Com a pandemia da Covid-19, o fluxo do Hospital Universitário do Oeste do Paraná (Huop) sofreu adequações. Houveram também outras mudanças, como o espaço físico construído para a futura Ala de Queimados, que precisou ser estruturado em uma corrida contra o tempo para atender possíveis vítimas da doença. São 75 dias da Ala Covid-19 na unidade hospitalar, desde a admissão do primeiro paciente, no dia 21 de março. “Estávamos preocupados com relação à transmissão, mas ao mesmo momento com o melhor cuidado e com a estruturação da ala para que não faltasse nada”, diz o coordenador da Enfermagem da Ala Covid-19, Joabe Ferreira. “Foi uma força-tarefa conjunta para organizar, mobiliar, identificar onde entraria o paciente, onde ficariam os materiais e fazê-la funcionar”, complementa o coordenador de Medicina da Ala Covid-19, Gabriel Kreling.
Até agora já passaram pela ala mais de 100 pacientes confirmados ou suspeitos da doença. Todos foram encaminhados através da regulação, ou também através da triagem prevista no plano de contingência da unidade hospitalar. “Criamos um fluxo e uma triagem que são essenciais para evitar a contaminação de outros pacientes e profissionais. Foi uma logística que precisamos mudar em pouco tempo”, explica Gabriel.
TREINAMENTOS
De acordo com o médico, a segurança envolve também quem está na linha de frente, diretamente da Ala Covid-19. “Realizamos diversos treinamentos contínuos para que toda a equipe multidisciplinar tenha um ambiente de trabalho seguro e segurança no que estão desempenhando. Estamos sempre prontos para atender pacientes intensivos, porém, é necessário um preparo maior principalmente por conta da paramentação”, afirma Gabriel.
O treinamento é multidisciplinar, realizado para médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, além de fisioterapeutas. “Todo dia sai algo novo e então discutimos bastante para proporcionar o melhor atendimento ao paciente. E é importante tudo isso para que possamos enfrentar com segurança”, diz a coordenadora da residência de Fisioterapia Hospitalar, Juliana Hering Genske.
RESIDENTES
É comum que pacientes acometidos pela Covid-19 precisem de cuidados intensivos, além disso, necessitem de atendimento em diversas especialidades. Isso representa uma oportunidade única de aprendizado para quem é residente. “A cada dia saem mais casos, vamos conhecendo melhor, e somos sempre orientados para que tenhamos segurança. É uma oportunidade única”, diz. Além da segurança, é preciso lidar também com as emoções nesse período. “Tem dias que temos o desejo de parar, pois não é um plantão fácil. Passamos por várias experiências emocionais diferentes e sofremos junto com o paciente por questão do distanciamento. É angustiante ver o quanto estão sofrendo e por muitas vezes passamos por esse mix de emoções”, comenta o residente da Cardiologia, Paulo Henrique Pessali Dalmaso.
EQUIPAMENTOS
Para estruturação da Ala Covid-19, mobilizou-se uma força tarefa com todas as equipes e direções do hospital, com objetivo de organizar o local para receber os pacientes. Segundo o coordenador de enfermagem, Joabe Ferreira, a estruturação do espaço aconteceu durante o trabalho. “Estive no primeiro plantão, e nessa época ainda faltavam computadores, algumas prateleiras. Então precisamos identificar as demandas e organizar”. Enfatiza.
Hoje estruturada, a ala conta com planejamento de ampliação de leitos e atendimentos, seguindo o acordado com a secretaria de estado de saúde e anunciado pelo Governador Carlos Massa Ratinho Junior em visita ao hospital. A unidade conta com ultrassom, raio-x, hemodiálise, dentre outros, que estão alocados em outros espaços do hospital, mas são exclusivos para estes pacientes e auxiliam na agilidade de exames. São 10 leitos de UTI e 20 de enfermaria instalados, mas com a chegada dos novos equipamentos, serão habilitados novos 10 leitos de Unidade de Terapia Intensiva – UTI.
VOLUNTÁRIOS
A escala da equipe médica, de enfermeiros e fisioterapeutas também foi realizada em pouco tempo, para receber o primeiro paciente. Na equipe de Enfermagem, os profissionais se voluntariaram para atuar na Ala Covid-19. No primeiro dia eram 13 técnicos e 5 enfermeiros que faziam parte da escala, todos voluntários. “Foi muito gratificante essa conversa e essa missão que eles se propuseram a enfrentar. Temos obtido também muitos resultados positivos, um exemplo é que não tivemos nenhum caso de sintomas, e isso significa que a equipe está entrosada e prestando atenção nos cuidados”, diz a Diretora de Enfermagem do Huop, Sara Treccossi.
Com o tempo novos profissionais de saúde foram se voluntariando, conforme a demanda de pacientes. Com a abertura de novos leitos, novos profissionais também devem integrar à equipe. “A intenção é de que todos sejam voluntários”, afirma Sara. Conforme a resolução da Anvisa, para os leitos de UTI, a cada 2 pacientes deve haver um técnico de enfermagem, um enfermeiro para cada 10 leitos, e mais um técnico de enfermagem por unidade para apoio.
Quem se voluntariou foi a enfermeira Lizandra de Oliveira Ayres. Ela também esteve na linha de frente na época da pandemia da H1N1, e nesse momento, comenta sobre a coragem e força de vontade em poder ajudar. “Sempre gostei do cuidado com pacientes graves, então fiquei na montagem e estive recebendo o primeiro paciente. Não tive medo, sei das responsabilidades quanto à paramentação e rotina”, afirma.
E a única preocupação de toda a equipe nesse momento é com o aumento do número de casos. “Precisamos estar preparados, pois há maiores chances de internações, e até mesmo identificação de possíveis pacientes ainda na triagem”, finaliza Joabe.