Cotidiano

'La vingança', um road movie que explora a rivalidade Brasil x Argentina

SÃO PAULO ? Tudo começou com uma conversa de bar, lá nos idos de 2011, entre Fernando Fraiha e Jiddu Pinheiro. Ao discutirem ideias para filmes, os cineastas se detiveram em uma proposta lançada por Pinheiro: dois amigos que decidem ir até a Argentina para se vingar dos ?hermanos?. Depois de ser muito trabalhado, esse fiapo de história se transformou em ?La vingança?, que estreia hoje nos cinemas, com Felipe Rocha, Daniel Furlan e a participação de Leandra Leal no elenco.

Misto de road movie, romance e comédia, o filme acompanha dois amigos, Caco (Rocha) e Vadão (Furlan), em uma viagem até Buenos Aires, onde pretendem ir à forra dos argentinos. É a maneira que encontraram para purgar a traição de Júlia (Leandra), ex-namorada de Cacá, que ficou com um famoso cozinheiro argentino enquanto eles ainda estavam namorando.

? A gênese dessa história é um misto de várias coisas que foram se acumulando na minha experiência de vida ? diz Pinheiro, que assina o filme como codiretor. ? Eu morei na Argentina quando era garoto. Vivi essa coisa das diferenças culturais entre os dois países. Estava lá sozinho e fui me virando. Sempre tive essa relação afetiva com os argentinos.

LEIA CRÍTICA E CONFIRA AS SALAS DE “LA VINGANÇA”

Fraiha conta que, no começo, achou a premissa inicial insuficiente. Era preciso trabalhá-la, lembra ele, para que não se transformasse em algo gratuito e sem sentido, como costumam ser muitos dos aspectos da rivalidade entre brasileiros e argentinos:

? Fiquei com aquilo na cabeça. Achei que se trabalhássemos aquela ideia poderíamos chegar a algum lugar. O nosso medo era não conseguir levar o filme para um lugar diferente daquele que os caras ocupam quando eles vão lá em busca de uma vingança ? fala o diretor, de Austin, nos EUA, onde foi acompanhar as sessões de ?Divinas divas?, documentário produzido por ele e dirigido por Leandra Leal, no festival SxSW.

Uma das soluções encontradas pelos diretores, que também assinam o roteiro com Thiago Dottori, Pedro Aguilera e Felipe Sant’Angelo, para contornar o problema da superficialidade foi investir no personagem de Vadão, dono da ideia da viagem e da ?vingança?. Segundo eles, o rapaz funciona como alívio cômico e uma espécie de agente refratário para discursos politicamente incorretos em relação a mulheres, relacionamentos ou até mesmo à questão da rivalidade entre os dois países.

? Ele é um idiota, um babaca ? reforça Fraiha. ?Nada do que ele fala sobre qualquer assunto, seja mulheres, futebol ou qualquer outro tema tem muito fundamento. A precariedade do seu discurso acaba sempre se voltando contra ele. La Vingança – Trailer Oficial

O personagem de Furlan solta uma das piadas mais imprevisíveis do filme, quando é desafiado por um grupo de músicos argentinos a admitir que Maradona é maior que Pelé no futebol, tudo isso para conseguir carona na Kombi em que viajam.

? Só se for maior que o Caniggia, porque nem como cheirador o Maradona é maior. Nós temos o Casagrande ? diz Vadão para os valentões argentinos.

Fraiha disse que filmou a mesma cena com e sem a citação de Casagrande, para se precaver caso o ex-jogador de futebol e hoje comentarista da Rede Globo não gostasse da piada.

? Mostramos para o Casagrande, mas não sei dizer se ele gostou ou não ? conta Fraiha. ?Ele disse que, por uma questão de princípio, jamais se oporia ou faria algo contra uma coisa dessas. Diante disso, resolvemos deixar.

?La vingança? estreou na Argentina em fevereiro. O filme ficou em segundo lugar nas bilheterias nas duas primeiras semanas e caiu na terceira. Em termos comerciais não foi bem.

? Mas deixamos uma marca lá. E, pela resposta que tivemos, vimos que não colocamos os argentinos no filme de uma forma desrespeitosa ?completou Fraiha.