Opinião

Coluna Amparar: A linguagem como instrumento de vingança

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A discussão acalorada faz parte dos relacionamentos. Algumas vezes ela é até necessária para fazer aparecer com mais clareza a seriedade de determinadas situações. No entanto, o mais comum é a discussão que ultrapassa os limites da civilidade e deixa cicatrizes profundas. Isso acontece especialmente quando se utiliza uma linguagem que ofende a dignidade do outro.

Utilizamos da linguagem como ferramenta para machucar a outra pessoa quando empregamos termos ofensivos com o objetivo de atingi-la propositadamente naqueles pontos que sabemos que doem a ela. Em uma relação de casal, os cônjuges sabem quais são as dores um do outro. Quando acontecem as discussões com ofensas, as palavras escolhidas costumam ser aquelas com maior potencial de provocar sofrimento. A linguagem, neste caso, funciona como uma faca para fazer “sangrar” as feridas do outro. O que o cônjuge quer é provocar sofrimento no outro.

Neste caso, a pessoa se utiliza da linguagem como instrumento de punição e vingança. Para tanto, os termos utilizados, em geral, visam atingir o amor próprio do parceiro, fazê-lo sentir-se menos, sentir-se indigno, envergonhado, culpado. O triunfo acontece quando um dos cônjuges sente o outro abatido. Quando essa dinâmica se estende ao longo do tempo chega a provocar uma autoimagem tão negativa neste cônjuge a ponto de, por vezes, sequer conseguir olhar-se no espelho tal a vergonha que sente de si.

Dinâmicas assim muitas vezes funcionam, porque um dos parceiros, querendo uma relação pacífica, se cala, não reage, consente. O outro, por sua vez, interpreta esse comportamento passivo como atitude de desdém e eleva ainda mais o tom da conversa e baixa ainda mais o nível dos termos ofensivos. Não poucas vezes a agressão desanda para a agressão física. Dificilmente uma relação que chega a esse nível resiste e acaba em separação, não necessariamente por iniciativa de quem costumeiramente é vítima da agressão, e sim de quem a pratica.

Um casal cuja relação chegou a esse nível precisa de ajuda profissional. As Constelações Familiares têm se mostrado um auxílio muito eficaz para lançar luz sobre as raízes desses comportamentos. Como sempre, quando se trata de terapia de casal, em primeira linha não está o objetivo de “salvar” a relação e sim o de curá-la, podendo continuar ou não. Isso é sempre uma decisão exclusiva do casal.

É muito importante que o casal tenha em conta que o respeito precede o amor. Pode até existir amor, mas se não houver respeito o amor não resiste. Por outro lado, se houver respeito, ainda que não exista amor, a relação tem possibilidades de continuar.

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JOSÉ LUIZ AMES E ROSANA MARCELINO são consteladores familiares e terapeutas sistêmicos e conduzem a Amparar – whatsapp: https://bit.ly/2FzW58R