Curitiba – Um grupo formado por representantes de entidades do setor produtivo, concessionárias das ferrovias (Rumo e Ferroeste), do governo estadual e de empresas de engenharia e projetos na área de infraestrutura quer discutir uma nova metodologia para um projeto que visa melhorar as ferrovias do Estado: o Plano Ferroviário Paranaense. O objetivo é adotar um novo modal para fazer o transporte de cargas, com logística mais eficiente e tarifas mais baixas, para tornar o Paraná mais competitivo.
De acordo com informações do Porto de Paranaguá, em 2020, o terminal deve operar 54 milhões de toneladas de cargas. E, até 2030, estima-se que a quantidade deve ultrapassar os 75 milhões. Hoje, só 20% das cargas são movimentadas por trem, enquanto o restante é levado por caminhões. Diante das previsões, uma melhor logística no Estado e o desenvolvimento de um novo modal para fazer o escoamento de produtos é fundamental. Mas as ferrovias paranaenses têm capacidade limitada e alguns gargalos precisam ser resolvidos com prioridade.
Um entre Guarapuava e Curitiba, e na Serra do Mar, entre a capital e Paranaguá, onde a velocidade das locomotivas fica muito lenta, abaixo dos 15 km/hora. Outro ponto envolve questão de rentabilidade, no trecho entre Cascavel e Guarapuava, operado pela Ferroeste. A partir de Guarapuava, a ferrovia passa ser controlada pela Rumo, que prioriza, em função de um menor custo operacional, cargas vindas de Maringá e Londrina, dificultando o escoamento de produtos da região oeste do Estado. Atualmente, 95% da produção do oeste paranaense chega ao Porto de Paranaguá por caminhões.
O transporte de cargas por trens reduziria custos com frete e pedágio, descongestionaria as rodovias que cortam o estado, diminuindo o risco de acidentes e oferecendo mais segurança aos usuários. Outra vantagem é a diminuição no impacto ambiental, com emissão de menos poluentes na atmosfera.
Outras opções, como a navegação por cabotagem – entre portos de um mesmo país -, e a horizontalização de cargas – circulação de outras mercadorias utilizando o modal ferroviário – também estão sendo avaliados no projeto.
Funcionamento
Pela proposta do Plano Ferroviário Paranaense, estão sendo formados diferentes grupos de trabalho, divididos em três frentes, com metodologia definidas em curto, médio e longo prazos. A ideia é construir um modelo único de projeto que contemple todas as áreas envolvidas.
Um deles seria na área de modelagem, para definir a melhor forma de exploração das ferrovias, fazer estudos de origem e destino de cargas, avaliar a demanda e definir investimentos. Outro vai debater questões ligadas à solução de gargalos, de engenharia, novos traçados e licenças ambientais. E um terceiro, temas regulatórios, questões de tarifas, monopólios, compartilhamento de linhas, concessões e licitações.
Agora em agosto, será marcado um primeiro encontro para debater o tema modelagem. “Também este mês temos prevista uma missão internacional, junto com representantes do governo federal, para as cidades de Washington e Chicago, nos Estados Unidos, e Montreal, no Canadá, para conhecermos melhor os sistemas de operação, segurança e comunicação das ferrovias, o modelo regulatório e de cobrança de tarifas nestas localidades”, adianta o coordenador do Conselho de Infraestrutura da Fiep, Edson Vasconcelos.
Estratégia para o aumento na produção
O assessor especial do governo do Paraná, Luiz Henrique Fagundes, garante que o executivo está fortemente comprometido com o desenvolvimento e a melhora na infraestrutura do Estado. “A situação atual já não suporta as demandas da sociedade e dos setores produtivos, muito menos as futuras necessidades. A superação da deficiência estrutural da atual malha ferroviária é de extrema importância para o desenvolvimento e terá especial atenção dentro de uma visão integrada, ambiental e socialmente responsável, e alinhada com as iniciativas de âmbito federal”, informou.
“O transporte por caminhões continuaria sendo utilizado, porém para fazer prioritariamente o transporte em curtas distâncias, por exemplo, das indústrias e cooperativas até as ferrovias”, explica o consultor de Infraestrutura da Fiep, João Arthur Mohr.
O superintendente da Ocepar, Robson Mafioletti, concorda que a aposta em um novo modal traria muitos benefícios para o agronegócio paranaense, cuja produção este ano atingiu a marca de 37 milhões de toneladas. “Com um volume de grãos tão alto num produto de baixo valor agregado como o nosso, o impacto do preço do frete é muito grande. Em países desenvolvidos há uma maior capilaridade logística para escoamento de produtos. Aqui, no Brasil, a dependência do transporte rodoviário ainda é muito grande. Como representante das 220 cooperativas do Paraná, sendo 70 delas ligadas ao agronegócio, vemos com bons olhos e apoiamos a construção deste plano ferroviário conjunto, que vai tornar nossos produtos muito mais competitivos”, resumiu.
“Iniciativas como essa são extremamente importantes para construção do Plano Ferroviário Paranaense. É a oportunidade que todas as entidades têm de debater para construir o futuro das ferrovias no estado”, completa Giana Custódio, gerente de Relações Governamentais da Rumo Logística.