NO CAMPO

Chuva ameniza situação, mas não impede projeção de perdas

Foto: Arquivo/Copacol
Foto: Arquivo/Copacol

Cascavel – A chuva registrada nesta semana amenizou o calor e deixou o solo um pouco mais úmido, porém, insuficiente para evitar perdas nas em parte das lavouras de soja já bastante castigadas e em fase de germinação neste começo de ciclo de plantio nos municípios do Oeste do Paraná. Em muitas áreas, as precipitações pluviométricas de intensidade moderada foram absorvidas rapidamente pelo solo, similar a uma esponja em contato com a água.

Diante dessa situação, as perdas são inevitáveis, pois algumas sementes necessitavam de cobertura hídrica em determinado período, o que não ocorreu. Números mais precisos sobre os prejuízos deverão ser divulgados nos próximos dias pelo Deral (Departamento de Economia Rural) da Seab (Secretaria Estadual da Agricultura e Abastecimento).

Boa parte dos produtores rurais demonstra preocupação com o clima. Essa falta de chuvas em momentos importante na fase de desenvolvimento da planta, que é a germinação, vai refletir nos números finais de produção no Oeste e também no Paraná.

Cenário incomum

De acordo com o produtor rural João Henrique Caetano, da comunidade de Jangadinha, interior de Cascavel, a seca é um problema que tem causado preocupação. Nesta semana, antes da chuva, ele esteve na lavoura acompanhado por engenheiros agrônomos de uma cooperativa da região para realizar uma avaliação prévia do desenvolvimento das plantas. “Onde plantei e em seguida, choveu, a germinação atendeu as expectativas, ao contrário dos dias sem chuvas, que levam a planta a sofrer”, descreve o agricultor.

João Caetano semeou uma área na quarta-feira da semana passada, na esperança de chover, já que as previsões apontavam para que isso ocorresse. Porém, a previsão meteorológica não se conformou na última semana, fato raro, mas possível de acontecer. “As previsões mudaram no mesmo dia”, lamentou. Segundo ele, trata-se de um cenário incomum e quando ocorre, prejudica muito o desenvolvimento da cultura.

40% da área

Conforme informações apuradas junto ao Deral, a semeadura de soja já chega a 40% da área projetada para a safra 2024/25.  A área projetada para plantio é de 5,8 milhões de hectares. Conforme informações do Departamento de Economia Rural, até terça-feira, o Oeste há havia semeado 85% da área, ou seja, algo em torno de 880 mil hectares de soja. Segundo a economista do Deral, Jovir Esser, municípios da região Oeste enfrentam situações distintas.

As áreas pertencentes ao núcleo da Seab de Toledo, em direção a Guaíra, nos municípios lindeiros ao Lago de Itaipu, o percentual de plantio se encontra bem mais avançado. Já o núcleo de Cascavel, nos municípios circunvizinhos, o percentual com áreas com atraso de plantio predomina. “Neste começo de ciclo, o produtor imagina que pode ter prejuízos por conta desse clima seco, especialmente depois do plantio, no entanto, nesse momento, ainda não é possível identificar qual será esse percentual de perdas”.

Há informações de que alguns municípios já encerraram o plantio. E os 30% restantes são em situações pontuais, com problemas na germinação devido à seca. “Não é o retrado de todo o Oeste”, comenta Jovir Esser.

Conforme o engenheiro agrônomo Cesar Veronese, atual presidente da FEAPR (Federação dos Engenheiros Agrônomos do Paraná), muitos produtores fizeram o plantio no pó, na expectativa de logo chover em cima, o que não aconteceu. Por conta disso, muitos foram obrigados a realizar o replantio, ou seja, assumiram a possibilidade de sofrer perdas nas lavouras.

Frente fria traz chuvas na segunda quinzena

Uma nova frente fria que avança sobre as regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil nesta semana minimiza a onda de calor predominante desde o início de outubro. Conforme os meteorologistas, a segunda metade deste mês deverá ser marcada pelo retorno das chuvas na Região Sul, mais especificamente no Rio Grande do Sul e no Paraná.

No Sudeste do Brasil, o calor deverá persistir em toda a região, especialmente em áreas do interior de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Em contrapartida, o avanço das frentes frias poderá alterar o cenário seco que domina a região.

Cidade e campo

Em entrevista concedida à equipe de reportagem do Jornal O Paraná, o agrometeorologista Reginaldo Ferreira, disse que a chuva traz um alívio muito grande tanto para a cidade como para o campo. Novas precipitações estão previstas para ocorrer ao longo dos próximos dias. “A semente que já foi colocada no solo, as plantas que já germinaram e aquelas que ainda poderão ser plantadas, tem a possibilidade da certeza de sua germinação em função de uma umidade ótima no solo”, comenta.

O ano está um pouco mais seco em comparação com os anteriores. “A chegada dessas primeiras gotas de chuva traz um alento, limpa o ar atmosférico e uma quantidade de nitrogênio ou de fertilizante para o solo”. Segundo ele, a semente que ainda não foi colocada no solo, terá umidade suficiente para germinar e crescer.

Setembro registrou escassez de chuva em todo o Paraná

Em setembro de 2024, assim como em agosto, ocorreu pouca precipitação em todo o Paraná. Nas regiões Norte e Noroeste do Estado, a seca persiste desde maio. Embora algumas localidades do Sul e Litoral tenham registrado chuvas um pouco mais significativas, variando entre 121 mm e 157,2 mm, grande parte do Norte e Noroeste paranaense acumulou menos de 80 mm. O maior quantitativo de precipitação mensal do Paraná foi observado no município de Palmas, na região Sul, com 157,2 mm, enquanto o menor índice foi registrado em Jaguariaíva, no Centro-Norte do Estado, com apenas 12,6 mm.

As anomalias de precipitação em todo o Estado foram significativamente inferiores à média histórica, com exceção de algumas áreas pontuais. As regiões Norte e Noroeste registraram os menores acumulados, com déficits de 59,3 mm e 43,5 mm, respectivamente. O Litoral e a Região Metropolitana de Curitiba se aproximaram mais da média histórica, apresentando déficits de 10,8 mm e 13,3 mm. As demais regiões mostraram condições intermediárias em relação à precipitação. A média estadual de chuva foi de 97,6 mm, enquanto a média histórica é de 125,5 mm.

Temperatura

As temperaturas máximas em setembro ficaram muito acima da média histórica, com exceção de uma área pontual no Litoral. Intensas massas de ar quente afetaram o Paraná durante grande parte do mês, resultando em temperaturas máximas entre 3 °C e 5 °C acima do normal na maior parte do Estado. A temperatura máxima média registrada foi de 33,7 °C em Cambará, no Norte do Estado, enquanto a menor temperatura máxima média ocorreu em Guaratuba, no Litoral, com  22,7 °C. A temperatura máxima no Paraná foi, em média, 3,2 °C superior ao esperado.

Os valores de temperatura máxima absoluta alcançaram níveis muito elevados em todo o Paraná, com o pico de 41,1 °C registrado em Capanema, no Oeste, e a mínima de 27,5 °C em Guaratuba, no Litoral. As regiões Norte e Oeste destacaram-se por apresentar as maiores temperaturas máximas absolutas, enquanto o Sul e o Litoral do Estado registraram os menores valores.