Curitiba - A capital do Paraná foi palco, ontem (19), do 13º encontro do Cosud (Consórcio de Integração Sul-Sudeste), que reuniu governadores e vice-governadores para apresentar resultados e alinhar novas ações de preservação da Mata Atlântica. O evento, realizado no Teatro Guaíra, marcou também a abertura da Conferência da Mata Atlântica e resultou na Carta de Curitiba, documento que consolida os compromissos assumidos pelos estados na agenda ambiental.
Participaram do encontro os governadores Ratinho Junior (Paraná), Eduardo Leite (Rio Grande do Sul), Renato Casagrande (Espírito Santo), Claudio Castro (Rio de Janeiro), Romeu Zema (Minas Gerais), além dos vice-governadores Felício Ramuth (São Paulo) e Marilisa Boehm (Santa Catarina). Juntos, eles representam as regiões que concentram a maior parte da Mata Atlântica — bioma presente em 17 estados brasileiros, onde vivem mais de 70% da população e é produzido 80% do PIB nacional.
“Desenvolvimento sustentável é promover crescimento econômico e social com responsabilidade ambiental. O Paraná tem investido na ampliação de áreas de florestas nativas, proteção de matas ciliares, repovoamento de rios e energias limpas”, afirmou Ratinho Junior.
Entre os resultados já alcançados estão o plantio de cerca de 35 milhões de mudas nativas, a expansão do monitoramento por satélite, programas de compensação financeira por áreas preservadas, incentivo à educação ambiental e criação de novas Unidades de Conservação. Como reflexo, o desmatamento da Mata Atlântica caiu de 29 mil hectares anuais em 2021 e 2022 para 13 mil hectares em 2023 e 2024, segundo dados do MapBiomas Alerta.
O governador do Rio de Janeiro e presidente do Cosud, Claudio Castro, destacou a meta coletiva de plantar 100 milhões de mudas. “Já chegamos perto de 40 milhões só no primeiro semestre. Quando existe vontade política, saímos do discurso e mostramos resultados concretos”, disse.
Proteção integrada
Os governadores reforçaram a importância de políticas conjuntas para enfrentar emergências climáticas e proteger os ecossistemas. Corredores ecológicos regionais estão sendo planejados com base na gestão territorial integrada e no uso de tecnologias de monitoramento.
Eduardo Leite lembrou que os eventos extremos no Rio Grande do Sul, no ano passado, geraram 16 mil pontos de deslizamentos mapeados, muitos em áreas de Mata Atlântica. Já Romeu Zema citou o descomissionamento de barragens em Minas Gerais: “Das 53 estruturas que representavam risco, 17 já não existem. Empresas estão migrando para tecnologias que dispensam barragens, reduzindo a exposição a desastres.”
Rumo à COP-30
Os governadores também querem levar os avanços regionais à 30ª Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP-30), que acontecerá em Belém (PA) em novembro. A meta é garantir que, além da Amazônia, outros biomas como a Mata Atlântica também tenham destaque no debate global.
“Queremos chegar à COP com propostas sólidas, mostrando que o Brasil pode liderar soluções para diferentes biomas”, afirmou Renato Casagrande. Para Ana Toni, diretora-executiva da COP-30, encontros como o Cosud ajudam a amadurecer decisões: “A COP é um processo contínuo. É compreender a vocação brasileira como nação de sociobiodiversidade.”
Integração
A cooperação entre os estados do Sul e Sudeste visa integrar estratégias, tecnologias e informações geoespaciais para fortalecer a fiscalização e combater o desmatamento ilegal.
“Nenhum estado enfrenta sozinho os desafios ambientais. O trabalho conjunto prepara nossas regiões para as próximas gerações”, disse a vice-governadora de Santa Catarina, Marilisa Boehm.
Felício Ramuth, vice-governador de São Paulo, ressaltou que a união de esforços regionais gera impacto nacional: “Juntos construímos soluções sustentáveis e mostramos ao Brasil e ao mundo que desenvolvimento e preservação podem caminhar lado a lado.”
Paraná lança Banco Verde
Durante o evento, o Paraná anunciou o Banco Verde, mecanismo para financiar projetos socioambientais com recursos de R$ 50 milhões a R$ 100 milhões por ano. Empresas poderão destinar verbas a iniciativas de baixo carbono e de valorização da biodiversidade.
Segundo o secretário de Desenvolvimento Sustentável, Rafael Greca, 20% do valor será destinado ao Fundo Estadual de Meio Ambiente (FEMA), revertido ao programa de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) para pequenos produtores rurais que preservam ecossistemas naturais. A expectativa é contemplar cerca de mil agricultores já no primeiro ano, com repasses médios de R$ 10 mil anuais por produtor.
Com resultados expressivos, novas metas e um plano integrado para a COP-30, os estados do Cosud reforçam a ideia de que a preservação da Mata Atlântica não é apenas um desafio regional, mas uma prioridade nacional — e uma oportunidade estratégica para projetar o Brasil como referência mundial em sustentabilidade.