Brasília – Com a persistência da inflação em patamar alto e a volta do risco fiscal, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central elevou nessa quarta-feira a Selic (a taxa básica de juros) em 1 ponto porcentual, de 4,25% para 5,25% ao ano.
Esse foi o quarto aumento consecutivo dos juros e representa uma aceleração do aperto monetário. Nas três decisões anteriores, o BC havia subido a taxa em 0,75 ponto porcentual.
Com a decisão, a Selic está no maior patamar desde outubro de 2019 – antes da pandemia de covid-19. Com a crise sanitária, o BC fez um primeiro movimento no sentido de acelerar os cortes da taxa, que se manteve no mínimo histórico de 2% ao ano de agosto do ano passado a março deste ano. Em um segundo movimento, iniciado em março, o BC recomeçou a elevar a Selic, numa tentativa de controlar a inflação.
O aumento do juro básico da economia reflete em taxas bancárias mais elevadas, embora haja uma defasagem entre a decisão do BC e o encarecimento do crédito (entre seis meses e nove meses). A elevação da taxa de juros também influencia negativamente o consumo da população e os investimentos produtivos.
Os aumentos sucessivos da Selic são uma tentativa do BC de segurar a inflação no Brasil. A escalada dos preços de alimentos, combustíveis e energia elétrica fez com que os economistas do mercado financeiro já projetem inflação de 6,79% para 2021, conforme o Relatório de Mercado Focus. O documento é uma compilação feita pelo BC das projeções do mercado para os principais indicadores da economia.
O Copom fixa a taxa básica de juros com base no sistema de metas de inflação. A projeção do BC para a inflação já é superior ao teto da meta para este ano. O centro da meta para 2021 é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). Já a meta de 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%). O parâmetro para 2023 é de inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%).
Juro real
Com os quatro últimos aumentos da Selic, o Brasil voltou a registrar uma das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do mundo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em +2,52% ao ano. O País possui o segundo juro real mais alto do mundo, considerando as 40 economias mais relevantes. Atualmente, o País só registra uma taxa real inferior à da Turquia (+6,40%).
Decisão foi equivocada, afirma CNI
A CNI (Confederação Nacional da Indústria) considera “equivocada” a decisão do Copom, do Banco Central, de manter um ritmo expressivo de aumento da taxa básica de juros (Selic).
O presidente da CNI, Robson Braga de Andrade, diz reconhecer que a inflação se encontra elevada e requer atenção, no entanto, a pressão sob os preços são majoritariamente decorrentes de choques de oferta, como a desvalorização da moeda brasileira e a falta de insumos e matérias-primas.
“O controle da inflação de oferta via juros é menos eficaz e requer um forte desestímulo à atividade econômica em um momento em que a recuperação da economia ainda se mostra frágil. A taxa de desemprego ainda está próxima do pico histórico e a produção da indústria de transformação perdeu força ao longo deste ano apresentando queda em cinco meses no primeiro semestre”, explica Robson Andrade.
A expectativa da indústria é de que as pressões de custos serão reduzidas à medida em que o real se valorize e o mercado de insumos e matérias-primas se reequilibre. Em razão desse cenário, a CNI entende que as condições de crédito para consumidores e empresas deveriam continuar sendo de estímulo e a decisão por um quarto aumento da Selic é contrária a necessidade atual da economia, por desestimular a demanda e aumentar o custo do financiamento.