Há anos o setor produtivo cobra do governo a autonomia do Banco Central. Nesta semana, um dos atos dos 100 dias de Governo Bolsonaro foi enviar projeto que confere a autonomia à instituição. De prático, o presidente deixa status de ministro e passa a ser cargo eletivo, com mandato de quatro anos. Na teoria, deixa as asas do governo e passa a responder ao mercado.
Apesar de querer e pedir, o Brasil não sabe muito bem lidar com a tal autonomia. Contudo, ela não combina com ingerência.
O que mata é o jeitinho. E não é culpa (só) do governo. A pressão popular, institucional e até política é muito grande para que o governo coloque o dedo nas feridas que alguém não gosta.
O presidente Jair Bolsonaro acaba de sentir isso na pele. Após procurar a direção da Petrobras para impedir reajuste do óleo diesel, mandou uma mensagem ruim para o mercado. Como consequência, as ações da estatal caíram nessa sexta-feira. Foi uma resposta de que não querem ficar à mercê das vontades palacianas.
Os argumentos de Bolsonaro são convincentes: não dá para provocar uma nova greve dos caminhoneiros. “Estou preocupado também com o transporte de cargas no Brasil, com os caminhoneiros. São pessoas que realmente movimentam as riquezas, de norte a sul, leste a oeste e que tem que ser tratados com devido carinho e consideração. Nós queremos um preço justo para o óleo diesel”, disse à Folha de S.Paulo.
Ninguém quer isso. Contudo, o presidente precisa lançar mão de outras ferramentas, ou até criá-las caso não encontre nada eficiente. Está no cargo justamente para isso. Importante saber que ingerência costuma ter consequências muito mais severas.