ACIDENTE AÉREO

Voo 2283: uma espera angustiante na identificação e liberação dos corpos

O trâmite de identificação dos corpos e análise da perícia é de responsabilidade da Superintendência de Polícia Científica
O trâmite de identificação dos corpos e análise da perícia é de responsabilidade da Superintendência de Polícia Científica

Cascavel está em luto pelas 62 vidas que foram ceifadas no começo da tarde da última sexta-feira (9), após a queda do voo 2283 da Voepass, em Vinhedo (SP), que saiu de Cascavel rumo ao Aeroporto de Guarulhos. A primeira angústia vivida pelas famílias era da confirmação de quem realmente estava no voo e, a partir de então, acompanharam a retirada dos corpos dos destroços e a identificação para que, em seguida, seja feito o translado dos corpos para os rituais fúnebres.

Das 62 pessoas que estavam no avião, 25 eram de Cascavel e, por isso, a Prefeitura está disponibilizando desde ontem (12) o Centro de Eventos da cidade para que as famílias que optarem pelo velório no local tenham um espaço mais amplo. O local está sendo organizado e montada uma estrutura da Secretaria Municipal de Saúde e uma ornamentação de flores com doações de floriculturas da cidade.

Para o prefeito de Cascavel, Leonaldo Paranhos, que esteve neste fim de semana em São Paulo, para acompanhar as negociações de perto, a ideia é que o Município possa receber os corpos com uma boa estrutura. “Temos a estrutura da Acesc e outras capelas, mas o velório será definido pela família que vai decidir como quer fazer o modelo do funeral do seu ente querido”, disse.

O trâmite de identificação dos corpos e análise da perícia é de responsabilidade da Superintendência de Polícia Científica, do Instituto de Identificação de São Paulo (IIRGD) e do IML de São Paulo. Seguidamente, o translado dos corpos devidamente identificados é gerido pela companhia aérea VoePass, que custeia o envio às cidades destino.

Uma reunião também foi realizada ainda ontem (12) com autoridades de segurança e o Município de Cascavel para alinhar a logística para o translado dos corpos das vítimas do voo. Todas as forças de segurança estarão envolvidas, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, Polícia Rodoviária Federal em uma operação assim que chegarem os primeiros corpos.

Além disso, a Secretaria Nacional do Consumidor notificou a empresa ainda ontem e deu um prazo de 48 horas para que a VoePass detalhe a assistência que está prestando aos familiares das vítimas.

Exame DNA

A Polícia Científica do Paraná enviou ainda no domingo (11), para São Paulo, todo o material genético coletado junto a 30 famílias de vítimas do acidente aéreo. O envio de 31 amostras de DNA e 19 documentações odontológicas de familiares marcou a conclusão dos trabalhos do órgão paranaense no auxílio à identificação das vítimas, cabendo às forças de segurança pública de São Paulo a finalização do processo, com a consequente liberação dos corpos para translado.

Em entrevista coletiva na manhã de ontem (12), o secretário estadual da Segurança Pública, Hudson Teixeira, informou que um levantamento preliminar da Polícia Civil do Paraná identificou que 29 das vítimas possuem CPF emitido no Estado. Isso não significa, porém, que elas necessariamente residiam no Paraná neste momento. O Estado também disponibilizou aeronaves se precisar auxiliar no translado dos corpos.

Teixeira também atualizou o trabalho de identificação, que está sendo conduzido pela Polícia Científica de São Paulo. Todos eles já passaram pelo exame de necropsia, dos quais 17 foram identificados. Em relação aos demais, ainda faltam documentos das famílias para liberação dos corpos no IML. “A liberação depende dessa identificação e também de documentos exigidos dentro do processo legal neste tipo de desastre”, disse Hudson.

De acordo com o diretor Operacional da Polícia Científica, Ciro Pimenta, a coleta do material genético pela equipe paranaense tem ajudado na celeridade do processo de identificação e liberação dos corpos das vítimas. Todo processo relacionado ao transporte dos corpos está sendo custeado pela Voe Pass por meio de um acordo firmado pela empresa com as defensorias públicas e ministérios públicos do Paraná e de São Paulo.

Segundo o defensor público-geral do Paraná, Matheus Munhoz, o foco dos órgãos públicos neste momento está em prestar todo o acolhimento necessário às famílias das vítimas. “Estamos dando toda a orientação jurídica necessária para que as famílias saibam como proceder e quais documentos são necessários para o translado dos corpos, bem como o que vem posteriormente, como a emissão das certidões de óbito, pedidos de cremação ou enterro, acesso a inventários e pedidos de benefícios previdenciários”, disse.

Para garantir agilidade e segurança no processo, o órgão paranaense instalou postos de atendimento às famílias no aeroporto de Cascavel e em um hotel disponibilizado pela Voe Pass na cidade. Outro ponto foi montado pela Defensoria Pública de São Paulo no estado vizinho. “Além disso, estamos prestando todo o acompanhamento por meio de um canal via WhatsApp criado exclusivamente para que as famílias tenham uma fonte de informações oficiais sobre todo este processo para que não caiam em qualquer tipo de golpe”, acrescentou Munhoz.

Investigações

As apurações relacionadas às causas do acidente estão sendo conduzidas pelo Cenipa (Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), que faz parte da FAB (Força Aérea Brasileira), com previsão inicial de serem finalizadas em 30 dias, cujo prazo pode ser prorrogado. Paralelamente, a Polícia Civil de São Paulo também instaurou um inquérito policial.

O Cenipa passou o final de semana realizando a “Ação Inicial”, que envolve a coleta de informações preliminares para determinar a causa do acidente. No domingo (11), as caixas-pretas do avião foram extraídas com sucesso e, com a conclusão desta etapa, a FAB informou que a investigação agora entra na fase de análise dos dados coletados, incluindo a busca de informações adicionais para identificar possíveis fatores contribuintes.

Três hipóteses estão sendo consideradas para explicar o acidente. A primeira é a possibilidade de formação de gelo nas asas, apoiada pelos boletins meteorológicos do dia e por um acidente similar registrado nos Estados Unidos há 30 anos. A segunda hipótese é que o acidente tenha sido causado por danos antigos provenientes de um “tailstrike”, quando a cauda do avião toca a pista, ocorrido em março deste ano. A terceira possibilidade é que problemas no sistema de ar condicionado da aeronave, relatados por pilotos anteriores, tenham comprometido a refrigeração da cabine.

O Cenipa destacou que a conclusão da investigação será realizada no menor prazo possível, conforme a complexidade do caso. A companhia aguarda até que tenha a permissão das autoridades, para então, estimar o prazo final do processo de retirada dos destroços.

Além disso, informa, também, que uma empresa especializada para retirada dos pertences pessoais dos passageiros foi contratada pela companhia para recolhimento, descontaminação, catalogação e posterior identificação, conforme recomendações existentes. Após o término dessa fase e em momento oportuno, esses pertences serão entregues aos familiares.