Cotidiano

Inquéritos investigam empresas da região

Santa Tereza do Oeste – As suspeitas de que a mobilização dos caminhoneiros possa ser uma articulação conhecida como locaute – quando os patrões param as atividades – resultaram na abertura de diversos inquéritos. Isso porque a prática é proibida no Brasil e justificaria a dificuldade do governo em negociar o fim da greve: os verdadeiros articuladores estariam agindo de maneira oculta.

Nos bastidores dos protestos, o que se fala é da perda de controle daquele que seria o comando central. Líderes regionais reforçam que, apesar de ter sido atendida a maioria das reivindicações, o surgimento de comandos descentralizados mantém a greve com o aparecimento de novas reivindicações, sem pauta nem específica. “O aparecimento de outros líderes com pautas diversas têm dificultado o diálogo. Saímos confiantes na noite de domingo do Palácio Iguaçu de que a greve chegaria ao fim, mas na manhã desta segunda vimos que não aconteceu. Agora seria preciso unificar o discurso e ter bom senso, pensar no coletivo”, reforçou um líder que participou do encontro em Curitiba no domingo à noite.

Os protestos resultam em prejuízos bilionários para o campo e para a indústria e a economia como um todo tem reflexos diretos.

Segundo o apurado pela reportagem, outro ponto de divergência se refere aos dados do protesto. As informações que chegam ao comitê de crise no Estado não correspondem à realidade. No caso de Cascavel, por exemplo, o comitê fora informado de diversos bloqueios, inclusive com caminhões com ração parados em toda a região. Só que desde a semana passada o Jornal O Paraná tem encontrado os caminhões circulando normalmente, inclusive indo a granjas para deixar alimento para os animais. No fim de semana a equipe registrou os veículos transitando pela BR-277.

Entidades apelam para o fim da greve

A greve ganhou corpo com o apoio de dezenas de entidades e do setor produtivo, o qual começa a se desfazer agora. Entidades como Caciopar, que reúne 46 associações comerciais, o G8, grupo que reúne oito principais entidades de classe de Cascavel, vieram a público pedir “bom senso” aos manifestantes. O setor produtivo tem acumulado perdas bilionárias. Somente a indústria na região oeste deixa de movimentar cerca de R$ 100 milhões por dia, além dos plantéis de suínos e de aves que já deveriam ter sido abatidos, e milhares de litro de leite jogados fora todos os dias.

Quanto às aves, cujo abate está suspenso há uma semana, a situação fica ainda mais crítica nesta semana. Isso porque os lotes que deveriam ter sido abatidos e que continuam confinados podem não resistir por mais de 15 dias, apesar de a maioria estar recebendo alimentação.

Já os suínos sobrevivem mais tempo. “Mas esses animais desde então só dão prejuízo no campo”, alerta o diretor da cooperativa Frimesa, referência em cortes suínos, Elias Zorek. Ele também é o vice-presidente do Programa Oeste em Desenvolvimento e de Agronegócio da Caciopar.

Desde o fim da semana passada essas entidades vêm alertando sobre os prejuízos que se acumulam dia após dia com a paralisação das indústrias. Na região, todos os frigoríficos estão parados e pelo menos 20 mil trabalhadores estão em casa.

As cooperativas consideram que os prejuízos acumulados dificilmente serão recuperados neste ano e a crise, que parecia estar indo embora, deverá ser perpetuar.

Liminar garantirá abastecimento de combustíveis

O primeiro segmento a sentir os efeitos da greve foi o de combustíveis. Ontem, o presidente do Sindicombustíveis, Roberto Pellizzetti, disse que o interior do Estado havia conseguido liminar na Justiça garantindo a circulação e o fornecimento de combustíveis.

Os caminhões devem chegar à região escoltados pela polícia. Mas até o fim da tarde de ontem ninguém tinha previsão de quando chegariam a Cascavel e região. “A prioridade é abastecer veículos da polícia, ambulâncias. Depois que os caminhões estiverem trafegando normalmente, em dois dias todos os postos estarão abastecidos”, reforçou.

“Apoiamos a greve porque estamos no mesmo barco que os caminhoneiros, mas agora o que se espera é bom senso, manter os pés no chão. Conseguiu-se avanços importantes e agora precisa haver racionalidade”, destaca Pellizzetti.

Ontem a governadora Cida Borghetti anunciou a liberação do transporte de combustível em todo o Estado. A medida vale para todos os derivados do petróleo: gasolina, etanol, óleo diesel e gás de cozinha.

Cesta básica: variação de preço de até 175%

O Cepecon (Centro de Pesquisas Econômicas e Aplicadas) da Unila divulgou a variação dos preços da cesta básica em Foz do Iguaçu durante a paralisação dos caminhoneiros. A maior variação foi no repolho, com aumento de 175%. A batata subiu 169%. Já o tomate e a cebola tiveram aumento de 68% e 56%, respectivamente. A coleta de preços foi feita de 21 de maio (1º dia da greve) e na sexta-feira (25), em seis supermercados de Foz.

