Cotidiano

Mais corrupção no Rivieira

O Conjunto Residencial Rivieira, no Bairro Floresta, sagra-se como um dos mais polêmicos de Cascavel e ontem esteve mais uma vez entre os assuntos mais importantes da Câmara de Vereadores. Em 2013, o mesmo residencial foi alvo de uma ação que resultou na prisão do ex-vereador Paulo Bebber, condenado a dois anos e 11 meses e multa de R$ 11 mil – cumpridos em liberdade – por obtenção de vantagem ilícita ao ocupar cargo de vereador.

Bebber esteve envolvido em uma gravação onde fala sobre a cobrança de “500 paus” (R$ 500 mil) para aprovação do loteamento onde está o Conjunto Rivieira. E se os políticos não dão exemplo, parte da população faz o mesmo.

Denúncias de invasão, aluguel irregular e vendas de casas chegaram até os parlamentares Sebastião Madril (PMB) e Jaime Vasatta (Podemos), que acionaram a Caixa e a Cohavel (Companhia Habitacional de Cascavel).

Foram mais de três anos para a construção das 2.089 unidades habitacionais, entregues pela prefeitura ano passado. Menos de um ano, já foram repassados pela Caixa 61 casos de supostas vendas irregulares de moradias ou ocupação irregular.

Diante do tamanho do empreendimento imobiliário, as autoridades confirmam dificuldade para fiscalizar o uso adequado das habitações, mas, diante do volume de denúncias, a Cohavel pretende fazer uma espécie de “força-tarefa” para conferir a devida ocupação. “Temos uma equipe de fiscalização que verifica as denúncias residência por residência para apontar os problemas. No entanto, são 3,5 mil residências em todo o Município [considerando outros empreendimentos, como os conjuntos Gralha Azul, Quebec e Pazinatto]. Por isso, faremos uma força-tarefa parar para verificar as situações irregulares. Vamos paralisar outros serviços para agir de maneira mais intensa nesses”, diz Nei Haveroth, presidente da Cohavel.

 

Notificação

Todos os 61 casos irregulares que chegaram por meio de denúncias estão em andamento na Justiça, conforme o gerente de habitação da Caixa, Itamar Mion. Embora os casos foram relatados ainda no início do ano, apenas agora a maioria dos contemplados que cometeram a ilegalidade foi notificada: impasse gerado pela demora na atuação dos Correios no Rivieira. “Não era feito o serviço de entrega de correspondências. Para que os processos seguissem o rito, era preciso a notificação via AR [Aviso de Recebimento]. Só efetivamos as notificações aos 61 denunciados em 25 de julho, quando começou o serviço de correspondência”, afirma Mion.

Em alguns casos, a notificação ocorreu com serviços particulares de notificação, porém o custo gerado inviabilizou a ação, por isso, foram oito meses de total “congelamento” do trabalho de retirada de invasores ou averiguação de vendas irregulares.

A desocupação dos imóveis por quem supostamente burlou as regras do Programa Minha Casa, Minha Vida depende de decisão da Justiça.

 

“Isso é um crime”

Um dos posicionamentos mais contundentes na tribuna sobre as irregularidades constatadas no Conjunto Rivieira foi do vereador Damasceno Júnior (PSDC), que também recebeu denúncias de moradores.

Ele afirma que alguns imóveis chegaram a ser ofertados por R$ 10 mil – em alguns casos, famílias com até três casas foram contempladas pelo Programa Minha Casa, Minha Vida. “Os imóveis deveriam ser para quem não tem onde morar. Isso é um crime. É igual bandido que mata e no outro dia esta na rua”.

 

Falsidade ideológica

O gerente de habitações da Caixa, Itamar Mion, garantiu que os beneficiados fizeram um cadastro em que assinaram um termo de responsabilidade, onde revelaram rendimentos mensais e condições habitacionais. “Quem agiu de má-fé vai responder a Justiça Federal, inclusive por falsidade ideológica, caso as informações sejam falsas. No entanto, é preciso perguntar: não seria mais fácil as pessoas não cometerem esse ato de desonestidade? Tanto a Caixa, quanto o Município e a sociedade têm ônus nesse problema”.

 

Cobrança abusiva

Os valores dos condomínios cobrados dos moradores para a manutenção do Conjunto Rivieira também foram questionados: as taxas variam de R$ 40 a R$ 120.

Outras irregularidades foram apontadas por Aldonir Cabral (PDT), que repassou documentos ao vereador Alécio Espínola (PSC). “Estão impondo muitas despesas”.

Nei Haveroth, presidente da Cohavel, diz que a cobrança é legal e que os moradores devem exigir notas fiscais e transparência dos síndicos.