
Enquanto eram relatados vários casos de estrangeiros barrados em aeroportos, grupos de defesa dos direitos civis entraram na Justiça, governos estrangeiros e ONU condenaram os decretos, e protestos eram realizados.

? Pela primeira vez na História de nossa nação, pessoas estão sendo barradas de vir por causa de sua fé. O próprio presidente Trump disse que os cristãos sírios eventualmente serão bem-vindos. Isto torna claro que o governo está mirando nos muçulmanos ? sintetizou ao GLOBO, de Washington, o diretor de comunicações do Conselho de Relações Islâmico-Americanas, Ibrahim Hooper. ? É um caos. Famílias estão sendo separadas, e nem mesmo os funcionários do país sabem o que estão fazendo.
A reação foi geral e imediata. Um processo contra o governo, alegando inconstitucionalidade das medidas, foi apresentado num tribunal federal de Nova York pela União Americana das Liberdades Civis (ACLU) e por outras associações após dois refugiados iraquianos serem detidos no Aeroporto Internacional John F. Kennedy (JFK), na cidade, na sexta-feira à noite. Advogados conseguiram habeas corpus para um deles ? que trabalhou por dez anos como intérprete do próprio governo americano no Iraque. O outro continuava detido.
? Vocês sabem quantos soldados (americanos) cumprimentei com esta minha mão? ? disse a repórteres, às lágrimas, Hameed Khalid Darweesh, solto após 19 horas no aeroporto.
Com voo agendado, cinco passageiros iraquianos e um iemenita foram impedidos de entrar num voo da EgyptAir do Cairo para Nova York. Casos semelhantes foram registrados em cidades como Dubai e Istambul. Houve ainda relatos de proibição de embarque fora do país ou de gente barrada ao chegar: estudantes de universidades americanas; uma família de refugiados sírios que seria reassentada em Cleveland; um cientista iraniano que trabalharia em Boston; e até pessoas no exterior para visitas à família ou funerais.
RETALIAÇÃO E ALERTAS DE LÍDERES ESTRANGEIROS
Uma porta-voz do Departamento de Segurança Interna afirmou que mesmo detentores dos vistos permanentes de residência estão incluídos na proibição de entrada, mas, funcionários indicaram que a situação de cada um será avaliada caso a caso. A ONG ProPublica estima o número de potencialmente afetados dos sete países listados em 500 mil pessoas. Para os árabes e muçulmanos nos EUA, o medo é de perseguição anti-islâmica.
?Isto transforma o fanatismo antimuçulmano em política e é assustadoramente reminiscente da discriminação religiosa de países como China e Irã?, disse em nota à imprensa Margaret Huang, diretora-executiva da Anistia Internacional nos EUA, tachando a política de ?cruel e desumana?.
O aeroporto JFK foi local de protestos ontem contra as novas políticas de imigração. Congressistas democratas convocaram manifestações.
? As lágrimas estão escorrendo pelo rosto da Estátua da Liberdade hoje, quando a grande tradição americana de dar as boas-vindas a imigrantes, desde nossa fundação, é pisoteada ? atacou o líder democrata no Senado, Chuck Schumer.
Mundo afora, a reação predominante era de choque. O presidente iraniano, Hassan Rouhani, decidiu retaliar suspendendo a entrada de americanos. A Nobel da Paz Malala Yousafzai afirmou estar ?de coração partido?. E, apesar de elogios de líderes nacionalistas europeus aos decretos, a Organização Internacional para as Migrações e a ONU apelaram para que Trump ?prossiga com a longa tradição de proteção aos que fogem dos conflitos e das perseguições?. Autoridades europeias também demonstraram oposição.
?O combate pela defesa de nossas democracias só é eficaz se for baseado no respeito aos princípios que as fundam. Em particular, a acolhida a refugiados?, disse a Trump o presidente francês, François Hollande, segundo comunicado da Presidência relatando conversa entre os dois ontem por telefone.
Trump manteve contato telefônico com outros líderes. Com o presidente russo, Vladimir Putin, concordou em ?desenvolver relações de igual para igual?, priorizando a luta conjunta ao Estado Islâmico e os laços econômicos. Com a chanceler alemã, Angela Merkel, manifestou o apoio à Otan. (Com agências internacionais)