A Reliance Industries, a maior empresa petrolífera da Índia e o maior cliente indiano da Venezuela, assegurou no final do mês passado que não pretende aumentar suas compras do país sul-americano.
O anúncio veio logo após o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, se reunir com o chanceler indiano, Vijay Gokhale. No encontro, o estadunidense pediu ao seu colega que “não seja a corda salva-vidas econômica do regime de Maduro”.
Em fevereiro, as empresas indianas compraram entre 500 e 600 mil barris diários de petróleo cru da PDVSA, a petrolífera estatal venezuelana. A Índia tinha se tornado a primeira da lista de compradores do mineral venezuelano naquele mês. Um mês antes, esse lugar era ocupado pelos Estados Unidos — em janeiro, o mandato do presidente Donald Trump impôs sanções comerciais que proibiram as empresas nacionais de negociar com o governo Maduro — uma decisão que gerou polêmica entre os observadores internacionais e reações como a do sociólogo Boaventura de Sousa Santos, da faculdade de direito de Coimbra, e do cientista político Javier Corrales, do Amherst College (EUA).
A Índia, assim, se tornou o possível destino para os 500 mil barris diários que, com o bloqueio, os Estados Unidos deixaram de receber. O anúncio da Reliance Industries, no entanto, encerrou essa possibilidade. “Nossa filial nos EUA parou por completo todos os negócios com a PDVSA e nossa matriz global não aumentou suas compras”, afirmou um porta-voz da empresa indiana em uma mensagem direcionada às agências de notícias internacionais.
A Reliance também negou que segue vendendo o diluente que a PDVSA necessita para comercializar o petróleo cru extra-pesado que existe em abundância na Venezuela. “Desde que foram postas as sanções e ao contrário do que dizem alguns informes, a Reliance deteve toda provisão de diluente à PDVSA e não voltará a vendê-lo até que as sanções acabem”, diz outro trecho do comunicado.
A Reliance compra cerca de 300 mil barris diários de petróleo da PDVSA, segundo o Wilson Center, de Washington, nos EUA. Uma boa parte dos recursos que entram na Venezuela vem de negócios como esse com empresas indianas, ainda que uma grande quantidade do mineral venezuelano também seja entregue à China para pagar dívidas.
Outra empresa indiana que também compra petróleo venezuelano é a Nayara Energy, propriedade da empresa estatal russa Rosneft. No entanto, segundo o Wilson Center, ela adquire entre 50 e 80 mil barris diários.
As sanções impostas pelos Estados Unidos à Venezuela, além de deixar o país sul-americano sem fontes de recursos, ainda semeou desconfiança entre os demais compradores do principal produto venezuelano: eles podem sofrer penalizações dos EUA se manterem os negócios com o governo de Nicolás Maduro.
Nesse cenário, os campos de petróleo venezuelano produzem cada vez menos e, no mês passado, chegaram a 1,1 milhão de barris diários, segundo dados da consultoria internacional S&P Global Platts — esse número já foi de 3,5 milhões.
Nos últimos dias de fevereiro, segundo a mesma consultoria, 10,8 milhões de barris de petróleo estavam esperando clientes nos portos venezuelanos. Os dados indicam que, além de uma queda de 60 mil barris diários em relação a janeiro, a produção venezuelana chegou ao seu ponto mais baixo desde o início de 2003, quando uma greve paralisou as atividades.
A Índia se tornou uma salvação para a Venezuela porque, apesar de ter uma população menor do que a China, as empresas indianas e o governo precisam suprir uma demanda de 1,3 bilhão de pessoas por combustível. Em um país em que o crescimento anual médio superou os 7% durante a última década, veículos, casas e fábricas requerem uma quantidade de energia tão grande, que a nação asiática se converteu, em poucos anos, no terceiro maior importador de petróleo do mundo.
Os indianos também são bons clientes do Iraque, da Arábia Saudita, da Nigéria, dos Emirados Árabes, do México, do Brasil, e da Rússia, e inclusive de vendedores que o mundo costuma evitar, como a Venezuela e o Irã.
A PDVSA vendeu uma média de 424 mil barris diários anualmente entre 2012 e 2017 para a Índia, segundo o Wilson Center. A importância é tanta que, duas semanas depois que os EUA anunciaram as sanções, o presidente da petrolífera venezuelana, Manuel Quevedo, viajou a Nova Délhi de surpresa para se encontrar com autoridades locais. Na ocasião, disse que as relações entre os dois países continuariam e que, mais do que isso, as relações iriam se expandir.