Dois suspeitos de envolvimento em um tiroteio que acabou com quatro pessoas mortas em Bom Jesus do Sul, na região sudoeste do Paraná, se apresentaram à Polícia Civil na quinta-feira (18) e afirmaram, em depoimento, terem reagido a disparos.
Segundo a Polícia Civil, a troca de tiros aconteceu por conta de uma disputa de terras no local entre um agricultor e um comerciante da cidade que disputavam uma área de 71 hectares que está em processo de inventário.
O crime aconteceu na terça-feira (15) e foi registrado por pessoas envolvidas na situação.
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De acordo com a Polícia Civil, o agricultor envolvido na disputa, Francisco Bini, e o genro dele foram até a delegacia acompanhados de advogados e falaram que o primeiro a fazer os disparos foi o comerciante Cláudio Silvestre, que morreu no local.
De acordo com o delegado, eles alegaram que os disparos eram para o agricultor, mas que o comerciante errou o alvo e acabou acertando o filho do homem.
“Vendo essa cena seu Francisco confessa que teria realizado a maior parte dos disparos por ver alguém atirando em seu filho. E também o outro investigado [genro] confessou que também teria atirado no Claudio em decorrência dele estar atirando no Rafael [filho do agricultor]”, falou o delegado.
Segundo ele, a Polícia Civil vai fazer uma perícia balística para identificar quem atirou em quem. Ao todo, a Polícia Civil contabilizou 32 disparos.
O agricultor e o genro não foram presos pois, segundo a polícia, não havia mais período para prisão em flagrante. Além disso, os dois vão responder em liberdade pois se apresentaram e não têm antecedentes.
Os advogados do agricultor e do genro não retornaram os contatos, enquanto a defesa do comerciante contestou a versão fornecida por eles em depoimento.
Outros depoimentos
De acordo com a Polícia Civil, outros envolvidos no caso também foram ouvidos. Um deles afirmou que a mulher do comerciante envolvido na disputa, Janaína Silvestre, estava armada e teria atirado contra um funcionário do agricultor.
O homem é uma das quatro vítimas.
Segundo a polícia, a versão bate com os detalhes vistos nos vídeos, mas se contradiz com o depoimento apresentado por outro sobrevivente da situação, amigo do comerciante.
No interrogatório, o homem disse à polícia que Janaína não estava armada. Ele chegou a ser preso depois do crime, mas foi solto na quarta-feira (17).
Procurada, a defesa do comerciante e da esposa dele afirmaram que ela não estava armada e que o equipamento teria ficado na caminhonete do casal, sendo depois utilizado pelo amigo da família para se defender.
Imagens
A discussão e a troca de tiros foram registradas por pessoas envolvidas na situação.
Em um dos vídeos, é possível ver o momento em que o comerciante Cláudio Silvestre chega de carro até o local e começa a brigar com um homem que está parado na estrada. O homem era funcionário do agricultor que disputa terras com Cláudio.
Dentro do carro do comerciante também está a esposa dele, que grava a cena.
Cláudio Silvestre se aproxima e começa a questionar o homem. “Pode sair tudo aqui, vocês estão proibidos pelo juiz”, ordena para o funcionário e o agricultor.
A discussão continua e o comerciante sai do carro. Depois de algum tempo e troca de acusações, o comerciante questiona se eles estão armados.
No momento em que o agricultor se afasta do carro e se aproxima da estrada, o comerciante começa a atirar.
Em outro vídeo, que foi gravado pelo amigo do comerciante e pode ser visto acima, o começo do tiroteio é registrado de um ângulo mais distante.
As imagens divulgadas na quarta-feira (16) mostram o momento em que Cláudio ergue a arma e faz os primeiros disparos.
As quatro vítimas do tiroteio foram veladas e enterradas na quinta.
Disputa por terras
De acordo com a polícia, a área de 71 hectares envolvida na discussão está em processo de inventário, e um comerciante e um agricultor da cidade alegam ter comprado a faixa.
As investigações apuraram que o agricultor plantou soja no terreno e cuidava da lavoura. O comerciante ficou sabendo da plantação e resolveu ir até o local para tirar satisfações.
“Ambos se diziam proprietários dessa terra. Era uma causa que já estava sendo analisada pela Justiça”, disse o delegado.
O caso é investigado.
Vídeo mostra momento do confronto — Foto: Polícia Civil