
Como surgiu a ideia de fazer essa obra?

A mostra conta com produções de várias décadas. Como você vê a evolução da direção de arte no cinema?
Falar em “evolução” não é simples, porque o processo nem sempre ia para a frente de uma forma orgânica. O cinema de estúdio dos anos 1950, como o feito pela Vera Cruz, tinha criatividade e grandiosidade. O que houve foi um grau de profissionalização. E só para ficar claro: direção de arte é um conceito amplo. Refere-se a alguém que contribui para a visualidade de um filme, o que inclui o cara do figurino.
A primeira vez que o cinema brasileiro usou o termo “direção de arte” para se referir ao profissional responsável pela área foi em “O beijo da Mulher-Aranha” (1985), de Hector Babenco. O que aconteceu ali?
Até os anos 1980, a atividade era chamada de “cenografia”, às vezes de outras coisas. A mudança não foi nada abrupta, e sim o resultado da uma mudança de mentalidade. A publicidade, por exemplo, já era bastante setorizada e contava com equipes estrangeiras. Entendeu-se que esse profissional (o diretor de arte) contribuía muito para a obra fílmica. O Babenco sabia disso. Houve um amadurecimento na compreensão do que seria a atividade. Cena de ‘O beijo da Mulher-Aranha’
Que filmes se destacam pela direção de arte, na sua opinião?
Vamos por parte. “Uma certa Lucrécia” (1957), de Fernando de Barros. Quem fez a cenografia foi o Pierino Massenzi. Ele foi um gênio. Construiu a cidade de Veneza em estúdio. É muito impressionante. A cenário tinha um acabamento sofisticado, requintado, com soluções simples. Destaco também o Clóvis Bueno (de “O beijo da Mulher-Aranha”). Este tinha um conhecimento totalmente empírico, algo recorrente na atividade: muita gente não tem formação específica na área. Bueno fez “Orfeu” (1999), no qual construiu a favela. Em “O beijo da Mulher-Aranha”, é muito interessante a decoração das celas dos personagens do William Hurt e do Raul Julia reflete as suas personalidades. A mesma coisa acontece em “Carandiru” (2003).
De que maneira a direção de arte é um importante instrumento narrativo?
A direção de arte nasce a partir de elementos imateriais. O diretor de arte o primeiro a transformar as palavras do roteiro em imagem. Sempre em conjunto com outros profissionais, claro. Mias uma vez exemplifico com “O beijo da Mulher-Aranha”. O robi usado pelo personagem do William Hurt usa um robi que concatena muito sobre a sua personalidade. Vira uma verdade daquele personagem. Não poderia ser outra roupa. Nesse sentido, a direção de arte é diferente da fotografia. Esta trabalha sobre algo que já existe. Em “E o vento levou” (1939), há a cena em que a Scarlett O’Hara (Vivien Leigh) vai falar sobre a sua gravidez. Ela cai da escada e perde o bebê (veja no vídeo abaixo). Mesmo antes do acidente, a conjunção de fatores visuais, como a intensidade do vermelho da escada e a sinuosidade do ambiente, já remetem a uma tragédia prestes a acontecer. Cena de ‘E o vento levou’