Cascavel – O sábado que seria de folga para muitas pessoas em Cascavel e região serviu como oportunidade para dar apoio à manifestação iniciada por caminhoneiros há uma semana. “Fechei o comércio e vim manifestar apoio. Todos nós estamos pagando a conta e temos que provar para o Brasil que isso não é uma minoria radical”, reforçou o comerciante José de Andrade.
Ontem, em mais um dia de paralisação pelas rodovias do País, caminhoneiros em toda a região se mantiveram firmes nos protestos e disseram que permanecerão assim por tempo indeterminado, até que suas reivindicações sejam aceitas pelo governo federal. “Cargas vivas, ração e produtos perecíveis não estão no bloqueio, mas estamos pedindo aos nossos colegas de profissão e para a sociedade que auxiliem nesta luta que é de todos nós, venham para os pontos de protesto e engrossem a nossa voz“, reforçou o caminhoneiro Altair de Quadros, na PR-486 perto do trevo da Ceasa, em Cascavel, onde ontem pela manhã havia pelo menos 80 caminhões parados nas margens da pista voluntariamente.
A rodovia estava desobstruída, a exemplo da BR-277 no Trevo Cataratas onde o movimento era ainda mais intenso. Caminhoneiros, comerciantes, produtores rurais e outros apoiadores lotavam, mais uma vez, o pátio de um posto de combustíveis, os acostamentos e os espaços de estacionamento. A Polícia Rodoviária Federal acompanhava toda a movimentação que transcorreu sem imprevistos.
O caminhoneiro José Soares, que há 30 anos está nas estradas do Brasil, alertou para manifestações políticas que querem desarticular o movimento. “Eu fui autônomo e ‘quebrei’. Precisei voltar a ser empregado porque não aguentei os custos das estradas. O que está sendo pedido é para todos”, afirmou.
Ele disse ainda que o transporte coletivo e escolar não precisariam parar, “já que diesel tem nos postos”. “Querem colocar a culpa na gente por não ter ônibus nem aulas, mas diesel tem para abastecer”, reforçou.
Ontem cedo cargas perecíveis que estavam em caminhões câmeras frias foram liberadas para voltar para as unidades de carregamento ou de distribuição, mas cargas com combustíveis só deixam o piquete sob escolta. Segundo representantes do movimento, a liberação de cargas perecíveis ocorreu para os alimentos não se perderem. Um dos caminhões carregados foi substituído por outros dois vazios da mesma empresa.
Apesar de o governo acreditar que ontem o movimento seria enfraquecido, o que se viu, pelo menos no Paraná, foi um aumento de pontos de protesto em rodovias. Somente em trechos federais eram quase cem locais de protesto, em dez deles com interdição em meia pista. Os demais eram todos fora da pista. Os pontos de protesto em rodovias estaduais também ultrapassavam cem em todo o Estado, segundo informou a PRE (Polícia Rodoviária Estadual).
Exército de prontidão
Ontem o comando do Exército em Cascavel enviou nota à imprensa informando que, após a reunião na tarde de sexta do ministro da Defesa, Joaquim Silva e Luna, com os comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, com o chefe de Estado Maior em Conjunto com as Forças Armadas e com o comandante de Operações Terrestres do Exército, “ficaram definidas as atividades a serem desencadeadas pelas Forças Armadas, a fim de possibilitar o retorno à normalidade das atividades no País. (…) Na área de responsabilidade do Comando da 15ª Brigada de Infantaria Mecanizada, caso seja necessário, a tropa será empregada em reforço às ações federais e estaduais, disponibilizando meios em pessoal e material para: distribuição de combustível nos pontos críticos; escolta de comboios; proteção de infraestruturas críticas; desobstrução de vias e acessos às bases de distribuição de combustíveis e áreas essenciais, a fim de evitar prejuízos à sociedade”.
Os caminhões carregados com ração não estão sendo parados na região de Cascavel, assim como as cargas vivas.
Já o setor produtivo voltado à indústria alerta que os frigoríficos se manterão paralisados por falta de matéria-prima. Segundo o diretor da Frimesa, Elias Zorek, muitos animais prontos para o abate seguem nas propriedades e “neste momento dando despesas”. Isso porque os frigoríficos não conseguem abater e quase todas as unidades estão paradas desde terça-feira.
O Sindicombustíveis (Sindicato dos Revendedores de Combustíveis e Lojas de Conveniências do Estado do Paraná) informou que ontem 100% dos postos de Cascavel não tinham mais combustíveis.