Foz do Iguaçu – Dois meses após a primeira reunião entre autoridades brasileiras e paraguaias sobre a exploração de mulheres e crianças paraguaias que diariamente cruzam a fronteira e pedem esmola nas ruas de Foz do Iguaçu, o trabalho mostra seus primeiros resultados.
Segundo Rosane Ramos da Silva, que faz parte da divisão de média complexidade da proteção social especial da Secretaria de Assistência Social de Foz do Iguaçu, a ação foi conjunta com o governo paraguaio e órgãos de segurança pública. Isso porque tudo leva a crer que essas mulheres e crianças são aliciadas e trazidas para o Brasil com o intuito de arrecadar dinheiro a uma organização criminosa, pois sempre há uma figura masculina cuidando delas. Mesmo quando elas são encaminhadas de volta para o Paraguai, em pouco tempo estão de volta à “atividade”.
“Em pouco mais de um mês já registramos redução de 50% na presença das vítimas nas ruas”, comemora Rosane.
De acordo com os dados do Serviço Especializado de Abordagem Social, desde março do ano passado, quando a situação começou a chamar atenção pela grande quantidade de mulheres e crianças nas ruas, sempre sem documentos pessoais, eram realizadas por mês uma média de 38 abordagens de mulheres, 34 crianças e seis adolescentes. No mês passado, foram encontradas 16 mulheres, 14 crianças e oito adolescentes.
Susto
Além do trabalho, outro fator que pode ter influenciado na queda é o caso de um bebê paraguaio que passou dias na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), chamando a atenção das autoridades. “O trabalho de abordagem continua sendo feito normalmente. Em janeiro, nossa equipe abordou uma jovem com um bebê de cinco meses que pedia dinheiro em um semáforo. Os servidores perceberam que a criança tinha sinais graves de desidratação e acionaram o Conselho Tutelar e o Samu. Como nenhuma das duas tinha documento, o Consulado precisou ajudar e o bebê foi levado à UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), onde foi constatado um quadro de pneumonia, por isso foi para a UTI, onde ficou vários dias. A mãe tem 17 anos e foi necessário exame para comprovar o parentesco, uma vez que há rotatividade de crianças com supostas mães. Depois disso, as duas foram encaminhadas à rede de proteção paraguaia”, detalha Rosane.
Elaboração de novo protocolo
Agora, o grupo busca alternativas para evitar que mulheres e crianças entrem no Brasil sem documentação. Para isso, será criado um protocolo para o atendimento desses casos. “Esse protocolo será seguido por todos os órgãos. Vamos definir, por exemplo, que se na aduana a situação for considerada suspeita, será feita a abordagem e o acionamento do Conselho Tutelar. Sabemos que há falta de efetivo, mas a ideia é todos trabalharem unidos da melhor forma que puderem”, garante Rosane Ramos da Silva.
Do lado paraguaio, o governo se comprometeu a investigar a raiz do problema.