O frio mais intenso do ano trazido por uma forte massa de ar polar e a promessa de três geadas consecutivas na região Oeste do Paraná – hoje, amanhã e depois – prometem acabar com metade das lavouras de trigo em desenvolvimento no Núcleo Regional da Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) de Cascavel.
Serão 50 mil hectares do cereal em 28 municípios que podem se acabar nas lavouras até o fim desta semana. Isso vai representar, em produção, mais de 156 mil toneladas já que a estimativa inicial de colheita para quase 100 mil hectares era de 312.480 toneladas. “Se as geadas vierem moderadas ou intensas, só vão se salvar os 50% que estão em desenvolvimento vegetativo, o restante perde tudo”, afirma o técnico do Deral (Departamento de Economia Rural) João Pértille.
Somado a isso, as lavouras estão intensamente prejudicadas pela falta de chuva. “As lavouras de trigo estão sofrendo muito. Não conseguem se desenvolver porque não têm umidade e a chuva que caiu ontem foi insignificante. Agora esta ameaça de geadas consecutivas trará ainda mais prejuízo às lavouras”, segue o técnico.
Ontem a cotação do cereal era de R$ 36 à saca. Considerando este valor, a quebra no campo de 156 mil toneladas promete representar perdas de quase R$ 94 milhões.
Ontem o Iapar (Instituto Agronômico do Paraná) e o Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná) emitiram um alerta aos produtores. Trata-se do informe técnico sobre a previsão de geadas no Estado com destaque para o Oeste e a região cafeeira.
Para o Sul e Sudoeste do Paraná, o Simepar considerava risco para a chamada geada negra.
Vale lembrar que ela não é uma geada que pode ser vista, pois se trata de uma condição atmosférica que provoca o congelamento da parte interna da planta; devido ao frio intenso, a planta fica escura, queimada e morre. Isso só fica visível horas depois de sua ocorrência. Para o Oeste esta possibilidade é praticamente nula e, mesmo que se cofirmasse, o técnico do Deral reconhece que o risco às lavouras seria exatamente o mesmo que com a geada convencional.
Juliet Manfrin
Sensação de -4ºC
Ontem, por volta das 15h, Cascavel registrava 4ºC e a sensação térmica, segundo o Cptec (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos) do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisa Especial), era de -4ºC. Neste horário, a cidade registrava a segunda menor temperatura do Paraná, ficando atrás apenas de Palmas com 3,2ºC e sensação térmica de -5ºC.
Para hoje o frio deve ser ainda mais intenso. Logo pela manhã os termômetros devem chegar a -1ºC em Cascavel e a máxima não vai passar dos 14ºC. Amanhã a mínima e a máxima oscilam de 1ºC a 18ºC e na quinta-feira, de 6ºC a 22ºC.
A tendência é para que o frio comece a perder força gradativamente a partir do meio da semana. No domingo, por exemplo, a mínima a ser registrada em Cascavel será de 13ºC e a máxima vai beirar os 30ºC. JM
Nas hortas
As perdas nas horas também são consideradas certas. O pouco que deve se salvar são os hortifrutigranjeiros que estão nas estufas. “Mas este é um investiment6o alto e são poucos os que têm. Se as geadas vierem da forma como estão falando vai perder tudo. Alface, rúcula, agrião, nada se salva”, lamenta o agricultor Paulo das Neves.
O aumento de preço destes produtos já é dado como certo nas feiras e nos supermercados. “Eu levo para a feira e se não tiver para levar, não ganho nada e vou ter que investir mais para produzir novamente. São produtos que vão ficar raros no mercado então a tendência é aumentar de preço. Eu acredito que se perder tudo vá ficar uns 30% até 50% mais caro”, avalia. JM