A mídia nos acostumou à banalidade do sexo. Ele é explícito e sem pudor. Dele se fala e se faz uso como um produto de consumo qualquer. As pessoas “fazem sexo” muitas vezes sem sequer saber o nome da outra pessoa. Aqui, a dimensão espiritual da sexualidade está ausente, porque a sexualidade foi coisificada.
Bert Hellinger trata do tema a partir de suas observações práticas no campo terapêutico. Ali se mostra que a sexualidade possui uma dimensão espiritual misteriosa que costuma escapar à nossa consciência consciente.
Quando olhamos para o encontro sexual desde uma perspectiva fenomenológica, o que temos? Nele se efetua de modo mais pleno a entrega. No movimento do ato sexual, cada um dos parceiros se entrega ao outro, renuncia ao seu ego para experimentar o mais intenso prazer humano possível: o orgasmo. Nesses breves instantes do orgasmo acontece a suspensão provisória do “eu” e em lugar dele surge, mesmo que também só por breves instantes, o “nós” da unidade do casal, da fusão dos corpos no gozo simbolizada pela penetração física de um corpo no corpo do outro.
A experiência de um “eu” que se dissolve em um “nós” que acontece no ato sexual é uma experiência metafísica de alcance espiritual, pouco importa se é casual ou se acontece entre um casal unido por laços de permanência como em um casamento. É um ato de transcendência que nos faz submergir na unidade vivida pelos movimentos ritmados dos corpos e da respiração até o instante do clímax.
Quando nos voltamos agora para a fenomenologia do ato sexual em busca da essência da vida de casal, o que temos? O encontro sexual é a prefiguração do significado mais profundo da vida compartilhada de casal. Com efeito, a vida de casal implica na entrega recíproca dos cônjuges, vivida de modo mais intenso no abraço sexual. A vida de casal implica também na construção da unidade, a criação de um “nós”, possível unicamente na medida em que cada parceiro renuncia ao seu “eu” individual.
A dimensão misteriosa do encontro sexual se faz presente sempre, seja em ato casual ou não. Com efeito, o clímax do orgasmo unicamente se faz possível àqueles que renunciam, ainda que por breves instantes, ao seu “eu” e se entregam produzindo um “nós”. Semelhante experiência vai muito além da perspectiva puramente biológica da reprodução. Ela é metafísica. Põe à luz algo espiritual, impalpável e, nesse sentido, algo “divino”, como diz Hellinger.
A banalização da sexualidade é, no fim das contas, a degradação do sagrado em nós. Nas próximas reflexões vamos aprofundar um pouco mais tanto o significado espiritual da sexualidade, quanto suas consequências quando exercida de forma leviana.
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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar.
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