Entre as frutas, a banana caturra aumentou 88,8%, a laranja teve alta de 87% e o mamão, 34,1%. O preço do ovo variou pouco mais de 45%. Nas carnes, a costela bovina aumentou 8,2% e o acém, 7,2%. A pesquisa não conseguiu registrar variação de alguns itens – como cenoura, frango resfriado, músculo e ponta de peito -, que estavam em falta em alguns supermercados na sexta.

O reajuste teve impacto direto no IPC-Foz (Índice de Preços ao Consumidor) do mês de maio, que apresentou um aumento de 2,9% em relação ao mês anterior. Este é o maior índice desde que o IPC-Foz começou a ser calculado pelo Cepecon, em setembro de 2017.

Comércio protesta; entidades contestam

O comércio de Cascavel fechou as portas ontem à tarde e promoveu uma carreata pela Avenida Brasil. No fim da manhã, a Acic e o G8 se manifestam contrários ao protesto. Para as entidades, “o Brasil precisa voltar a trabalhar e a produzir para minimizar perdas que já são bilionárias. A Acic pede aos empresários que não fechem e que não liberem seus colaboradores para participar de qualquer ato em apoio à mobilização”.

“A associação comercial concorda com reformas estruturais urgentes e com estado mínimo e eficiente. A entidade não apoia qualquer excesso ou radicalismo. A hora pede discernimento, união e humildade”.

Paraná reduz base de cálculo do ICMS do diesel

A governadora Cida Borghetti anunciou domingo à noite a diminuição e o congelamento da base de cálculo do ICMS que incide sobre o óleo diesel. A partir de 1º de junho a base para calcular o imposto será R$ 2,95 e o valor valerá por 90 dias. A redução é de R$ 0,25 sobre a base atual e deve representar uma queda de aproximadamente R$ 0,04 sobre o preço do combustível na bomba.

A decisão foi comunicada durante reunião com líderes empresariais e representantes do movimento dos caminhoneiros do Paraná, no Palácio Iguaçu.

Em reunião prévia com caminhoneiros, a governadora destacou a disposição para o diálogo. “Estamos todos do mesmo lado, mas não podemos cometer nenhuma irresponsabilidade”, afirmou.

Cida agradeceu o empenho do movimento na liberação de produtos essenciais para o funcionamento dos serviços públicos, principalmente de segurança e saúde.

O presidente da Ocepar, José Roberto Ricken, afirmou que o setor produtivo compreende e considera as manifestações legítimas, mas está apreensivo com a continuidade da greve.

Medidas

A governadora também anunciou linhas de crédito com juros mais baixos para a compra de caminhões e de insumos para veículos pesados. Os financiamentos serão disponibilizados pela Fomento Paraná e BRDE (Banco Regional de Desenvolvimento Econômico). Outra medida foi a suspensão de voos de autoridades em aeronaves do Estado. Os aviões ficarão à disposição para transporte de órgãos e pacientes.

Suspenso pedágio

Outra reivindicação dos caminhoneiros, o fim da cobrança de pedágio de eixo erguido, quando os veículos estão vazios, começou a valer ontem nas estradas do Paraná.

Fiep faz apelo por fim da greve

O presidente da Fiep (Federação das Indústrias do Paraná), Edson Campagnolo, faz um apelo para que os caminhoneiros tenham bom senso e encerrem a manifestação. “Desde o início do movimento a Fiep afirmou que as reivindicações eram justas e defendeu que o governo federal buscasse soluções. Entendemos que as medidas anunciadas neste domingo atendem à pauta de reivindicações dos caminhoneiros e, por isso, não há motivos para a continuidade dos bloqueios nas rodovias”, afirma.

Para Campagnolo, os prejuízos causados para a indústria são incalculáveis, já que quase todo o parque fabril paranaense interrompeu suas atividades e tem seu faturamento fortemente comprometido. Mais do que isso, os danos sociais podem ser irreparáveis. “A economia pede socorro, o desabastecimento já é generalizado, não apenas de combustíveis, mas também de alimentos. Escolas, creches e hospitais já têm suas atividades afetadas e estamos com o caos instalado”, diz.

Medidas anunciadas pelo governo federal domingo
Redução no preço do diesel de R$ 0,46 por litro por 60 dias;
Reajustes mensais do diesel com anúncio prévio;
Medida provisória para isenção de cobrança do eixo suspenso nos pedágios de rodovias federais, estaduais e municipais.
Medida provisória para garantir aos caminhoneiros autônomos 30% dos fretes da Companhia Nacional de Abastecimento;
Preço mínimo para os fretes.