POLÍTICA

Lula diz que não vai se 'humilhar' e que responderá Trump com Brics

Entenda as recentes declarações de Lula sobre as exportações do Brasil e suas relações com Trump e o tarifaço - Foto: ABR
Entenda as recentes declarações de Lula sobre as exportações do Brasil e suas relações com Trump e o tarifaço - Foto: ABR

Brasil - Em mais um discurso recheado de “pérolas”, o presidente Lula (PT) afirmou ontem (6) que não pretende se “humilhar” tentando contato com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para negociar o tarifaço de 50% imposto às exportações brasileiras. As sobretaxas já estão valendo e atingem diversos setores estratégicos da economia nacional.

“Um presidente não pode ficar se humilhando para outro. Pode ter certeza de uma coisa: o dia que a minha intuição me disser que o Trump está disposto a conversar, eu não terei dúvida de ligar para ele. Mas hoje a minha intuição diz que ele não quer conversar. E eu não vou me humilhar”, disse Lula em entrevista à agência Reuters.

O petista ressaltou que o Brasil mantém as portas abertas para o diálogo, mas deixou claro que, até o momento, não vê disposição do governo americano em negociar. “Na hora que eles quiserem conversar, vamos conversar. Acreditamos que países que possuem 201 anos de relação diplomática civilizada não vão jogar isso fora por atitude destemperada”, declarou.

Apoio do Brics

Lula informou que pretende debater a questão com os líderes do Brics, grupo formado por Brasil, China, Índia, Rússia e outros países emergentes. “Vou tentar fazer uma discussão com eles [Brics] sobre como é que cada um está dentro da situação, qual é a implicação que tem em cada país, para a gente poder tomar uma decisão”, disse, lembrando que dez membros do bloco integram o G20.

O presidente destacou que já pretende conversar diretamente com o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, e o presidente da China, Xi Jinping.

Medidas internas

Enquanto busca apoio internacional, o governo prepara medidas para reduzir o impacto do tarifaço na economia brasileira. Segundo Lula, a prioridade é ajudar as empresas exportadoras a encontrar novos mercados e preservar empregos. O Ministério da Fazenda deve enviar ainda nesta quarta-feira ao Palácio do Planalto uma medida provisória com ações emergenciais.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, explicou que o plano inclui linhas de crédito especiais e compras governamentais para apoiar pequenos e médios exportadores. Ele também confirmou reunião com o secretário do Tesouro americano, Scott Bessent, na próxima semana, para tentar abrir um canal de diálogo.

Recurso à OMC

Mais cedo, o Itamaraty acionou formalmente a OMC (Organização Mundial do Comércio), primeira etapa para contestar a legalidade das tarifas. Para o chanceler Mauro Vieira, os Estados Unidos “violam flagrantemente” compromissos internacionais, como o princípio da nação mais favorecida. Ele afirmou que o Brasil está disposto a consultas bilaterais, mas sem abrir mão da defesa de sua soberania.

Já a ministra do Planejamento, Simone Tebet, manifestou expectativa de que produtos estratégicos, como café e carne, possam ser incluídos entre as exceções ao tarifaço, que atualmente abrange quase 700 itens. Segundo ela, Washington terá de avaliar o impacto inflacionário sobre os consumidores americanos.

Discurso da “soberania”

Além do impacto econômico, Lula criticou a postura de Trump em relação à política interna brasileira. “Não é uma intromissão pequena, é o presidente da República dos Estados Unidos achando que pode ditar regras em um país soberano como o Brasil. Só tem um dono esse país, e só um dono que manda no presidente da República, é o povo”, afirmou.

Ele também rebateu críticas americanas à legislação brasileira sobre regulação das grandes plataformas digitais. “Esse país é soberano, tem uma Constituição, tem uma legislação. É nossa obrigação regular o que a gente quiser regular de acordo com os interesses e a cultura do povo brasileiro. Se não quiser regulação, saia do Brasil”, completou.

Motta ameaça deputados

Além dos partidos de oposição, a federação União Progressista, que reúne União Brasil e PP, anunciou adesão à obstrução no Congresso, orientando seus parlamentares a não registrarem presença em sessões na Câmara e no Senado. Em nota, a maior bancada classificou o movimento como “legítimo” e defendeu o diálogo como “único caminho possível” para restaurar a normalidade dos trabalhos.

A obstrução, liderada por aliados de Jair Bolsonaro, protesta contra a prisão domiciliar do ex-presidente, pressiona pelo impeachment do ministro Alexandre de Moraes e cobra votação do projeto de anistia. O presidente da Câmara, Hugo Motta, reuniu-se separadamente com oposicionistas na tarde de ontem (6), mas o encontro terminou sem acordo. Motta afirmou que não cederá “à força” para evitar precedentes. Líderes oposicionistas, contudo, criticaram e lembraram que pressão semelhante “funcionou” a favor de Glauber Braga (Psol-RJ). Após a reunião, o líder da oposição, Zucco (PL-RS), disse que o grupo seguirá em plenário até a anistia ser pautada.

Motta, porém, convocou sessão para as 20h30 de ontem e ameaçou parlamentares que tentarem impedir os trabalhos com suspensão de 6 meses do mandato. Contudo, até o fechamento da edição, por volta das 21h, a sessão não tinha começado, com a oposição mantendo a ocupação da mesa do Plenário.

No Senado, Davi Alcolumbre convocou sessão remota a partir das 11h desta quinta-feira (7).