Cascavel – Um estudo amplo realizado a partir de uma série de pesquisas pela CNT (Confederação Nacional dos Transportes) coloca a região oeste do Paraná em evidência numa rota do esquecimento quando o assunto é a conservação de rodovias federais, ou seja, de responsabilidade da União.
São pelo menos dois trechos de uma mesma BR que estão entre as 15 piores ligações rodoviárias brasileiras analisadas de 2004 a 2017.
Entre os trechos apurados pelo levantamento, que traz uma análise histórica, está a BR-163 entre Dourados (MS) até Cascavel – passando, portanto pelos 38 quilômetros em duplicação entre Toledo e Marechal Cândido Rondon, onde foram empenhados R$ 49,5 milhões no fim do ano passado para que as obras fossem retomadas, após meses de paralisação.
Os trabalhos foram retomados em fevereiro, mas muitas dúvidas pairam sobre o andamento e a conclusão da obra. Com apenas seis quilômetros duplicados e mesmo assim inacabados, um dos questionamentos feitos pela própria sociedade é de onde virão os R$ 200 milhões que ainda faltam para concluir as obras, pois não há previsão orçamentária para isso. A Superintendência do Dnit (Departamento Nacional de Transportes) no Paraná não respondeu aos questionamentos feitos pela reportagem.
Detalhe: a duplicação dos 38 quilômetros deveria ter sido entregue em outubro de 2017. Hoje funciona com aditivo de prazo, mas sem previsão de conclusão.
Essa mesma rodovia aparece em outro percurso, desta vez de Cascavel até o sudoeste do Paraná, na cidade de Barracão. Aqui também existe um trecho em duplicação, de 74 quilômetros até Marmelândia. Vinte deles foram entregues no fim do ano passado, mas agora a obra corre o risco de ser interrompida também por falta de recursos. Os trabalhos se concentram agora sobre a ponte do Rio Iguaçu. O Dnit também não explicou como está hoje a concentração das frentes de trabalho neste trecho, tampouco fala sobre a previsão orçamentária para a conclusão da duplicação.
R$ 5,8 bilhões só para solucionar os principais problemas
A CNT questiona: o que leva uma Ligação Rodoviária aparecer de forma frequente nas últimas posições da Pesquisa CNT de Rodovias durante 14 anos? Foi para responder essa pergunta que a Confederação produziu o estudo Transporte Rodoviário: Rodovias Esquecidas do Brasil. O levantamento selecionou as 15 Ligações Rodoviárias esquecidas das 109 avaliadas anualmente pela CNT. Como critério, adotou-se a regra de que a extensão deveria ser majoritariamente de jurisdição federal e que aparecesse por, pelo menos, quatro vezes entre as 20 últimas posições do ranking de classificação de Ligações da Pesquisa CNT de Rodovias nas edições publicadas de 2004 a 2017.
Durante esse período foram realizadas 13 pesquisas utilizando os mesmos métodos de avaliação, o que permitiu a construção de uma base de dados ampla o suficiente para verificar a evolução da qualidade das ligações selecionadas.
O presidente da Confederação Nacional do Transporte, Clésio Andrade, diz que a superação desses problemas requer fortes investimentos em infraestrutura. “O quadro apresentado pela CNT neste estudo é dramático, pois demonstra a incapacidade do Estado de promover a melhoria das rodovias brasileiras, o que leva a perpetuação das deficiências na infraestrutura de transporte”.
A conclusão mostra que as más condições das rodovias que compõem as ligações se devem ao baixo nível de investimento realizado pelo governo federal. Apesar de a maior parte dos recursos, 67,9% do orçamento público federal aportado especificamente nas Ligações, destinarem-se a ações de manutenção, o volume de recursos é insuficiente para promover a melhoria da qualidade oferecida aos usuários.
A CNT calcula que sejam necessários R$ 5,8 bilhões apenas para solucionar os principais problemas identificados nessas rodovias. Ou seja, para recuperar apenas as piores ligações rodoviárias do País, é necessário destinar a essas ações prioritárias o equivalente a 69,7% do recurso autorizado pelo governo federal para intervenções rodoviárias em 2017.
Vale ressaltar, que os valores identificados podem não representar a totalidade dos investimentos feitos nas rodovias em questão. Isso pode ocorrer pela falta de transparência do governo na divulgação dos dados e da falta de identificação correta das BRs onde houve aplicação de recursos.