
Paraná e Rio Bonito do Iguaçu -
Neste domingo, dia 7 de dezembro, completa um mês do tornado que devastou a cidade de Rio Bonito do Iguaçu, que fica a cerca de 160 km de Cascavel, no Centro-Sul do Estado. Desde então, uma grande mobilização começou acerca da cidade que, primeiro teve que ser limpa, reestabelecida e a partir desta semana passou a ser reconstruída. Durante a passagem do tornado F4 na Escala Fujita, sete pessoas perderam a vida e muitas outras tiveram ferimentos – de leves a graves.
O fator é que o dia 7 de novembro mudou a vida de todos os moradores da cidade, que conviveram por cerca de 15 minutos com o fenômeno metereológico de maior intensidade que já tinham visto. Imagens que foram gravadas por moradores e outras que demonstraram a chegada do tornado circularam todo o país que ficou estarrecido com a força dos ventos que chegaram a atingir 330 km/h, deixando um verdadeiro rastro de destruição em toda a cidade, que tem um pouco mais de 14 mil habitantes ao todo.
Nesta semana, um verdadeiro mutirão de reconstrução começou na cidade com o início da construção das 320 casas, por meio do Governo do Estado, para atender as famílias que tiveram seus imóveis destruídos. A construção das casas está sendo feita pela empresa Tecverde, responsável pela entrega e montagem das edificações pré-moldadas. O gerenciamento da operação está sendo feito pela Cohapar (Companhia de Habitação do Paraná). A empresa pública participou, inclusive, do cadastramento das famílias afetadas e da vistoria de mais de 1,5 mil imóveis na cidade, e ao todo, serão investidos cerca de R$ 44 milhões.
De acordo com a Cohapar, os moradores que são proprietários de terrenos adequados ganharão um novo teto no mesmo local. Aqueles que não têm uma área própria terão suas moradias instaladas em uma região doada pela Prefeitura que ainda está sendo preparada. Ao todo, oito lotes já passaram pelas fases de limpeza e nivelamento do solo e foram liberados para a execução dos trabalhos. Pelo cronograma, a empresa receberá semanalmente a autorização para executar seu serviço em outros espaços que forem liberados.
Modelo
As residências serão construídas usando o sistema wood frame, o que reduz consideravelmente o tempo de execução. As casas possuem sala, cozinha, dois quartos, banheiro e área de serviço, com tamanhos variando entre 45 m², 48 m² e 50 m².
A primeira fase da obra é justamente a fundação rasa, que já recebe embutidas as instalações elétricas, hidráulicas e de gás. O passo seguinte depende do tempo de cura do concreto, que pode levar entre três dias a uma semana, de acordo com vários fatores, incluindo o tipo do solo. A próxima etapa é a montagem das paredes, estruturas que também chegam prontas, com esquadrias e instalações. Na sequência, entram o telhado e os acabamentos finais: cerâmica, pintura, louças e metais.
Auxílio
Além das casas novas, as famílias também já estão recebendo os outros auxílios do Governo do Estado. O benefício de R$ 1 mil para as pessoas mais vulneráveis já foi pago a 1.475 famílias. O benefício será pago por até seis meses para auxiliar na reconstrução e reorganização da vida das famílias após a tragédia. Este é o quarto lote liberado de pagamentos.
Coordenado pela Sedef (Secretaria de Estado do Desenvolvimento Social e Família) e operacionalizado em parceria com o Banco do Brasil, o “Superação” foi desenvolvido especialmente para atender as famílias impactadas, garantindo um suporte financeiro e contribuindo para que os moradores tenham condições de retomar suas rotinas.
Os beneficiários são cadastrados pela Sedef, que faz o atendimento em espaços instalados no município. Após a checagem e o cruzamento dos dados, a secretaria encaminha ao Banco do Brasil a lista de aprovados para os depósitos. Para quem já possui conta na instituição, o valor é depositado diretamente. Para os demais, é aberta automaticamente uma Poupança Social para o recebimento do benefício. Além disso, 410 cartões de “Reconstrução” já foram carregados e distribuídos. Nessa modalidade as famílias têm direito a até R$ 50 mil para reformar as suas casas.
Classificação
No primeiro momento o tornado tinha sido classificado como F3, mas o laudo técnico final do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) elevou a classificação de tornados que atingiram 11 cidades do Paraná. O trabalho que tem mais de 130 páginas elevou para F4 a categoria na escala Fujita dos tornados que atingiram Rio Bonito do Iguaçu e Guarapuava, e manteve em F2 a categoria do tornado que atingiu, por exemplo, a cidade de Turvo.
O laudo descreve as análises feitas através da integração entre meteorologia operacional, geointeligência, sensoriamento remoto e análise geoespacial. O trabalho envolveu todos os setores do Simepar, com apoio do Corpo de Bombeiros, Instituto Água e Terra e Defesa Civil do Estado do Paraná, permitindo a compreensão do evento para oferecer subsídios valiosos para o planejamento territorial e a gestão de risco. Ele concluiu que este evento pode ser considerado um dos maiores desta categoria no Estado do Paraná nos últimos 30 anos, considerando os aspectos relacionados à quantidade de tornados no mesmo evento, pessoas atingidas e destruição em diversos níveis observada nas suas trajetórias.
A conclusão foi de que o ramo frio de um ciclone extratropical formado sobre o Sul do Brasil favoreceu o desenvolvimento de nuvens de tempestade de forte intensidade sobre o Paraná em 7 de novembro. Algumas dessas nuvens, imersas em um ambiente de elevada instabilidade termodinâmica, intensificaram-se ainda mais, evoluindo para a categoria de supercélulas, com características de rotação em torno de seu eixo vertical. O cisalhamento vertical intenso do vento e o transporte de ar quente e úmido foram cruciais para a evolução das tempestades.
Duas dessas supercélulas foram responsáveis pela ocorrência de três tornados em municípios das regiões Sudoeste e Centro-Sul do Paraná. A categorização dos tornados seguiu a metodologia preconizada pela Escala Fujita, criada para mensurar a intensidade do fenômeno com base nos danos observados e nas velocidades estimadas do vento.
O tornado é um dos piores da história do país estando entre os 10 fenômenos mais violentos das últimas décadas, superando o episódio ocorrido na cidade de Nova Laranjeiras, em 1997 que deixou quatro mortos.
Feridos
Mais de 400 profissionais, entre socorristas do Samu e trabalhadores dos hospitais da região de Rio Bonito do Iguaçu se mobilizaram para atender as vítimas da tragédia. Desde a última atualização, em 4 de dezembro, dois moradores da cidade seguem internados: um no Hospital Universitário do Oeste do Paraná (HUOP), em Cascavel, e um no Hospital Santa Tereza, em Guarapuava. As últimas quatro famílias que ainda estavam em abrigo foram redirecionadas no dia 25 de novembro para um hotel em Rio Bonito do Iguaçu. De maneira geral, mais de 400 pessoas receberam atendimentos de saúde.
Os atendimentos às vitimas foram realizados no Hospital Regional do Centro Oeste, no Hospital Santa Tereza e no Hospital de Caridade São Vicente de Paulo, em Guarapuava; e no Hospital São Lucas e no Instituto São José, em Laranjeiras do Sul. No começo mais de 30 pessoas chegaram a ser internadas e com o decorrer dos tratamentos esse número foi diminuindo paulatinamente. Esse esforço envolveu equipes de enfermeiros, médicos, técnicos e diversos plantonistas.