Cotidiano

Maus passos na Educação fluminense

A troca de comando na Secretaria Estadual de Educação, com a substituição do secretário Antonio Neto pelo ex-presidente da Cedae Wagner Victer, pode contribuir para arrefecer a crise no setor. O estado enfrenta outra greve de professores e tem 68 escolas ocupadas por alunos. A rede pública fluminense patina num cenário de caos, agravado pelo agudo colapso financeiro que virtualmente paralisa a máquina administrativa do Rio de Janeiro.

Mas resta saber se a mudança ficará ao nível das mexidas tópicas ou se o câmbio na direção representará uma real correção de rumo na gestão, providência inadiável. Após um período, pré-crise, em que se contabilizaram avanços no gerenciamento da Educação fluminense, a secretaria tem dado maus passos. Um deles com potencial para botar a perder importantes conquistas no setor.

Pressionada pelos grevistas e acuada pelo movimento de ocupação de escolas, a secretaria trocou a negociação por um nefasto escambo, ao pôr na mesa a proposta da extinção do Saerj (Sistema de Avaliação da Educação do Estado do Rio de Janeiro). Eficiente dispositivo de monitoramento do aprendizado, o sistema tornou-se uma pedra no caminho do corporativismo sindical. Ao admitir revogá-lo, o governo cedeu ao anacronismo.

O Saerj foi introduzido como instrumento para medir o nível de aprendizado na gestão do secretário Wilson Risolia. O método permite que sejam identificadas dificuldades pontuais em cada escola, orienta diagnósticos e, por consequência, facilita a correção de rota quase imediata. Extingui-lo significa abrir mão de um dispositivo ? as avaliações por testes ? que, desde a gestão de Risolia, e mesmo na do secretário que sai, enquanto este o manteve, contribuiu para o Rio de Janeiro dar um salto no ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). Nesse período, o Rio saiu da penúltima para a quarta colocação entre os estados brasileiros.

O escambo também é pernicioso porque, na prática, acaba com outro bem sucedido dispositivo de gestão da Educação ? o pagamento de bonificações por metas alcançadas pelos professores e/ou escolas. Os resultados no Saerj eram tomados como parâmetro para a distribuição dos bônus, moderno instrumento de incremento do compromisso dos docentes e diretores de unidades com o aperfeiçoamento do ensino.

A injustificada oferta do ex-secretário Neto contém ainda, subjacente, outro elemento preocupante: a barganha sugere fraqueza do alto escalão da secretaria. Isso escancara as portas para que se materializem na agenda do órgão outras demandas igualmente nefastas. Na Alerj, por exemplo, já se captam sinais de que deputados da base do governo se movimentam para ter a prerrogativa de indicar o secretário, atalho para interferir na escolha de diretores de escola, filé mignon eleitoreiro.

A recente troca de comando põe na mesa do novo secretário o desafio de desfazer esses maus passos ou, no sentido contrário, se resignar a se tornar mera peça de reposição.