São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia e Paraná são apenas alguns dos estados brasileiros que já apresentaram casos de sarampo em 2019. A doença infecciosa, transmitida por vírus, teve um surto registrado por especialistas, contabilizando mais de 10 mil casos no País só no ano de 2018. Os dados preocupam as autoridades de saúde uma vez que eles representam a diminuição dos níveis de cobertura vacinal entre os brasileiros.
O sarampo é uma doença considerada de contágio fácil, similar ao da gripe, com a transmissão feita por meio de tosse, fala ou contato íntimo. Outro fator que agrava as chances de epidemia é que um paciente contaminado pode transmitir o vírus para, em média, 18 pessoas.
Entre os principais sintomas do sarampo estão manchas vermelhas na pele, tosse persistente, manchas brancas na parte interna da bochecha e irritação nos olhos. “As vacinas são consideradas um dos grandes avanços da medicina e salvam vidas todos os dias há mais de 200 anos. Doenças como o sarampo, já vencidas, retornam em surtos por conceitos equivocados de ‘movimentos antivacinas’, gerando um retrocesso na saúde”, explica Aier Adriano Costa, clínico-geral e coordenador médico da Docway.
Perigo
A doença pode ocasionar febre, convulsões, infecções, conjuntivite, perda de apetite, diarreia e, em casos mais graves, até lesão cerebral e infecções no encéfalo. A enfermidade é considerada de maior risco para crianças menores de cinco anos, podendo causar meningite, encefalite e pneumonia. “Em casos mais graves, o sarampo pode ocasionar até a morte do paciente. Em locais onde a vacinação ainda não está implantada nos sistemas de saúde, a doença está entre as principais causas de morte de crianças de até cinco anos de idade”, afirma o médico.
Prevenção
Sem um tratamento específico, a única prevenção garantida é a vacinação. “A doença pode ser prevenida por meio da vacina tríplice viral contra sarampo, caxumba e rubéola. Uma dose gera imunidade em aproximadamente 93% dos vacinados. O emprego de duas doses possui eficácia de proteção em torno de 97%”, explica Deivis Junior Paludo, do grupo Diagnósticos do Brasil.
Apesar de, na maioria dos casos, o diagnóstico do sarampo ser feito por meio de avaliação clínica, o especialista do Diagnósticos do Brasil ressalta que está disponível no mercado nacional o exame que identifica a doença. “Ele é realizado por meio da sorologia, que detecta a presença de anticorpos IgM e IgG específicos, com resultados em até 10 dias úteis”, explica Deivis.
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Perda da certificação
Em 2016, o Brasil recebeu o certificado de erradicação do sarampo, emitido pela Organização Pan-Americana de Saúde, mas o título foi retirado em fevereiro deste ano após a verificação do surto ocorrido em 2018. O motivo da epidemia da doença é extremamente preocupante, pois se resume à redução da cobertura vacinal, proporcionando um ambiente populacional menos protegido ao vírus. Na cidade de São Paulo, por exemplo, a cobertura vacinal chegou a ser em torno de 100%, em 2014, mas caiu para 90% no ano passado.
“A vacina contra o sarampo integra o calendário nacional de vacinação, e é de extrema importância que a população retome seus cuidados em segui-lo à risca. Afinal, esta é a única maneira comprovada de se prevenir contra essa e muitas outras doenças que podem ter consequências graves”, reforça Deivis Junior Paludo, do grupo Diagnósticos do Brasil.
O Ministério da Saúde indica que crianças de seis meses a um ano de idade, que vão se deslocar para municípios que apresentem surto ativo de sarampo, devem ser vacinadas contra a doença pelo menos 15 dias antes da data da viagem.
Adultos também podem tomar vacina
Adultos que ainda não foram imunizados contra o sarampo, também devem seguir as indicações das autoridades: pessoas de até 29 anos devem receber duas doses para a imunização. Para a população entre 30 e 49 anos, o indicado é que recebam uma dose da vacina tríplice viral. A exceção fica para pessoas imunodeprimidas, acima 50 anos ou mulheres grávidas, que não devem tomá-la. Quem já teve sarampo é considerado imune à doença.
