Brasília - O grupo de trabalho da Câmara dos Deputados, criado para discutir a reforma administrativa, apresentou nesta quinta-feira (2) um conjunto de propostas que resultaram em uma PEC, um projeto de lei complementar e um projeto de lei ordinária. Após 45 dias de atividades, sete audiências públicas e mais de 500 horas de reuniões técnicas, o colegiado consolidou suas sugestões em um relatório de 549 páginas.
Segundo o deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), coordenador do grupo, trata-se de uma reforma de longo prazo, que busca modernizar o Estado brasileiro sem depender de governos específicos. “Não é uma reforma para quatro anos, é uma reforma de Estado pensada para o presente e para as futuras gerações”, afirmou. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), também destacou, em carta publicada no documento, que a proposta é “palpável e bastante amadurecida”.
Um dos pontos centrais é a criação de um planejamento estratégico obrigatório para União, estados e municípios. O plano, que deverá ser apresentado em até 180 dias após o início de cada mandato, trará metas e resultados a serem cumpridos.
Limites para gastos
Um dos pontos mais sensíveis envolve o controle de despesas. De acordo com o relator Pedro Paulo, a partir de 2027, os gastos primários dos Estados em cada Poder e órgão autônomo – como Legislativo, Judiciário, Ministério Público, Defensoria e Tribunais de Contas – terão um teto anual de crescimento, segundo informou o Valor Econômico.
Esse limite incluirá salários, aposentadorias e pensões. O reajuste só poderá ocorrer de acordo com dois critérios: Se a arrecadação estadual crescer apenas no ritmo da inflação, as despesas só poderão subir na mesma proporção; Se houver crescimento real das receitas, o limite de gastos aumenta pelo índice inflacionário somado a uma fração do ganho extra: 50% se o Estado tiver registrado déficit primário no ano anterior e 70% nos demais casos. Essa parcela adicional, contudo, não poderá ultrapassar 2,5 pontos percentuais ao ano.
As mesmas regras deverão valer também para os municípios. Atualmente, não existe um teto unificado para despesas primárias de Estados e municípios. Enquanto a União está submetida ao arcabouço fiscal, os demais entes se limitam à LRF (Lei de Responsabilidade Fiscal), que permite maior flexibilidade. Na prática, cada Estado ou município pode expandir suas despesas desde que respeite a LRF e as próprias regras locais.
Quatro eixos principais
O texto da reforma se estrutura em quatro eixos abrangendo Executivo, Legislativo e Judiciário em todas as esferas da Federação. A “Estratégia, governança e gestão” prevê planejamento estratégico, acordos de resultados e criação de bônus por desempenho opcional, sempre com atenção à responsabilidade fiscal e revisão periódica de gastos. A “Transformação digital” busca modernizar a máquina pública, digitalizar processos e ampliar a oferta de serviços online.
Já a “Profissionalização do serviço público” inclui planejamento da força de trabalho, remodelamento do estágio probatório, adesão de estados e municípios ao CNU (Concurso Nacional Unificado), criação de uma tabela remuneratória única e novas regras de progressão na carreira. E, em quarto lugar, a “Extinção de privilégios” tem como meta reduzir desigualdades e eliminar excessos existentes no serviço público.
Além disso, o grupo discutiu temas como concursos, remuneração, teletrabalho, políticas de equidade de gênero e combate a assédios. A estabilidade dos servidores, porém, não foi incluída. Outras medidas tratam da governança dos conselhos nacionais da Justiça e do Ministério Público, do papel dos tribunais de Contas, da regulação de cartórios, do uso de fundos para pagar servidores e da gestão de estatais.