Cotidiano

Planeta se despede de El Niño, que deve ser substituído por La Niña

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RIO ? Durante o último mês, as temperaturas da superfície do mar no Pacífico caíram rapidamente, dando sinais que o forte El Niño que teve início no fim do ano passado está perto do fim. De acordo com medições da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos EUA (NOAA, na sigla em inglês), do pico de 2,4 graus Celsius acima da média, em novembro, abril registrou alta de 1,2 grau Celsius, com tendência de queda. Contudo, projeções indicam que as alterações no clima global vão continuar, pois há 75% de chances de o El Niño ser substituído por sua ?irmã?, a La Niña.

? No momento, ainda estamos sob influência do El Niño, mas as águas do Pacífico estão resfriando ? explica Thaize Baroni, pesquisadora da Somar Meteorologia. ? Nos próximos meses, a tendência é que o sistema fique neutro e o La Niña comece no fim da primavera e começo do verão.

O El Niño é caracterizado pelo aquecimento acima de 0,5 grau Celsius da temperatura média da superfície do mar na região tropical do Pacífico, e a La Niña, o oposto: o resfriamento abaixo de 0,5 grau Celsius da média. Ambos os fenômenos interferem na dinâmica do clima global, provocando chuvas e secas anômalas em diversas regiões do planeta.

Nesta temporada, o El Niño foi um dos mais extremos já registrados. De acordo com as medições da NOAA, o pico registrado em novembro foi o mais alto desde 1950. No mês passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou alerta sobre o fenômeno ter afetado mais de 60 milhões de pessoas no continente africano e nas regiões da América Latina e Caribe e Ásia-Pacífico.

No Sul da África, secas devastadoras espalharam a fome por diversos países. Segundo relatório do Programa Mundial de Alimentação das Nações Unidas, plantações foram devastadas e 32 milhões de pessoas estão em situação de risco alimentar na região. No Nordeste do continente, chuvas inesperadas propiciaram o surgimento de criadores de mosquitos que provocaram alertas epidemiológicos de febre amarela em três países. Na América Latina e Caribe, o El Niño provocou chuvas acima da média, propiciando cenário ideal para a reprodução do Aedes Aegypti, mosquito transmissor de dengue, febre amarela, zika e chicungunha.

Pelos registros históricos, as anomalias nas temperaturas da superfície do mar provocadas pela La Niña não são tão extremas como as do El Niño. O recorde aconteceu em 1973/74, com -1,9 grau Celsius abaixo da média. Desde 1950, foram registrados 23 El Niños e 14 La Niñas. Segundo a NOAA, é comum que a La Niña se forme logo após o El Niño, o que aconteceu em nove ocasiões. Nas outras, o resfriamento se deu dentro do período de dois anos após o aquecimento.

No Brasil, os efeitos da La Niña são diversos. A região Sul, principalmente o Rio Grande do Sul, deve passar por um período de seca, mas o Norte/Nordeste deve ser mais chuvoso. Para o Sudeste e Centro-Oeste, a previsão é de temperaturas mais amenas durante o verão, com mais dias nublados e menos temporais característicos da estação. E o inverno do ano que vem deve ser mais frio, caso a formação da La Niña se confirme.

? Para cariocas e paulistas, a notícia pode ser boa, porque este verão foi muito quente ? diz Thaize. ? Mas para a agricultura a La Niña provoca o fenômeno da ?invernada? (dias consecutivos nublados e com chuvas), que prejudica a colheita.