BRASÍLIA – Se os bastidores de Brasília mostram os principais atores da cena política à beira de um ataque de nervos com a expectativa da divulgação da lista de investigados na Lava-Jato pelo procurador geral da República, Rodrigo Janot, por algumas horas nesta terça-feira à noite autoridades investigadas, advogados enrolados no caso, juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) , o presidente Michel Temer, e deputados da oposição se misturaram na celebração dos 50 anos de jornalismo do colunista Ricardo Noblat.
Temer circulou à vontade pelo salão do restaurante Piantella . Estava satisfeito com o comparecimento em massa de políticos na solenidade de posse dos dois novos ministros, à tarde. E aproveitou para fazer as pazes com aliados descontentes com as nomeações dos novos ministros, como o vice-presidente da Câmara, o deputado Fabio Ramalho (PMDB-MG), que ameaçou abrir uma dissidência no governo por não ver seu pleito por um ministro mineiro atendido.
? Fabinho, a gente não pode brigar. Vá almoçar comigo amanhã e leve a bancada do PMDB de Minas para a gente conversar ? disse Temer, dando um apertado abraço e cochichando no ouvido do deputado mineiro.
Já amolecido, Fabinho disse a Temer que eles não iriam brigar, que era a divergência na convergência.
? Vou levar uma leitoinha assada para o almoço e fazer um acerto de contas com Temer, fazer um acerto de dívidas ? disse Fabinho.
Ao passar pela mesa onde estavam sentados deputados da Oposição, Temer brincou com Miro Teixeira (Rede-RJ) e Chico Alencar (PSOL-RJ). Depois da conversa, Chico Alencar disse que Temer era muito educado e era impossível brigar com ele.
? O Miro nunca mais me convidou para fumar um charuto ? disse Temer.
? A última vez que vi um presidente fumando um charuto, esse presidente era Fidel Castro ? interveio Chico Alencar.
? Pois é. O Chico está dizendo que isso pode significar que você vai ficar 40 anos no poder ? disse Miro Teixeira.
? Com o aplauso do Chico eu fico ? respondeu Michel Temer, afagando o deputado da oposição.
O deputado Heráclito Fortes (PSB-PI) lembrou ter dito a Temer, quando tomou posse, que o pior do governo não eram os problemas do cargo, mas ter de morar no Palácio da Alvorada.
? Eu não aguentei uma semana. Aquele lugar não tem jeito de casa e eu não sou dado a palácios. O Jaburu sim, tem mais jeito de casa ? disse Temer.
Perguntado se pretendia mudar-se também do Palácio do Jaburu, Temer brincou:
? Sim, daqui um ano e 10 meses.
RAVENA DÁ IMPEACHMENT!
Circularam pela festa vários ministros de Temer, do Tribunal de Contas da União (TCU), José Múcio Monteiro; do STF Marco Aurélio Mello, Luiz Roberto Barroso – que comentava a decisão do Supremo, de considerar crime caixa um com recursos ilegais, como uma quebra de paradigma na política brasileira – e o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Gilmar Mendes. Numa roda de conversa, um dos convidados comentou que Gilmar estava magro e perguntou se era resultado da dieta Ravena , a que fez a presidente cassada Dilma Rousseff murchar.
? Ravena não! Ravena dá impeachment! ? respondeu Gilmar Mendes.
O novo dono do Piantella, Omar Catito, disse que a festa de Noblat era uma reinauguração do restaurante que no passado foi palco dos mais significativos encontros políticos e repassou ao deputado decano Miro Teixeira a palavra para saudar o homenageado. Miro disse que Noblat era um dos personagens que batiam ponto no local, e que durante a Constituinte e eleição do presidente Tancredo Neves funcionou como ?escritório? dos deputados e senadores capitaneados pelo doutor Ulysses Guimarães.
? Aqui era nosso escritório. Aqui recebíamos nossos recados, não havia celular. Aqui conversávamos sobre as decisões políticas, falávamos da vida alheia, quem saía com quem ? brincou Miro.