Cotidiano

Tiradentes: Feriado nacional de um fato histórico complexo e ainda com muita discussão

A estátua de Tiradentes esculpida pelo paranaense João Turin e que fica na praça de mesmo nome deve ser retirada na semana que vem, para restauração.
Foto: Maurilio Cheli/SMCS
A estátua de Tiradentes esculpida pelo paranaense João Turin e que fica na praça de mesmo nome deve ser retirada na semana que vem, para restauração. Foto: Maurilio Cheli/SMCS

Cascavel – Nesta sexta-feira, 21 de abril, é feriado nacional que comemora o “Dia de Tiradentes”, data da morte do mineiro Joaquim José da Silva Xavier. Quem frequentou o antigo “colegial”, mais recentemente, nos anos de 1980 e 1990, aprendeu na escola a “história” acerca dessa figura nacional que seria um dos líderes da Inconfidência Mineira, uma das maiores revoltas que desencadearam a conquistada a Independência do Brasil. Por outro lado, atualmente, historiadores promovem novos debates e levantam alguns pontos de controvérsia na construção da história que é contada há décadas.

Tiradentes nasceu no dia 12 de novembro de 1746 na Fazenda do Pombal, anteriormente município de São João Del Rei e, atualmente, município de Ritápolis, Minas Gerais. Ele era dentista amador ou “prático” , por isso o apelido de “Tiradentes”, mas também era tropeiro, minerador e militar no posto de alferes (posto militar equivalente ao atual de segundo-tenente) da cavalaria de Dragões Reais de Minas, a força militar que atuava na Capitania de Minas Gerais, subordinada a Coroa Portuguesa.

A Inconfidência

Resumidamente, segundo a história ‘oficial’, Tiradentes atuou como um dos líderes da Inconfidência Mineira, movimento que se estendeu de 1789 a 1792, contra os altos impostos cobrados pela Coroa Portuguesa no Brasil. O movimento mineiro foi uma tentativa de revolta de uma parte da elite de Vila Rica, atual Ouro Preto, que ocorreu contra a execução da “derrama”, uma operação fiscal realizada por Portugal para cobrar os impostos atrasados e fortalecer domínio português.

O grupo formado por intelectuais, religiosos, militares e fazendeiros tinha como objetivo a instituição de um sistema de governo republicano, a implantação de um sistema de educação e a libertação dos escravos. Tiradentes foi considerado um dos líderes do movimento. No final do Século 18, o Brasil ainda era colônia de Portugal e sofria com os abusos políticos e com a cobrança de altas taxas e impostos.

Em 21 de abril de 1792, Tiradentes foi enforcado, esquartejado e decapitado, no Largo da Lampadosa, na cidade do Rio de Janeiro. Ele se tornou um mártir porque, mesmo diante da morte, não delatou seus companheiros. Além disso, seu julgamento e execução foram marcados por uma série de injustiças, como a transferência do julgamento para o Rio de Janeiro, longe dos olhares da população de Minas Gerais.

Somente a partir da Proclamação da República, no ano de 1890, ou seja, quase um século depois é que Tiradentes começou a ter sua figura esculpida como herói nacional e, por isso, o dia do seu enforcamento foi declarado feriado nacional.

História construída

A reportagem do Jornal O Paraná conversou com o professor e doutor em história, Marcelo Hansen, que explicou que os fatos em torno de Tiradentes é motivo de estudos, mas é preciso ter “cautela”, já que muito do que foi construído não reflete aos fatos apurados pelos historiadores. Segundo o professor, Tiradentes era uma das pessoas com menos influência na época da Inconfidência Mineira e que, por isso, acabou sendo utilizado como exemplo para reprimir o movimento.

Para Hansen, a figura do dentista mineiro foi utilizada para montar um herói brasileiro, mas que não reflete a verdadeira história da época. O professor destaca, inclusive, que a imagem utilizada para retratar o mártir Tiradentes que acabou sendo construída com base nos traços utilizados para representar Jesus Cristo. “Historiadores discutem as controvérsias da história e porque o feriado não é comemorado no dia 22 de abril, que é o dia do descobrimento do Brasil”, salientou. Segundo ele, essa nova visão dos fatos iniciou em 1970 e existe um grupo de historiadores que estuda o tema com profundidade para recontar a história e que, diante dessa nova visão dos fatos, “é mais complicado ligar o sentimento de patriotismo” com o feriado de 21 de abril.

No entanto, mesmo que a participação de Tiradentes na Inconfidência Mineira não tenha sido “perfeita”, é inegável que ele foi um importante símbolo de resistência contra o domínio português e que sua “coragem e determinação” inspiraram muitos outros líderes e movimentos na história do Brasil.

Foto: Maurilio Cheli/SMCS