Brasília – A investigação sobre suposta interferência do presidente Jair Bolsonaro no Exército aumentou o desgaste do chefe do Planalto no Congresso e a pressão pela abertura de um processo de impeachment, que já tinha como ingrediente as acusações feitas pelo ex-ministro de Justiça Sergio Moro.
Bolsonaro entrou na mira do MPF (Ministério Público Federal) por indícios de violar a Constituição ao interferir em atos de exclusividade do Exército e dar o comando para que três portarias da instituição militar fossem derrubadas. As informações foram divulgadas pelo Estadão.
As portarias derrubadas por ordem de Bolsonaro tratavam sobre monitoramento de armas e munições.
Na Câmara, deputados do PSB que apresentaram um pedido de impeachment com base nas acusações de interferência na Polícia Federal, avaliam incluir a acusação por ingerência no Exército no processo. Além disso, parlamentares do partido apresentaram há uma semana um projeto de decreto legislativo para resgatar a validade das portarias anuladas.
“É muito grave ter editado uma portaria no meio da pandemia para não se ter controle sobre armas e munições”, afirmou o deputado Aliel Machado (PSB-PR), que assina o projeto de decreto legislativo com Alessandro Molon (PSB-RJ). “Essa interferência parte de uma investigação do próprio Ministério Público Federal, não é de partido político, e contribui para a suspeição do presidente da República. Essa denúncia pode somar no pedido de impeachment que já apresentamos ou em pedido novo.”
Sob pressão, Maia pede calma
O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), quebrou ontem à tarde o silêncio de mais de uma semana e sinalizou, sem dizer diretamente, que, apesar do crescente número de pedidos de impeachment ao presidente da República, Jair Bolsonaro, ele não deve pautar a abertura de um processo neste momento. “É claro que os ex-ministros [da Saúde Luiz Henrique Mandetta e da Justiça, Sergio Moro] são homens de credibilidade e geram pressão na sociedade. Mas acho que todos esses processos [impeachment e CPIs] precisam ser pensados com muito cuidado”, disse Maia. “Devemos ter paciência e equilíbrio e não ter açodamento”.
Para Maia, uma crise política, em plena pandemia, poderia agravar ainda mais os impactos econômicos que devem ser sentidos pelo Brasil nos próximos meses. O deputado evitou se aprofundar no assunto. “Quando você trata por tema como impeachment, sou juiz. Não posso comentar”.
Maia saiu dos holofotes no dia 19, quando Bolsonaro participou de uma manifestação pró-ditadura em Brasília. O deputado não havia concedido entrevistas desde então.
Desde sexta (24), a Câmara recebeu três novos pedidos. Já são quase 30. Os três mais recentes foram protocolados pelo PDT, pela deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) e pelo Movimento Brasil Livre (MBL). Há também pedido de abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito Mista formalizado pelo PSDB. Dos pedidos, sete têm relação com a participação do presidente em manifestações que defendem a retomada da atividade econômica em todo o País durante a pandemia da covid-19.