Policial

Barbárie: garota busca ajuda na UPA e conta que era estuprada desde os dez anos

Três anos de silêncio e sofrimento revelados durante breve atendimento médico

Barbárie: garota busca ajuda na UPA e conta que era estuprada desde os dez anos

Reportagem: Patrícia Cabral

Cascavel – Três anos de silêncio e sofrimento revelados durante breve atendimento médico. Uma adolescente de 13 anos, que mora na região norte de Cascavel, buscou ajuda na rede pública de saúde e relatou que sofria abusos sexuais do padrasto desde 2017, com a conivência da mãe.

O caso veio à tona perto da meia-noite de quarta-feira (26), mas já era o segundo relato da jovem a equipes de saúde no mesmo dia. Pela manhã, ela contou a uma médica sua história, mas só à noite, quando voltou a buscar ajuda e foi atendida por socorristas do Samu, é que seu caso chegou à polícia.

Segundo a conselheira tutelar Sirlei Soares Aguiar, por volta das 9h, acompanhada de uma tia, a menina foi até a UPA Tancredo reclamando de dor nas pernas. O choro e o nervosismo chamaram a atenção da médica que realizava o atendimento. Foi então que a vítima falou sobre a violência que sofria desde os dez anos de idade, dentro da própria casa.

Nessa hora, a assistente social do Conselho Tutelar foi chamada, registrou a situação e acionou o Nucria (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítima de Crimes). Contudo, a menina foi medicada e liberada pela UPA, de onde foi para a casa da tia.

À noite, seu estado de saúde piorou. Com febre, vômito e muita dor, ela voltou a procurar ajuda, desta vez na UPA Veneza, de onde foi transferida para o HUOP (Hospital Universitário do Oeste do Paraná).

Durante o deslocamento, a vítima voltou a falar sobre seu sofrimento, doloroso e silencioso. Em conversa dentro da ambulância com a equipe do Samu, a garota contou o que lhe acontecia. E foi apenas então que a polícia foi chamada, a qual acionou a conselheira Sirlei. “Recebi a ligação de um policial falando do caso, entramos em contato com o Nucria, conversamos com familiares e estamos fazendo o acompanhamento de toda a situação”, resume.

Conforme a conselheira, a mãe da vítima disse que não sabia da agressão. “Ela esteve no HU, bastante nervosa, dizendo que está casada com o suspeito há 12 anos, desconhecia a situação e que nem desconfiava dos abusos”.

Além da adolescente, a mulher tem outros três filhos.

Padrasto foi ouvido e liberado

O padrasto da adolescente tem 39 anos, foi localizado pelos policiais militares e encaminhado à 15ª SDP de Cascavel (Subdivisão Policial). Ele prestou depoimento e foi liberado. “Supostamente, os fatos aconteceram há aproximadamente um mês, o que afastaria a situação de flagrante. Foi instaurado inquérito policial e o Nucria seguirá com as investigações, sendo resguardado o sigilo, por se tratar de situação envolvendo menores”, disse a delegada do Nucria, Bárbara Strapasson.

Sobre a demora na atuação, a delegada explica que as investigações começaram assim que o caso chegou ao Nucria. “O Nucria e a Delegacia da Mulher não comentam casos específicos. Referente à situação da madrugada, quanto ao Nucria, tão logo tomamos conhecimento de eventual crime já iniciamos as investigações”. Contudo, ela não fez referência ao que aconteceu com a suposta notificação feita ainda pela manhã, pela médica da UPA Tancredo.

Acolhimento

A menina segue internada no HU e deve passar por exames de corpo de delito, os quais serão acompanhados pelo Nucria. Os próximos passos são o acompanhamento e a assistência.

A conselheira tutelar Sirlei Aguiar explica que, ao sair do hospital, ela deve ficar com o pai biológico, que mora em Cascavel e já foi contatado. Se houver algum problema, a outra possibilidade é ficar na casa da tia que já a acompanha. “Todo esse processo será acompanhado por profissionais da saúde, psicólogos, conselheiros e assistentes sociais”, acrescenta.