A Receita Federal e a Polícia Federal deflagraram na manhã desta quinta-feira (10) a operação Shipping Box, visando desmantelar uma grande organização criminosa voltada à prática do crime de tráfico internacional de drogas, através da remessa de cocaína via diversos portos do Brasil. Foram presas 29 pessoas e cumpridos 50 mandados de busca e apreensão de veículos e outros bens da quadrilha, além do bloqueio das contas bancárias utilizadas no esquema.
A investigação teve início após servidores da Receita Federal realizarem a apreensão de 600.5 kg de cocaína no Porto de Itapoá em janeiro de 2020. Após o envio das informações à Polícia Federal, iniciou-se a apuração dos responsáveis pelos envios, com a descoberta de uma organização criminosa com integrantes residentes em sua maioria na região Sul.
A troca de informações entre os dois órgãos possibilitou a apreensão de seis toneladas de cocaína e a prisão em flagrante de oito pessoas durante o período de investigações, antes da deflagração da fase ostensiva da operação. O nome Shipping Box é uma alusão, em inglês, ao método de atuação da organização criminosa, que usava o sistema de despacho e entrega de drogas escondidas em contêineres.
A superintendente da Receita Federal no Paraná e Santa Catarina, Cláudia Regina Thomaz, destacou os excelentes resultados no combate ao crime registrados nos últimos anos. “Se somarmos a quantidade de cocaína apreendida pela Receita Federal nos últimos dois anos, temos 105,4 toneladas, que é mais do que tudo que foi apreendido nos 20 anos anteriores. Isso se deve à competência do nosso corpo funcional, o investimento em recursos como scanners e cães de faro e a troca de inteligências com outros órgãos, dentre os quais destacamos a Polícia Federal”, ressaltou a superintendente.
O delegado da Polícia Federal, Alessandro Vieira, mencionou a importância das apreensões e bloqueios de conta para sufocar economicamente às organizações criminosas. “Essa é uma diretriz que seguimos, na nossa missão de não apenas apreendermos a droga, mas atacarmos o núcleo financeiro destas organizações criminosas. Inclusive, verificamos que parte dos criminosos estavam usando criptomoedas para movimentar recursos, o que irá demandar um trabalho posterior nosso e da Receita Federal”, lembrou Vieira.
O delegado da Polícia Federal em Joinville, Vinicius Zangirolani destacou que as prisões exigiram um trabalho de inteligência intenso, pois os suspeitos se movimentam constantemente e utilizam nomes e endereços falsos. “Realizamos prisões de um criminoso em um motel e de outro escondido atrás da caixa d´água de um vizinho. Também tivemos casos de criminosos tentando se livrar de provas jogando o celular na privada”, comentou Zangirolani.
Modus operandi
Para embarcar a drogas, a organização criminosa se valia de vários expedientes, que iam desde a captação de funcionários dos portos para facilitar a entrada da droga, passando pela criação de compartimentos falsos dentro de caminhões para transporte de traficantes e cargas de drogas para dentro do ambiente portuário, chegando até a criação de empresas de logística de carregamento e transporte de contêineres para atrair a exportação de cargas lícitas que ensejassem a oportunidade do embarque da cocaína.
Em alguns casos, a quadrilha usava o método rip-on / rip-off, quando uma carga de um exportador sem conexão com o esquema é violada e sacolas com cocaína são introduzidas no interior do container. Em um dos alvos da operação de hoje foram encontrados lacres em branco, que seriam utilizados para imitar o lacre verdadeiro com a numeração vinculada à carga original e tentar driblar a fiscalização da Receita Federal.
Parte das cargas de cocaína que eram trazidas da Bolívia eram escoadas em contêineres a bordo de navios para a Europa, outra parte era pulverizada para abastecer facções criminosas do tráfico para consumo interno.
Operação
Cerca de 250 policiais federais e 30 servidores da Receita Federal deram cumprimento aos 34 mandados de prisão e 50 mandados de busca e apreensão em 15 cidades nos estados de Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul, São Paulo e Rio de Janeiro. A busca pelos cinco integrantes foragidos continua mesmo após o encerramento da fase ostensiva.
A lista de bens da quadrilha com autorização para serem apreendidos incluem 68 veículos, 23 imóveis e duas embarcações além do congelamento de mais 30 contas bancárias. Os investigados responderão pelos crimes de tráfico de drogas e organização criminosa cujas penas máximas somadas ultrapassam 30 anos de reclusão.
Os presos serão conduzidos às sedes da Polícia Federal em Joinville e Itajaí. Após serem interrogados serão posteriormente levados ao presídio regional de Joinville, onde ficarão recolhidos à disposição da Justiça.