Opinião

EDITORIAL: A história em cinzas

O Brasil assistiu atônito, na noite de domingo, às chamas consumirem um dos maiores sítios arqueológicos e culturais do País. Foram 200 anos de história consumidos pelo fogo e que viraram cinzas em poucas horas. Peças de valor inestimável, como a “Luiza”, fósseis mais antigos encontrados nas Américas datados de 12 mil anos atrás.

O rescaldo do incêndio deve levar vários dias. A recuperação das peças que sobreviveram, e a esperança de que cofres tenham protegido algumas das relíquias, são o que movem as pessoas agora.

Mas o que fica disso tudo foi a certeza do descaso histórico que o País tem com sua cultura e seu passado.

O abandono do Museu Nacional, no Rio de Janeiro, não era privilégio só dele. A cultura, via de regra, é a primeira a ter recursos cortados quando o cinto aperta. Só que, agora, a conta vai ficar mais salgada. Seja financeira, seja histórica, seja de consciência.

Um povo que não conhece seu passado não sabe construir o seu futuro. Nunca uma afirmação foi tão pontual. O sinistro mobilizou diversos setores que pretendem reconstruir o prédio, mas as peças queimadas eram únicas, e elas não serão resgatadas.

De toda sorte, quem sabe o sacrifício do Museu Nacional traz algo de positivo para todos os setores da cultura e o País reveja seu patrimônio com mais carinho, muito mais atenção.

Para muitos, a cultura pode ser supérflua, mas ela é essencial na formação de todo cidadão. Sem cultura, quem somos nós? Sem passado, o que resta de nós?