Guaíra – Os investimentos em segurança pública na região de fronteira do Paraná com o Paraguai ficaram mais evidentes nos últimos dois anos, especialmente com a implantação da Operação Hórus (Programa Vigia), ação permanente de combate ao contrabando e ao descaminho, e ainda investimentos como o mais recente na região oeste: base área do GOA (Grupamento de Operações Aéreas), da Polícia Civil, em São Miguel do Iguaçu. Contudo, de acordo com o delegado de Polícia Federal Marco Smith, que integra o Grupo de Pronta Intervenção no Paraná e é professor da Univel, o trabalho de combate ao crime na fronteira e a união de forças de segurança já existem há dez anos, mas nos últimos dois têm ficado mais evidentes por conta dos resultados e também do maior investimento. “Esse esforço de integração e esse olhar para a fronteira começaram em 2009/2010, com a implantação da Operação Sentinela. Foi o primeiro esforço de se integrar as forças e de se patrulhar a fronteira. Naquela época, a força nacional já havia sido acionada, houve a interação com as Polícias Militar e Civil e isso só vem crescendo. Nos últimos dois anos, o resultado desse trabalho de uma década passou a ficar mais evidente e a ficar mais admirado, mas isso não significa que tenha começado agora. A primeira semente foi a operação Sentinela, que começou em Foz do Iguaçu, Guaíra e se estendeu até Cascavel. A Operação Hórus, Vigia… são todas consequências dessa semente. Evidentemente que muito maiores e melhores, mas o Estado passou a olhar para a fronteira de uma forma mais ‘carinhosa’ e a enviar os recursos necessários já em 2009 e 2010. Para termos uma noção de que segurança pública não se faz do dia pra noite”, explica Smith.
Ele observa que a motivação do crime transnacional é econômica e que, por isso, com a repressão, a criminalidade tende a migrar para locais de menor presença do Estado. “A repressão acaba mudando um pouco o modus operandi do criminoso. Foz do Iguaçu era um polo de delitos internacionais gigantesco, hoje em dia diminuiu muito, já é uma cidade mais voltada para o turismo; o Lago de Itaipu e as cidades ribeirinhas ainda estão numa transição. Guaíra era uma cidade pouco importante nessa rota e se tornou extremamente importante. Hoje, é um centro de abastecimento de cigarro, mas, conforme se vai aumentando a repressão, a tendência é de que o crime procure locais onde há menos resistência do Estado. Até porque o criminoso transnacional, o traficante, o cigarreiro, ele não pratica o crime por hobby ou porque foi excluído da sociedade, ou qualquer coisa do gênero, ele pratica o crime para obter lucro. A gente costuma dizer que o delito transnacional é liquido; ele procura o local de menos resistência, mas não vai deixar de passar. Se esse local de menos resistência for muito mais caro ou que diminua de sobremaneira o lucro dele, você já vai estar diminuindo essa incidência de crimes pelo viés econômico. A tendência que nós temos visto já desde 2010 é um deslocamento de todos esses crimes transnacionais para o Norte. Começou de Foz do Iguaçu para o Lago, que já era um ambiente contaminado pelo crime transnacional mas não tanto; do lago para Guaíra e agora de Guaíra para a fronteira seca no Mato Grosso do Sul. A gente observa essa transição. Vem diminuindo a incidência no Paraná e aumentando um pouco a incidência no Mato Grosso do Sul. De novo, da mesma forma: procurando os locais de menor resistência do Estado”, detalha.
Contrabando atende grandes centros
O agente federal Marco Smith afirma que o contrabando obedece à lei da oferta e da procura e atende a grandes centros consumidores. “Quando se iniciou a Operação Sentinela, o forte do contrabando era eletrônico. A demanda vinha dos grandes centros e a fronteira acabava por atender essa demanda, acabava por abrigar quadrilhas que atendiam essa demanda. Hoje em dia, quase não se apreende mais computadores, laptops, Ipads… Há algumas exceção ou outra para telefones chineses. Por que isso aconteceu? Porque foi reduzido o imposto dessas mercadorias no Brasil. O preço brasileiro ficou competitivo, e, no fim das contas, o sujeito prefere comprar no Brasil, ter assistência técnica e até parcelar em dez vezes do que pagar o mesmo preço em um produto contrabandeado”, ressalta.
Ele também cita outros ilícitos, como o cigarro, que tem imposto nacional elevado, drogas e armas. “Algumas iniciativas foram feitas para se baixar o imposto do cigarro para reduzir o contrabando, mas não foi pra frente. Drogas, o Brasil produz muito pouco… um pouco de maconha, no Norte e no Nordeste, cocaína não é produzida no Brasil, então tem que vir de fora e a demanda dos grandes centros é atendida pela fronteira. Já o controle brasileiro sobre armas era excessivo e burocrático, e isso favorecia que a fronteira fornecesse esses armamentos. Hoje em dia, com as mudanças que tivemos, até a apreensão de armas tem diminuído”, lista.
O futuro
Smith afirma que segurança pública não pode ser vista de forma isolada e que o futuro deve ser de maior integração entre as forças: “A segurança pública precisa ser vista como um sistema, não pode ser vista com ações individuais. De nada adianta um órgão ou um ente federado adotar uma determinada política e achar que vai resolver todos os problemas. Não existe isso! Você precisa fazer um combate pensado, integrado e efetivo. O principal exemplo disso são os americanos, que fazem diversas forças-tarefas entre as agências federais e até mesmo as policias municipais, que aqui nem existem. Mas a integração é o futuro, porque a segurança publica não é algo isolado e tem que ser vista de forma sistêmica”.