Estadual Santo Antônio, na capital paranaense, onde ele estuda, ainda não recebeu o material didático para 2017.

“Existe um livro para cada série – que é 6ª, 7ª e 8ª – para duas turmas de alunos dividir. Então, os alunos da turma da manhã dividem o mesmo livro com o turno da tarde. Está faltando livro para essas crianças trazerem para casa para fazer suas tarefas”, contou Cledione.

A cópia das tarefas foi uma solução improvisada para o problema e que só foi possível porque os pais voluntariamente doaram dinheiro para a escola poder comprar papel no início do ano, mas o papel já está acabando.

“Eu gerei um protocolo no MEC, foi ligado, e o MEC empurra para a Secretaria do Estado, e a Secretaria do Estado empurra para o Mec, e fica nesse impasse. E nós – professores, pais, alunos – estamos sofrendo por falta desses livros. Eu quero saber uma resposta da Secretaria do Estado: quando vão providenciar o livro”, disse Cledione.

O que dizem os órgãos

Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que a distribuição dos livros didáticos é realizada diretamente às escolas pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, do governo federal.

Além disso, de acordo com a Seed, os Núcleos Regionais de Educação, quando necessário, fazem o remanejamento de livros didáticos entre as escolas.

Já o MEC informou que faz os pedidos dos materiais didáticos com base no censo escolar do ano anterior. Como os pedidos foram feitos em 2016, os dados utilizados foram de 2015. Por isso, pode haver direrença entre o número de alunos estimados, com os que realmente foram matriculados.

No Paraná, o MEC já registrou a solicitação de remanejamento de mais de sete mil exemplares. O MEC ainda informou que foram solicitados mais de 200 mil exemplares no sistema de reserva técnica pelas escolas que detectaram falta de livros.

O pedido já foi analisado e, segundo o MEC, deve ser entregue às escolas em até 40 dias.