ENTÃO É NATAL!!!

O verdadeiro Natal e seus desafios

A tradição dos presépios teve início com São Francisco de Assis, no século XIII, representando o nascimento de Jesus - Foto: Divulgação
A tradição dos presépios teve início com São Francisco de Assis, no século XIII, representando o nascimento de Jesus - Foto: Divulgação

Cascavel - Cascavel, o Brasil e o ‘Mundo’ chegam ao Natal 2024 com o histórico de um ano que, sem dúvida merece uma profunda reflexão. As “Festas de Fim de Ano”, tradicionalmente, despertam o espírito de solidariedade que, somada à necessária fraternidade entre os povos, produzem novos ares de esperança e de paz.


O ano de 2024, entre outros acontecimentos, foi marcado por tragédias como as enchentes do Rio Grande do Sul, a queda do avião da Voepass que ceifou a vida de 62 duas pessoas e, mais recentemente, o acidente nas rodovias mineiras entre uma carreta, um ônibus com passageiros e um veículo de passeio que resultou na morte de 41 pessoas. Além disso, ainda convivemos com as guerras entre Rússia e Ucrânia e conflitos envolvendo Israel e grupos extremistas da Faixa de Gaza e países com guerras históricas no Oriente Médio.


No Oeste do Paraná, ainda temos o clima de tensão na região das cidades de Guaíra e Terra Roxa, com as invasões “paraguaias” que o Jornal O Paraná tem acompanhado com muita atenção. E para contribuir com este cenário, ainda temos as mudanças e continuidades nas prefeituras e câmaras de vereadores e a instabilidade política e econômica vivida no âmbito federal.


É com este pano de fundo que afeta direta e indiretamente a vida de todos os brasileiros, que vamos celebrar mais um Natal dividido entre apelo comercial liderado pelo “Papai Noel” e o seu real significado com José e Maria e o menino Jesus. Escrever sobre o verdadeiro Natal foi um desafio para os jornalistas do O Paraná: Paulo Alexandre de Oliveira, Nileide Herdina Vieira e Priscila Letícia Liber dos Santos.

Então é Natal outra vez!

Há 30 anos demorava tanto para chegar e agora já é Natal outra vez. Será que o tempo está passando mais rápido ou é a forma como lidamos com ele que está diferente? Seria necessária muito mais do que uma edição inteira deste periódico para discorrer sobre esta questão, de múltiplas interpretações. No entanto, elegemos o ‘verdadeiro espírito natalino’ como tema desta edição.


É fato que este assunto pode ter significados diferentes para cada um, de acordo com suas tradições e crenças. Mas a celebração do Natal tem um único motivo em todo o mundo: O nascimento de Jesus.

Uma ‘luta’ que não é de hoje


Se hoje lutamos contra a correria do dia a dia e os apelos comerciais e midiáticos que fazem do Natal uma das datas mais lucrativas do calendário, saiba que esta batalha não é recente. Na Europa, em 1853, o autor Charles Dickens foi o responsável por dar vida a esta celebração que vinha caindo no esquecimento. Ao publicar sozinho o livro “Um conto de Natal” – depois de ter as portas fechadas por todas as editoras que não acreditavam na retórica – Dickens ficou conhecido como o ‘pai do Natal’, ao tocar seus leitores com o encanto da época natalina. Na trama, Ebenezer Scrooge, o rabugento personagem criado por Charles Dickens, vive atormentado por escolhas de uma vida fria e solitária. Apesar disso, a história narra momentos transformadores que fizeram ele abraçar o verdadeiro significado da data.


“Os caminhos que as pessoas escolhem prenunciam certos destinos aos quais esses caminhos necessariamente levarão caso se persevere neles — disse Scrooge. — Mas caso haja alteração no percurso, o destino também poderá ser alterado. […] Honrarei o Natal em meu coração e procurarei guardá-lo o ano inteiro. Viverei no passado, no presente e no futuro. Os três espíritos exercerão sua influência sobre mim. Não rejeitarei as lições que eles ensinam” – diz trecho da obra.


Pensada como uma experiência de ser lida em voz alta, a história engloba ganância, arrependimento, solidão, reflexão, compaixão, esperança e lições para uma vida transformada pela compaixão de Cristo.

Inteligência artificial e… amiga?


A correria que já era grande parece ter ganhado uma aliada com a chegada da inteligência artificial. Respostas automáticas e robôs cada vez mais presentes. Para onde estamos caminhando? Reflexões oportunas para o período de final de ano, quando paramos por alguns dias para analisar os últimos 365 (neste ano, 366!) e planejar os próximos.

