Brasília – O presidente Jair Bolsonaro deu um prazo de três dias – até a próxima sexta-feira (28) – para que o ministro da Economia, Paulo Guedes, apresente nova proposta para o Renda Brasil, programa social que substituirá o Bolsa Família e que deve ser a marca social do governo.
O desenho apresentado na terça, em reunião no Palácio do Planalto, previa a revisão ou a extinção de outros benefícios, como o abono salarial e o seguro-defeso, o que foi rejeitado por Bolsonaro. Ontem, o presidente avisou que não vai “tirar de pobres para dar a paupérrimos”.
Um novo encontro de Bolsonaro com ministros foi marcado para amanhã, mas ainda não foi oficializado pelo Planalto.
O plano estava na lista do Big Bang Day, previsto para a última terça, quando o ministro Paulo Guedes iria apresentar uma série de ações para retomada da economia. O evento foi cancelado justamente pela falta de conclusão e aprovação dos planos. A especulação é de que o Renda Brasil poderia chegar a R$ 300, bem acima dos R$ 190 médios pagos hoje pelo Bolsa Família a 14 milhões de famílias. O valor anterior cogitado era de R$ 247.
Na área econômica, a avaliação é de que a revisão do abono salarial era “fundamental” para criar espaço no Orçamento para bancar o novo programa, que teria maior alcance e valor maior que o Bolsa Família. Só a extinção do abono, uma espécie de 14º salário pago a trabalhadores com carteira assinada que ganham até dois salários mínimos, poderia liberar cerca de R$ 20 bilhões.
Diante do impasse, integrantes da equipe econômica acreditam que o Renda Brasil tenha alcance e valor semelhantes ao Bolsa Família, devido à falta de orçamento.
Em uma reunião de uma hora e meia, o presidente pediu uma alternativa para o Renda Brasil e reforçou que faz questão de manter o auxílio emergencial para os 66 milhões de brasileiros até o fim do ano, alegando que a economia não se recuperou plenamente. Bolsonaro também reforçou que quer que o valor do Renda Brasil seja de R$ 300, igual às últimas parcelas previstas do auxílio emergencial. Com isso, o governo quer evitar que o programa de assistência social para substituir Bolsa Família comece com o desgaste de um valor menor do que o benefício pago a informais para enfrentar a crise provocada pela pandemia. O auxílio emergencial é visto como um dos fatores que fizeram o presidente atingir a maior índice de popularidade desde o início do governo.
Dólar sobe e bolsa cai
O desempenho do mercado financeiro nessa quarta-feira (26) refletiu a preocupação dos investidores após declaração do presidente Jair Bolsonaro sobre a suspensão do Renda Brasil, programa social encampado por Paulo Guedes e que deve substituir e ampliar o Bolsa Família.
A demonstração pública de insatisfação de Bolsonaro fez surgir preocupações com um possível aumento nos gastos públicos, com riscos para o teto, e derrubou a Bolsa brasileira. O Ibovespa atingiu forte recuo, de 2,4%, aos 99.666 pontos, mas reduziu as perdas e fechou com queda de 1,46%, de volta ao patamar dos 100 mil pontos.
No câmbio, o dólar fechou operação com valorização de 1,62%, vendido a R$ 5,61, renovando maior valor de fechamento desde maio.