Jean Renald Charlotin chegou ao Brasil em 2013. Seu pai e irmãos escolheram viver na França, já ele preferiu terras brasileiras. “No Haiti, na nossa educação básica, estudamos a história do Brasil, de como o País se tornou independente de Portugal. Além disso, o futebol brasileiro é uma das nossas grandes paixões. Muitos haitianos sonham em conhecer o Brasil”.
Já no Brasil, o jovem que falava inglês e francês teve algumas dificuldades como a tradução dos documentos de imigração para conseguir trabalho e dar sequência aos estudos. Preferiu então cursar novamente o ensino médio pelo Ceebeja (Centro Estadual de Educação Básica de Jovens Adultos), experiência que lhe oportunizou o conhecimento sobre a educação pública brasileira.
Em quatro meses no Brasil, Jean já se comunicava em português.
Escolheu o Centro FAG para estudar Letras. “No ensino médio brasileiro eu me apaixonei pela literatura brasileira. Gosto de ler, escrever, de opinar e tudo isso eu encontro no curso de Letras.”
Jean conta que agora tenta tirar a cidadania para, enfim, poder atingir o seu objetivo de trabalhar como professor no Estado. “Quero ser professor de Português e Inglês, e aplicar uma metodologia com meus alunos para que eles sejam capazes de se expressar na língua inglesa. Também sonho em ter uma escola de idiomas”.
No Brasil, o haitiano tem um projeto voluntário de aulas de francês para crianças que são atendidas pela Cáritas Arquidiocesana de Cascavel. Também leciona sua língua nativa em uma escola de idiomas da cidade, além de trabalhar em uma cooperativa agroindustrial.
Saudades da terra natal ele tem, mas confessa que não deixa mais o Brasil. “Penso em voltar para o Haiti para visitar. O Brasil é a minha segunda terra e eu amo viver aqui”.
A imigração haitiana
O Haiti é considerado o país mais pobre das américas e que é abalado por crises econômicas, políticas e sociais. O cenário foi agravado por um terremoto que devastou o país em 2010 e pelas consequências do furacão Matthew em 2016, e mais recentemente pelos protestos na capital Porto Príncipe, em 2019.
O Brasil lidera desde 2004 a Missão da ONU para estabilização do Haiti. A convivência com os militares de boinas azuis levou ao estreitamento das relações entre brasileiros e haitianos. Muitos escolhem o Brasil para oportunidades de trabalho, alavancadas em 2014 pela preparação estrutural para sediar a Copa do Mundo.