Catanduvas – Após passar as celebrações dos 25 anos praticamente em silêncio, com “comemoração” em 31 de agosto de 2018 quando estava orquestrada uma série de ataques que acabou não se confirmando, o PCC (Primeiro Comando da Capital) voltou a se articular para promover atentados contra órgãos e profissionais da área de segurança pública.
A contestação vem sendo feita pelo serviço de inteligência de forças nacionais de segurança, algumas que atuam na região oeste do Paraná, onde o grupo paulista tem presença fixa e de comando há quase duas décadas. A instalação do bando se dá em decorrência da proximidade com o Paraguai, onde o PCC busca armas, drogas, munições e se capitaliza com o bilionário mercado de cigarros contrabandeados.
A espécie de calmaria que vem sendo observada, inclusive após a determinação do fim das visitas sociais e agora restritas a parlatórios em presídios federais de segurança máxima desde fevereiro de 2019, está ameaçada com uma espécie de retaliação ao Estado.
Segundo fontes ouvidas pelo Jornal O Paraná, o serviço de inteligência já identificou planos de ataques a profissionais que exercem cargos de chefia em presídios, sobretudo das cinco estruturas federais onde estão os principais líderes do bando, Cantanduvas, Mossoró (RN), Campo Grande (MS), Porto Velho (RO) e Brasília (DF).
A articulação, segundo as investigações, aponta um possível orquestramento de ataques que têm mais uma vez em destaque o oeste do Paraná e teriam em vista os 26 anos da facção, que será celebrado em menos de quatro meses.
No ano passado o grupo programava a morte de pelo menos 11 profissionais ligados à segurança pública ou às execuções penais, como um delegado da Polícia Federal, um juiz corregedor, um procurador da República e agentes federais em execuções penais. Mas, como o esquema foi descoberto, ele foi desmantelado sem a concretização de nenhuma dessas medidas previstas.
Desgastado, PCC abre espaço para Comando Vermelho
A imobilização do grupo também foi forçada pela perda extrema de capital. Isso porque a morte de dois agentes federais que atuavam em Catanduvas, ambos assassinados em Cascavel, um em setembro de 2016 e outro em maio de 2017, desgastou financeiramente o grupo que não teria caixas vultosos nesse momento.
Como os ataques à época forçaram ações focadas no combate ao crime, as retaliações respingaram em outras organizações criminosas, como o CV (Comando Vermelho). Por conta disso, os dois grupos fizeram ano passado uma espécie de acordo inédito. O PCC cessaria os ataques contra agentes públicos para que seus líderes não fossem “caçados” pelos rivais. O objetivo era impedir que ações mais efetivas em segurança imobilizassem ambos.
O CV, que desde a prisão de Fernandinho Beira-Mar (1996) havia diminuído presença na fronteira do Brasil com o Paraguai, viu no enfraquecimento financeiro do PCC brechas para voltar a aturar no mercado entre Brasil e Paraguai. E é exatamente o que tem feito.
Rompimento do pacto à vista
Entre os motivos pelos quais pode haver o rompimento do pacto é o fato de o CV ocupar cada vez mais um espaço antes prioritariamente dominado pelo PCC com o tráfico de drogas, armas e munições partindo da região para ganhar grandes centros comerciais brasileiros.
Apesar de se especular que os dois grupos tenham uma espécie de acordo para atuação entre Brasil e Paraguai, os serviços de inteligência revelam que essa disputa está bastante acirrada entre os dois bandos com possíveis acertos de contas à vista.
Para isso, eles têm ampliado parcerias com grupos criminosos internacionais. O PCC com o Hezbollah, de quem receberia técnicas de guerrilha em troca de drogas, armas e munições, e o CV estaria ainda mais próximo da Al-Qaeda, com os mesmos objetivos.
Aliás, o avanço das ações do CV na fronteira pode ser ilustrado por fatos. Linhas de investigação indicam que os fuzis despachados pelo Aeroporto de Cascavel no fim do ano passado, rumo ao Rio de Janeiro, tinham como destino a cúpula da organização criminosa.
Já as milhares de munições e armas de uso restrito apreendidas em Santa Terezinha de Itaipu poderiam ter como destinatário final os morros do Rio de Janeiro.
Reportagem: Juliet Manfrin