Cotidiano

Brasil “inverte” valorização do ensino

País gasta pouco com ensino primário, mas tem investimento europeu em universidade

São Paulo – O Brasil é um dos países que menos gastam com alunos do ensino fundamental e médio, mas as despesas com estudantes universitários se assemelham às de países europeus, segundo a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O estudo Um Olhar sobre a Educação, divulgado ontem, a entidade analisa os sistemas educativos dos 35 países membros da organização, a maioria desenvolvidos, e de dez outras economias, como Brasil, Argentina, China e África do Sul.

O Brasil gasta anualmente US$ 3.800 (R$ 11,7 mil) por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental (até o 5º ano), menos da metade da quantia média desembolsada por ano com cada estudante nessa fase escolar pelos países da OCDE, que é de US$ 8.700. Luxemburgo, primeiro da lista, gasta US$ 21,2 mil/ano/criança.

Quem gasta menos

Apenas seis gastam menos com alunos na faixa de dez anos de idade do que o Brasil, entre eles a Argentina (U$ 3.400), o México (US$ 2.900) e a Colômbia (U$ 2.500). A Indonésia é a última: US$ 1.500.

Nos anos finais do ensino fundamental e no médio a situação não é diferente. O Brasil gasta anualmente a mesma soma de US$ 3.800 por aluno e também está entre os últimos na lista dos 39 países. A média nos países da OCDE nos últimos anos do ensino fundamental e no médio é de US$ 10,5 mil por aluno, o que representa 176% a mais do que o Brasil.

Ensino superior

A situação no Brasil muda em relação aos gastos com estudantes universitários: a quantia passa para quase US$ 11,7 mil (R$ 36 mil), mais do que o triplo das despesas no ensino fundamental e médio.

Com esse montante, o Brasil se aproxima de alguns países europeus, como Portugal, Estônia e Espanha, com despesas, respectivamente, por aluno universitário, de US$ 11,8 mil, US$ 12,3 mil e US$ 12,5 mil, e até ultrapassa países como Itália (US$ 11,5 mil), República Checa (US$ 10,5 mil) e Polônia (U$ 9,7 mil).

A média nos países da OCDE é de US$ 16,1 mil, puxada por despesas mais elevadas de países como Estados Unidos, Noruega, Luxemburgo e Reino Unido.

Os gastos no Brasil com alunos universitários também superam os da Coreia do Sul, de U$ 9.600. O país asiático, inclusive, que gasta um pouco mais com o ensino fundamental (U$ 9,7 mil), está entre os primeiros do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) da OCDE. O teste mede conhecimentos de estudantes na faixa de 15 anos nas áreas de ciências, matemáticas e compreensão escrita.

Já o Brasil está entre os últimos no teste do Pisa e apenas 17% dos jovens entre 25 e 34 anos têm diploma universitário, um dos índices mais baixos entre os países do estudo.

Os gastos com educação totalizaram 4,9% do PIB brasileiro, contra média de 5,2% dos países da OCDE.

Mais da metade não chegam ao ensino médio

Apesar de ter registrado avanços nos últimos anos, a educação no Brasil ainda apresenta dados insatisfatórios. É o que mostra o relatório Education at a Glance 2017 (Um olhar sobre a educação, em tradução livre), da OCDE.

Em 2015, mais da metade dos adultos, com idade entre 25 e 64 anos, não tinham acesso ao ensino médio e 17% da população sequer tinham concluído o ensino básico. Os números estão muito abaixo da média dos países da OCDE, que têm 22% de adultos que não chegaram ao ensino médio e 2% que não concluíram o básico.

Considerando que o ensino médio brasileiro tem duração de 3 anos e deveria ser cumprido entre os 15 e os 17 anos de idade, o Brasil também apresenta taxas muito abaixo da média dos outros países analisados no relatório. Apenas 53% dos alunos de 15 anos estão matriculados no ensino médio. Entre os alunos de 16 anos, 67% estão matriculados no ensino médio e, entre os de 17 anos, 55%. Na média dos países da OCDE, pelo menos 90% dos alunos entre 15 e 17 estão no ensino médio.

Dos adolescentes brasileiros que têm acesso ao ensino médio, só a metade conclui os estudos em três anos.

No Brasil, entre os jovens de 18 anos, menos da metade cursa o ensino médio ou superior. A taxa para os países da OCDE é de 75% de alunos de 18 anos, na mesma situação.

Crianças

Apesar de o Brasil já ter conseguido colocar praticamente todas as crianças de 5 e 6 anos na escola, a participação de crianças menores ainda está abaixo do esperado. Apenas 37% das crianças de 2 anos e 60% das de 3 anos estão na educação pré-escolar, dados inferiores aos das médias da OCDE que estão em 39% e 78%, respectivamente.

Diferença entre estados

Em relação à desigualdade no acesso ao ensino superior, no Brasil a disparidade entre os estados é a maior observada na pesquisa. Enquanto 35% dos jovens de 25 a 34 anos no Distrito Federal frequentam a universidade, no Maranhão a taxa é bem menor (7%).

Quase 75% dos estudantes brasileiros no ensino superior estão em instituições privadas, contra cerca de 33% da média dos países da OCDE. O relatório alerta que, nesse caso, a falta de mecanismos de financiamento estudantil pode ser um obstáculo.

Apenas 0,5% dos estudantes brasileiros estudam no exterior, percentual muito abaixo dos 6% da média da OCDE. Dos que saem do País, 31% vão para os Estados Unidos; 13% para Portugal; 10% para a França e 10% para a Alemanha.

Professores: baixos salários e envelhecimento

A falta de salários e o envelhecimento dos professores afetam a profissão, afirma o relatório, que cita a categoria como “a espinha dorsal do sistema educacional”. “Os salários dos professores são baixos em comparação com outros trabalhadores de tempo integral com educação similar. Esse é um grande obstáculo para atrair jovens para o ensino. Embora os salários aumentem de acordo com o nível de educação prestado, eles ainda estão entre 78% e 94% dos salários dos trabalhadores com formação universitária em tempo integral”, acrescenta o texto.

Brasil quer aderir à OCDE

O Brasil apresentou, no fim de maio deste ano, um pedido para aderir formalmente à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico. O governo brasileiro acompanha as atividades da OCDE desde 1994 e, em 2007, foi convidado a um “engajamento ampliado”, com vistas justamente a uma possível entrada na organização.

A solicitação brasileira segue-se à bem-sucedida execução do programa de trabalho que resultou no Acordo de Cooperação assinado entre o Brasil e a OCDE em 2015, no marco dos esforços do governo brasileiro para consolidar o desenvolvimento sustentável e inclusivo, com modernização da gestão e aproveitamento da larga experiência em políticas públicas comparadas da entidade.

Atualmente, o Brasi é considerado um “parceiro chave” da OCDE, que já tem, em sua composição, países emergentes, como México, Chile e Turquia. O pleito brasileiro será analisado pelo conselho da OCDE.