Cascavel – Um estudo sobre a projeção da pandemia do novo coronavírus no País, no Paraná e em cidades da região, realizado pelos professores-doutores que atuam no Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química da Unioeste (Universidade Estadual do Oeste do Paraná) Daniela Estelita Goes Trigueros e Aparecido Nivaldo Módenes, traz um cenário bastante preocupante especialmente para Cascavel.
Dentre os municípios em que a projeção foi realizada estão Cascavel, Curitiba, Foz do Iguaçu, Londrina, Maringá, Ponta Grossa e Toledo.
Em Cascavel, com base no conjunto de dados observados até 7 de junho e as medidas vigentes, devem ser confirmados 10.279 casos de covid-19 até 15 de setembro. Segundo a projeção, o pico deve ocorrer entre 12 e 19 de julho. Outro fator que chama a atenção é que Cascavel também vai registrar o maior coeficiente de disseminação do vírus do Paraná. Considerando o número de casos por 10 mil habitantes, o Município terá disseminação sete vezes maior que Ponta Grossa e mais de três vezes o coeficiente de Curitiba (veja tabela).
Em Toledo, a Secretaria Municipal de Saúde analisa a projeção e pode utilizar os dados para pautar novas ações de enfrentamento da pandemia.
Paraná e Brasil
No Paraná estimam-se cerca de 68 mil registros da doença até 26 de outubro de 2020 com o coeficiente de disseminação de 60,37 casos por 10.000 habitantes. O pico no número de casos diários (860) deve ocorrer de 25 a 31 de julho de 2020 no Estado.
Já no Brasil, o modelo matemático foi utilizado como ferramenta preditiva para a curva de espalhamento considerando-se o comportamento de todas as curvas evolutivas simuladas para os países asiáticos e europeus, além dos Estados Unidos. Num cenário hipotético, estima-se cerca de 2,6 milhões de casos confirmados da covid-19 no Brasil até 4 de setembro de 2020, após 191 dias do início do surto.
Os autores ressaltam que esse cenário se confirmaria se a dinâmica da população brasileira, quanto à adoção de medidas de proteção e isolamento social, não sofrerem alterações significativas em relação ao que tem sido realizado até o momento.
Mortes
O estudo não faz projeções sobre óbitos pela doença: “Considerando-se que o número de mortes causadas pela covid-19 estão relacionadas à idade e às comorbidades de cada indivíduo infectado, além da infraestrutura médico-hospitalar de cada território afetado pelo surto da covid-19, não foi realizada simulação abordando os dados de mortes”.
MUNICÍPIO COEFICIENTE DE DISSEMINAÇÃO DA DOENÇA
Cascavel 325 casos confirmados por 10.000 habitantes
Toledo 157 casos confirmados por 10.000 habitantes
Londrina 101,22 casos confirmados por 10.000 habitantes
Curitiba 95,52 casos confirmados por 10.000 habitantes
Foz do Iguaçu 74,37 casos confirmados por 10.000 habitantes
Maringá 45,25 casos confirmados por 10.000 habitantes
Ponta Grossa 44,15 casos confirmados por 10.000 habitantes
Metodologia
O estudo é feito com base em um algoritmo heurístico de otimização, levando-se em conta o comportamento das curvas evolutivas de disseminação da covid-19 em países que já mostraram o comportamento bem definido do surto, segundo os dados de casos confirmados e disponibilizados pela Organização Mundial da Saúde.
O modelo se mostrou consistente ao reproduzir os dados epidêmicos observados na China, na República da Coreia, na Itália, na Espanha, na França, na Alemanha e nos Estados Unidos. A partir do modelo matemático, realizaram-se predições para Brasil, regiões e estados do território nacional, bem como alguns municípios do estado do Paraná.
As hipóteses utilizadas pelos professores para a formulação do modelo matemático foram: a curva evolutiva da propagação/transmissão da covid-19 é limitada pelo número total de habitantes; o número de pessoas com a confirmação da covid-19 representa uma parte variável no tempo em função do número de habitantes; a dinâmica do espalhamento da doença é dada pelo número de casos confirmados; nem todos os habitantes foram infectados pela covid-19, definindo um fator de distanciamento social temporário.
Os autores citam ainda que as medidas tomadas pelos governos são determinantes para o comportamento da doença: “Diante de observações das curvas pandêmicas de diversos países, verificou-se a ocorrência de fases de contágio que podem estar relacionadas às diferentes políticas adotadas. Assim, assumiu-se que o espalhamento da covid-19 ocorreria em duas fases de disseminação”.
Na primeira fase, a principal causa do espalhamento ocorreria devido ao trânsito de pessoas contaminadas oriundas de locais onde o surto encontrava-se em grau avançado. A segunda fase de propagação da doença ocorreria após o vírus estar difundido na região, e a taxa de espalhamento da covid-19 dependeria da constante de isolamento temporário das atividades sociais para evitar o contato com a doença.