Foto: Divulgação


O Jornal O Paraná conversou com o Padre Luciano Acácio Cordeiro, da Paróquia Nossa Senhora do Caravaggio, do Bairro Maria Luiza, em Cascavel, sobre estes novos tempos e ele afirmou que a IA, na verdade é uma graça, é uma benção – desde que nós saibamos usá-la. “Eu acredito, assim, que a pessoa que está por trás, que usa qualquer tipo de inteligência artificial, sabendo procurar, vai ter respostas profundas, respostas interessantes e não superficiais”, pontuou.

Centralidade


Em relação ao Natal, o sacerdote, disse que historicamente, ele é, de fato, vinculado à pessoa de Jesus. O que a gente não pode perder de vista é justamente isso, a centralidade de quem é o sujeito desta data. “E é o Cristo, é justamente o recém-nascido que vem ao encontro da humanidade, um Deus que se torna humano na pessoa do seu filho e coloca-se junto de uma família de Nazaré, por exemplo, junto com Maria e José, para nos ensinar que nós também somos capazes de, em todas as instâncias, em todos os momentos da nossa vida, desde o momento mais frágil, que é a concepção, o período gestacional até o nascimento e depois o cuidado que o pai e a mãe precisam exercer, nós podemos, até chegar à vida adulta, sermos capazes de usá-la da melhor forma possível, de cuidar, de proteger a vida, de amparar, de consolar, de educar. E cada vez que a gente faz isso, a gente está vivendo justamente o projeto de vida, o projeto salvador do Senhor”, afirmou o Padre Luciano, que ainda completou: “Então o que nosso coração nesse tempo do Natal se torne capaz de ser essa grande manjedoura para acolher o menino Jesus, para acolher esse Deus humanado que nos ensina verdadeiramente o caminho do céu. Eu acredito que esse é o espírito natalino e que a inteligência artificial não vai tirar”.

Uma tradição atualizada


O padre ressalta a importância da preparação para o Natal – que é o tempo do advento – que permeia a vida cristã, através da participação das celebrações, das novenas, vivendo com intensidade a acolhida. “Então o espírito natalino estará de fato sendo vivenciado, porque Jesus é o centro, ele é o Emmanuel, o Deus conosco, que permanece todos os tempos, em todos os momentos, em todos os lugares, em todos os povos, em todas as culturas. Mas é preciso acolhê-lo da melhor forma possível”, explicou.


“Agora, se você celebrar só com troca de presente, só com consumo, com Papai Noel, aí você está começando a inverter a lógica que de fato tem aquilo que seria a razão dessa data. Então, esse cuidado que a gente precisa ter. Então, enfeitar não só as lojas, não só as casas, não só construir os presépios, as árvores de Natal, não só colocar os enfeites, mas sobretudo permitir que aquela luz, que é a verdade de Deus, se manifeste claramente a todos nós, aos nossos corações. Fazendo isso, nós vamos celebrar o Natal com verdade e com alegria. Eu desejo um Santo Natal, um abençoado Ano Novo, que Deus abençoe a todos, inclusive aqueles que também são os leitores também do jornal”, finalizou o Padre Luciano.

Natal é tempo de vencer os medos e renovar a fé

Gilvano de Souza, pastor sênior da Igreja Verdade Cascavel e presidente da Opevel (Ordem dos Pastores Evangélicos de Cascavel), reforça a afirmação de que o significado do Natal vai muito além de uma simples data festiva. Em sua mensagem de Natal, o pastor destaca que “a importância do Natal vai muito além do estímulo comercial, dos presentes trocados e de uma atmosfera boa, apesar disso ser também muito importante. O Natal é muito mais relevante que isso”. E afirma: “Para o cristão o Natal não é uma data, mas uma pessoa que se chama Jesus Cristo de Nazaré, o Filho de Deus”. O pastor cita o texto do evangelho segundo Lucas, no capítulo 2, versículo 11: “Hoje, na cidade de Davi, lhes nasceu o Salvador, que é Cristo, o Senhor”.
Diante do cenário preocupante descrito na abertura desta página, o pastor da Verdade Igreja faz referência a figura de Maria, que trouxe Jesus ao mundo. No mesmo evangelho de Lucas 1:28-33, lembra o pastor, Maria teve medo diante de uma situação que seria muito embaraçosa para sua época uma gravidez ainda antes do casamento.
“O anjo, aproximando-se dela, disse: Alegre-se, agraciada! O Senhor está com você!’ Maria ficou perturbada com essas palavras, pensando no que poderia significar esta saudação. Mas o anjo lhe disse: ‘Não tenha medo, Maria; você foi agraciada por Deus! Você ficará grávida e dará à luz um filho, e lhe porá o nome de Jesus. Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo. O Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi, e ele reinará para sempre sobre o povo de Jacó; seu Reino jamais terá fim”.
Para Gilvano, o Natal deve nos trazer à consciência de que não estamos sozinhos. Jesus é o “Emanuel, Deus conosco”. “Jesus nasceu! Deus visitou a Terra pessoalmente e a presença de Jesus em nossa história tornou o céu acessível”. E tudo isso, continua o pastor, “tudo isso por amar a mim e a você; por isso o Natal tem nome e se chama esperança que é Jesus Cristo”.

