POLÍTICA

Mercados emergentes podem compensar perdas do Paraná com tarifaço, aponta Faciap

Foto: Gilson Abreu/ANP
Foto: Gilson Abreu/ANP

Curitiba - Novo estudo da Faciap (Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná) sobre mercados emergentes aponta que o Paraná possui alternativas sólidas para compensar as perdas decorrentes das novas tarifas americanas sobre produtos brasileiros. Enquanto o último estudo publicado pela Federação alertou que US$ 735 milhões em exportações aos EUA estão em risco, a nova análise dos fluxos comerciais do primeiro semestre de 2025 revela que US$ 3,5 bilhões já fluem para a China, um valor cinco vezes superior às vendas americanas.

O levantamento, baseado em dados oficiais do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, identificou os dez mercados emergentes com crescimento mensal consistente nas importações de produtos paranaenses. A China se destaca como o principal destino, representando sozinha quase metade das exportações do estado, seguida por Argentina (US$ 878 milhões) e outros parceiros estratégicos na Ásia e América Latina.

Protagonismo

A análise de tendências mensais confirma que a China apresenta o maior coeficiente de crescimento entre os destinos das exportações paranaenses nos seis primeiros meses deste ano. O país asiático importa principalmente soja (US$ 2,9 bilhões), carnes e miudezas comestíveis (US$ 313 milhões) e pastas químicas de madeira (US$ 91 milhões), demonstrando apetite por commodities agrícolas e produtos florestais.

Os dados mostram que não se trata de uma dependência do mercado americano, que já vinha sendo naturalmente reduzida. Enquanto os EUA impõem barreiras, a China oferece demanda crescente e diversificada, aponta a análise. O mapa de fluxos comerciais (Gráfico 3) ilustra como o Paraná se conecta dinamicamente com outros mercados globais.

Diversificação

O estudo revela diferentes padrões de diversificação por setor, demonstrando que o agronegócio paranaense mantém forte resiliência nos mercados internacionais. A China consolidou-se como principal importadora de soja paranaense, enquanto a Índia emerge como grande compradora de óleo de soja, movimentando US$ 252 milhões no primeiro semestre. A Argélia, por sua vez, representa uma nova fronteira para os açúcares paranaenses, com US$ 134 milhões em importações, evidenciando o potencial do mercado africano para commodities brasileiras.

Setor automotivo

O setor automotivo experimenta expansão significativa em mercados latino-americanos, com a Argentina liderando as importações de automóveis de passageiros paranaenses no valor de US$ 234 milhões. O país vizinho também se destaca na compra de tratores (US$ 76 milhões) e autopeças (US$ 70 milhões), consolidando uma parceria estratégica no setor. A Colômbia aparece como segundo mercado mais promissor, importando automóveis no valor de US$ 46 milhões e diversos componentes automotivos, sinalizando oportunidades de expansão para toda a América Latina.

O setor madeireiro, entretanto, apresenta o maior desafio para a diversificação. Confirmando as preocupações já apontadas pela FACIAP sobre os Campos Gerais, produtos madeireiros têm presença limitada nos mercados emergentes, aparecendo apenas como pastas químicas na China e em pequenos volumes em outros destinos. Essa lacuna reforça a vulnerabilidade do setor às tarifas americanas e indica a necessidade urgente de estratégias específicas para inserção desses produtos em novos mercados.

Oportunidades estratégicas

No curto prazo, o estudo recomenda acelerar a entrada de produtos madeireiros na China e explorar nichos em mercados asiáticos para compensar perdas americanas no setor florestal. A presença limitada desses produtos nos mercados emergentes representa tanto um desafio quanto uma oportunidade inexplorada.

Para o médio prazo, a estratégia passa por fortalecer parcerias automotivas com Argentina e Colômbia, expandindo gradualmente para outros países latino-americanos. Simultaneamente, recomenda-se desenvolver canais comerciais na África, utilizando a Argélia como porta de entrada para o continente, especialmente para commodities agrícolas.

A visão de longo prazo envolve consolidar a posição paranaense na Ásia através de Índia, Indonésia e outros mercados com alta demanda por commodities e produtos industrializados. A diversificação geográfica reduz riscos e cria múltiplas fontes de receita para compensar instabilidades em mercados específicos.

O estudo ainda recomenda políticas públicas específicas para aproveitar o momento como facilitar acesso a crédito para expansão em novos mercados, missões comerciais para países emergentes identificados, e programas de capacitação para adequação de produtos às demandas de possíveis novos mercados em expansão, como os países asiáticos e africanos.