Quedas do Iguaçu – A caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela Região Sul do Brasil, que vem sendo tratada como “caravana da discórdia” por entidades civis organizadas, será encerrada hoje em Curitiba. E não teve passagem fácil até ontem, quando encontrou um público vestido de vermelho e alçando bandeiras do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra), que, apesar da chuva, tomaram o centro de Quedas do Iguaçu para “aplaudir” e receber seu líder.
A cidade é um dos berços dos sem-terra: cerca de 8 mil famílias sem-terra vivem nas áreas de assentamento e acampamento naquela região.
Os ruralistas, que encabeçaram os protestos nos três estados do Sul, decidiram não criar clima de animosidade na cidade. A única manifestação isolada foi de um grupo de pessoas que estavam na sacada de um prédio balançando uma camiseta que estampava a imagem do pré-candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro.
Após discursos de petistas paranaenses, um abatido Lula subiu ao palco e falou meia dúzia de palavras. Disse que estava sem voz devido ao intenso trabalho na caravana, mas não escondia no semblante o baque que foi a má recepção por onde passou. Houve cidades, inclusive, em que a caravana sequer conseguiu entrar, devido à pressão dos grupos opositores.
Sem dizer como, o ex-presidente afirmou que irá, se eleito for, “resolver a pendenga” da Araupel. Ele se referia à empresa do ramo madeireiro que emprega mais de mil pessoas na cidade e que já teve dois terços de suas terras tomados para a reforma agrária. Mesmo assim, a Araupel sofreu nos últimos anos uma série de invasões de terra. Um dos líderes do MST que discursou no local convidou Lula para estar em Quedas do Iguaçu no próximo ano para lançar a pedra fundamental do “Assentamento Dom Tomás Balduíno”, hoje uma área ocupada pelo movimento. Em abril de 2016, dois sem-terra foram mortos no acampamento em confronto com a Polícia Militar.
Vale lembrar que a “pendenga” envolvendo a Araupel data de mais de duas décadas. Ou seja, Lula teve oito anos, depois mais seis da sua sucessora Dilma Rousseff, para resolver a “pendenga”. Nada fez.
Convite
Nem mesmo a chuva que caía na Praça Pedro Girardi afastou os populares, quase todos integrantes do MST. Muitos carregavam crianças nos ombros.
Lula iniciou seu discurso reclamando dos protestos na Região Sul, que começaram em Bagé e se estenderam para outras cidades por onde ele passou, inclusive no Paraná. Ele classificou as manifestações como barbáries. “Nunca tinha assistido a uma selvageria como esta”, declarou.
Lula se mostrou surpreso com as manifestações contra ele. “Eu tenho 72 anos e é a primeira vez que eu vejo isso”.
O ex-presidente não comentou sobre o julgamento dos embargos questionando sua condenação e que foram negados pelo TRF4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), mas afirmou que quer ver julgado o mérito do processo e garantiu que não encontrarão nada contra ele. Segundo o ex-presidente, as pessoas que não querem sua volta e lutam para tirá-lo da corrida presidencial têm medo de que o petista vença a eleição no primeiro turno.
Lula afirmou, outra vez, que voltará a governar o Brasil e prometeu recriar o Ministério do Desenvolvimento Agrário e legalização dos quilombolas e áreas indígenas. “Os índios são tratados como se fossem invasores quando na verdade nós é que invadimos a terra deles em 1500”, declarou. Ele também falou em recriar o Ministério da Pesca.
Atraso
O evento começou com quase uma hora de atraso. De acordo com a senadora e presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann, o atraso aconteceu por precaução em função dos protestos que a caravana enfrentou na Região Sul. “Esse povo é de luto e de resistência mesmo. Faz quatro horas que vocês estão aí. Vocês já souberam os problemas que a caravana enfrentou no Estado inteiro. Então, além do tempo [chuvoso], nós também tínhamos informações de que poderia ter bloqueio na estrada, por isso a gente foi prudente, mas uma coisa vocês podem ter certeza, eles podem retardar nossa presença, mas impedir nunca”, declarou a senadora.
Dentre os presentes no evento estavam o vereador de Cascavel Paulo Porto, o deputado estadual Professor Lemos, o ex-deputado Dr. Rosinha, e o líder nacional do MST, João Pedro Stédille.