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Energia elétrica: produzida com baixo custo e cara demais para o consumidor

Energia elétrica: carga tributária como maior vilã, aponta pesquisa da CNI
Energia elétrica: carga tributária como maior vilã, aponta pesquisa da CNI

Pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) ontem (1º) revela que 60% da indústria nacional aponta a alta carga tributária do país como o principal fator do elevado preço da conta de luz. Isso reflete, segundo os industriais entrevistados, numa competitividade mediana e investimentos tímidos. Inédito, o levantamento da CNI entrevistou 1.002 executivos líderes de indústrias de pequeno, médio e grande portes das cinco regiões do país.

Quando perguntados sobre os dois itens que mais impactam na conta de luz, a alta carga tributária é apontada por 78% dos entrevistados (60% como primeiro fator e 18% como segundo motivo).

“O custo da produção da energia no Brasil é barato, mas a nossa conta de luz é uma das mais caras do mundo. Reduzir o preço da energia é uma obsessão da indústria brasileira. Para isso, a diminuição dos encargos é um imperativo não apenas para contribuir com a competitividade do setor industrial, mas para garantir a sustentabilidade econômica do próprio setor elétrico nacional”.

Ricardo Alban, presidente da CNI

O gerente de Energia da CNI, Roberto Wagner Pereira, afirma que a carga tributária, somada aos encargos e subsídios, representa cerca de 44% do custo final da energia elétrica para o consumidor. “Isso gera um impacto bastante alto na competitividade da indústria, ainda mais que os nossos competidores internacionais têm custos menores em relação à energia”, acrescentou.

Fonte de energia a 80% das industrias

Os dados da pesquisa revelam que a energia elétrica é a fonte energética mais utilizada por 80% das indústrias para o processo industrial. Na sequência, aparecem energia solar (10%), gás natural (2%), óleo diesel (2%) e lenha (1%). Os números mostram ainda que 96% das indústrias usam energia elétrica no processo produtivo; 20% usam energia solar; 14%, gás natural; 14%, óleo diesel; 8%, lenha; e 4%, óleo combustível.

Em Cascavel

O estudo, apesar de ser nacional, se aplica à realidade de Cascavel, à região e a todo o Paraná, conforme Juliano Huck Murbach, vice-presidente de Energias Renováveis da Associação Comercial e Industrial de Cascavel (ACIC). “A questão da energia é diretamente relacionada à competitividade do produto brasileiro, que tem esta particularidade: a questão da tarifa de energia em si não é cara, o problema são o PIS, o COFINS e o ICMS, além das tarifas do sistema de distribuição e transmissão e inúmeros encargos não tributados, mas que incham a fatura”, explica Juliano, que ainda cita o exemplo de que em uma conta de energia de R$100, apenas 35% são referentes ao consumo e o restante são tributos e encargos. Isso tudo compromete a competitividade das empresas aqui de Cascavel, seja de indústria ou de comércio.

A energia solar como alternativa ainda é não uma realidade acessível a todos os empresários . “Demanda investimento inicial e também de espaço físico para a instalação das placas, coisa que muitos não têm e acabam não tendo muita saída: ou da concessionária no mercado cativo que é a Copel ou então migrar para o mercado livre, mas que ainda não é para todo mundo, por enquanto somente está disponível para consumidores de médio porte”, analisa Murbach.

Quedas de energia

Relatadas no estudo da CNI, as quedas de energia são uma dura realidade dos empresários da área industrial de Cascavel. Um deles é Antonio Olivo, que tem uma empresa no segmento de remoldagem de pneus no Núcleo Industrial Citvel, nas proximidades da Ferroeste, e afirma que enfrentou problemas muito sérios relacionados à falta de energia elétrica, afetando a produtividade, assim como outros empresários do condomínio. Ele relatou à reportagem que várias reuniões foram feitas, inclusive com a Câmara de Vereadores, com a presença de representantes da Copel. “Medidas emergenciais foram tomadas, mas precisamos de uma subestação para atender a região, que resolveria o problema em definitivo”, analisa Olivo que também é presidente do condomínio. O empresário afirmou que nos últimos dias a situação está melhor e ele está esperançoso de que continue assim.

A ACIC tem registrado a reclamação dos associados e Juliano Murbach avalia que “Tem muitos núcleos industriais que reclamam da queda de energia, alguns da zona rural, nós reconhecemos os esforços, os investimentos e a boa vontade da Copel, mas a demanda tem aumentado demais, então nós precisamos que companhia continue investindo na infraestrutura”.

A Copel foi procurada pela reportagem do Jornal O Paraná, mas não retornou com as informações até o fechamento desta edição.

Como enfrentar?

Para o gerente da CNI, a alternativa eficaz para dirimir essa questão é o governo diminuir encargos e subsídios, principalmente os voltados para políticas públicas que estão fora do setor elétrico e que possam diminuir esse custo para a indústria de modo geral. Professor da Universidade de Brasília (UnB) e especialista em energia, Ivan Camargo concorda com Roberto Wagner. Para ele, o caminho mais evidente é retirar os encargos e diminuir os impostos, uma vez que, segundo ele, o país produz uma energia muito barata que vem das hidrelétricas, tem a energia solar e, ainda, a eólica. “Portanto, nós temos uma matriz de produção de energia elétrica além de renovável, barata”, frisou.