DOSE ZERO:
Crianças de 6 a 11 meses devem ser vacinadas contra o sarampo
A Secretaria da Saúde orienta que todas as crianças de 6 a 11 meses devem ser vacinadas contra o sarampo. A recomendação foi divulgada esta semana pelo Ministério da Saúde em decorrência do aumento de casos da doença em 11 estados do País, principalmente em São Paulo.
O objetivo é intensificar a vacinação desse público-alvo, que é mais suscetível a casos graves e óbitos.
A medida preventiva indica a aplicação como uma “dose zero”, já que ela não substitui a primeira dose contra o sarampo no Calendário Básico Infantil, dada aos 12 meses de idade com a vacina tríplice viral (que também protege contra a rubéola e a caxumba). A proteção é completada aos 15 meses com a tetra viral (que previne ainda contra a varicela, também conhecida como catapora).
Essa vacinação de rotina das crianças deve ser mantida independentemente da criança ter tomado a “dose zero”. A medida deve permanecer enquanto o país não interromper a transmissão do vírus, que seria permanecer 90 dias sem novos casos.
A chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica do Centro Estadual de Vigilância em Saúde, Tani Ranieri, ressalta que entre essa dose extra e a primeira (aos 12 meses) é recomendado um intervalo de 30 dias. “O profissional de saúde na Unidade Básica fará essa análise de como e quando fazer a aplicação das doses, pois aos 12 meses a criança ainda precisa dois reforços, com a pneumocócica e meningocócica, além de que aos 9 meses também é prevista a vacina contra a febre amarela”.
Casos suspeitos
É considerado como caso suspeito todo indivíduo que, independentemente da idade e situação vacinal, apresentar febre e exantema maculopapular (manchas vermelhas no rosto e atrás das orelhas), acompanhados de tosse e/ou coriza e/ou conjuntivite.
O Cevs (Centro Estadual de Vigilância em Saúde) informa que é imprescindível detectar e notificar rapidamente qualquer caso suspeito, o que possibilitará que as medidas de controle sejam realizadas oportunamente interrompendo a cadeia de transmissão. Por isso, solicita-se a toda rede de atenção à saúde, pública e privada, que implemente a vigilância do sarampo através de busca ativa de casos e da sensibilização dos profissionais médicos e de enfermagem para que, na vigência de um caso que preencha os critérios, notifiquem, via telefone, à Secretaria Municipal de Saúde ou ao Disque Vigilância, através do número 150 do Cevs.
Casos no Brasil
Nos últimos 90 dias, o País registrou 1.680 casos confirmados de sarampo, em 11 estados: São Paulo (1.662), Rio de Janeiro (6), Pernambuco (4), Bahia (1), Paraná (1), Goiás (1), Maranhão (1), Rio Grande do Norte (1), Espírito Santo (1), Sergipe (1) e Piauí (1). Entre as faixas etárias, a com maior incidência inclui as crianças menores de 1 ano, com 38 casos por 100 mil habitantes, o que corresponde a um total de 228 casos confirmados.
Bloqueio vacinal
Além de vacinar as crianças na faixa etária prioritária, o Ministério da Saúde também orienta aos estados e municípios a realizarem o bloqueio vacinal. Ou seja, em situação de surto ativo do sarampo, quando identificado um caso da doença em alguma localidade, é preciso vacinar todas as pessoas que tiveram ou têm contato com aquele caso suspeito em até 72 horas. Neste caso, recomenda-se que a vacinação seja realizada de forma seletiva, ou seja, não há necessidade de revacinação das pessoas que já foram vacinadas anteriormente e que têm comprovação vacinal.
São considerados vacinadas as pessoas de 12 meses a 29 anos que comprovem duas doses de vacina ou uma dose de tríplice viral para pessoas de 30 a 49 anos. Não é orientada para a pessoa já vacinada uma dose extra.