Vença os medos


Em sua mensagem, Gilvano de Souza reforça frase do anjo no encontro com Maria: “Não tenha medo”. Segundo ele, “porque Deus veio ao nosso mundo, podemos vencer os nossos medos e inseguranças; e a palavra de Deus para mim e para você, neste Natal é: Filho, não tenha medo”. Ele lembra que de uma virgem, filha de uma família comum, nasceu o Salvador. “E é de pessoas comuns, de famílias comuns com a minha e a sua que Deus fará brotar e crescer algo que vai impactar as pessoas porque o Deus continua fazendo poderoso na Terra e isso vai acontecer em mim e através de você quando entendo e recebemos Jesus, o verdadeiro Natal”,


A época de Natal também é uma oportunidade para que fé seja renovada, junto com a esperança e a certeza de não que não estamos sozinhos e a esperança. “O maior presente de Natal é a salvação que o nascimento de Jesus trouxe para mim e para você. É a vida abundante que ele mesmo nos prometeu”, completou. (Paulo Alexandre de Oliveira)

Foto: Verdade Cascavel

Boas lembranças para guardar na memória

Para as crianças, em especial, Natal é uma das datas esperadas do ano. A data que celebra o nascimento do menino Jesus e também é marcada pela chegada do Papai Noel. Lembro-me da minha ansiedade esperando a noite de Natal. Gostava de comprar muitos doces para cesta de Natal; adorava decorar a casa, a árvore de natal e os pisca-piscas, além do presépio não podia faltar. Na porta de entrada, de madeira, mamãe pendurava a coroa de natal. Era a maior festa, matando a saudades de rever os primos para brincar e assistir filmes de Natal. Lembro com carinho daqueles momentos especiais.


Além disso, lembro-me das “faxinas”: varrer a casa e passar cera, as paredes também. Enquanto isso, meu pai pintava as paredes de branco e as árvores em volta de casa também recebiam uma “misturinha branca” que minha mãe fazia. Grama cortada e quintal limpo completavam o “checklist”.

Missa do Galo, filmes e o Papai Noel


Na véspera de Natal eu e minha prima assistíamos filmes até mais tarde, claro que com permissão da minha mãe. E gostávamos de conversar sobre como seria o futuro e quando fossemos adultas, se nossos sonhos se tornariam verdade ou… Queríamos ser veterinárias… Mas voltando à realidade, acabei virando jornalista e ela advogada. Bom, quando chegava a hora da Missa do Galo, quando o relógio marcasse exatamente meia-noite era Natal e a “hora do Papai Noel”. Pensava que era igual nos filmes, ele iria descer pela chaminé e entregar os presentes que eu sempre pedia nas cartinhas.

Família


Para o almoço fazíamos comidas tradicionais do Brasil, sendo mais específica, elas eram bem mais paranaense com uma pitada da Ucrânia, uma das minhas decências. Não podiam faltar as frutas, arroz, farofa, carne assada, refrigerantes, salada e a sobremesa.
Depois do almoço e de lavar a louça, sempre íamos ao rio brincar, levava minha boia ou minhas garrafas de amaciantes amarradas com um cadarço – eu ainda não sabia nadar. Hoje já somos todos adultos, mas dos nossos hábitos nunca abrimos mão, viraram tradição. E parando para pensar, a beleza que eu via no Natal sempre foi estar reunida com a minha família e dividir com eles momentos felizes, histórias e recordações. (Priscila Letícia Liber dos Santos)

Meus sobrinhos, Lorenzo e Pedro, que hoje são as crianças da nossa casa em mais um Natal em família – Foto: Arquivo familiar