A chuvarada que caiu nos últimos dias não foi suficiente para amenizar a fumaça em Cascavel que continua pairando sobre o ar e pode ser vista e sentida com os sintomas de olho seco, tosse e vegetação seca. De acordo com o Corpo de Bombeiros de Cascavel, a chuva ajudou a minimizar os focos de incêndio na cidade e em toda a Região Oeste. Mas, a preocupação ainda continua já que com a vegetação e o tempo seco, novos focos podem surgir a qualquer momento.
Pela previsão do tempo novas chuvas só devem chegar a partir da próxima sexta-feira (27) e em um fluxo pequeno. Já a qualidade do ar da cidade está bem abaixo da qualidade esperada, deixando insalubre e trazendo preocupação para alguns grupos, já que isso acaba sendo causado devido às fuligens derivadas das queimadas que ocorreram tanto na região como em outras partes do país.
O meteorologista do Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná), Lizandro Jacóbsen, explica que o céu mais branco ocorre devido à presença das fumaças que, somado com as altas temperaturas e a baixa umidade, pioram a qualidade do ar. Além disso, no nascer e no pôr do sol, o astro fica bastante alaranjado e avermelhado e fica bem visível com a má-qualidade do ar.
Com isso, vale tomar alguns cuidados como não fazer exercícios ao ar livre, fechar as janelas para evitar ar sujo externo. Além disso, usar máscaras – principalmente as crianças, idosos e os grupos mais sensíveis – e utilizar umidificador e purificadores de ar. O calorão e a sensação térmica na tarde desta segunda-feira (23) chegaram a 35 graus.
Ações ambientais
A preocupação com a situação é em nível federal. Nesta segunda-feira (23) a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que as ações contra o fogo foram insuficientes. Na semana passada ela já havia dito que o Brasil vive um terrorismo climático, com pessoas usando as altas temperaturas e a baixa umidade para atear fogo ao país. Isso acaba prejudicando a saúde das pessoas, a biodiversidade e destruindo as florestas.
Ela ressaltou que é fundamental que todos os agentes públicos que já estão mobilizados continuem agindo, porque há uma intenção por trás dessas ações. “Não é possível que diante de uma das maiores secas de toda a história do nosso continente e do país, e com a proibição existente, que as pessoas continuem colocando fogo. Isso causa grande mal à saúde pública, ao meio ambiente, aos nossos sistemas produtivos e só agrava o problema da mudança do clima”, disse.
Para ela, uma floresta úmida não pega fogo, porque o fogo começa e a própria floresta consegue fazer com que se apague. Como já estamos vivendo os efeitos de mudança climática, provavelmente a floresta está perdendo umidade. Como dizem os cientistas, cerca de 32% dos incêndios estão sendo feitos intencionalmente para degradar a própria floresta.
Volume recorde
As emissões de gases do efeito estufa pelos incêndios no Amazonas e no Mato Grosso do Sul atingiram, neste ano, um volume recorde. É o que aponta o Cams (Serviço de Monitoramento Atmosférico Copernicus da União Europeia). Segundo dados divulgados nesta segunda-feira (23), as queimadas nesses dois estados têm resultado nos maiores volumes de emissão desde que o Cams começou a monitorar esse tipo de fenômeno, há 22 anos.
As emissões de carbono na atmosfera pelo Brasil pelos incêndios, segundo o observatório europeu, acumulam, neste ano, um volume de 183 milhões de toneladas, dos quais um terço foram apenas no mês de setembro. Com isso, as emissões seguem um caminho similar ao recorde registrado em 2007. No Amazonas e no Mato Grosso do Sul, as emissões por incêndios, neste ano, atingiram 28 milhões e 15 milhões de toneladas, respectivamente. Ainda de acordo com os dados, as emissões das queimadas na Bolívia em 2024 já acumulam o maior volume dos últimos 22 anos: 76 milhões de toneladas.
Em nota, o Cams informa que as emissões têm estado consistentemente acima da média, até mesmo quebrando recordes nacionais e regionais. Fator que ocorre principalmente devido a graves incêndios nas regiões do Pantanal e da Amazônia, impactando severamente a qualidade do ar em toda a região.
“A ocorrência destes incêndios florestais pode ser considerada fora do comum, mesmo considerando que julho-setembro é o período em que normalmente ocorrem incêndios florestais na região. As temperaturas extremamente altas que a América do Sul tem experimentado nos últimos meses, a seca prolongada indicada pela baixa umidade do solo e outros fatores climatológicos provavelmente contribuíram para o grande aumento da escala das emissões de incêndios, fumaça e impactos na qualidade do ar”, prossegue a nota.
Incêndios criminosos: Mais de 220 pessoas detidas em 10 Estados
Brasília – Mais de 221 indivíduos foram detidos ou presos em dez estados brasileiros, suspeitos de estarem envolvidos em incêndios criminosos. Desde agosto, as queimadas têm se intensificado, e governantes apontam para motivações criminosas por trás desses atos. De acordo com o Monitor do Fogo, em 2024, a área queimada no Brasil alcançou 11,39 milhões de hectares, representando um aumento alarmante de 116% em comparação ao ano anterior. Os estados que mais sofreram com as queimadas foram Mato Grosso, Pará e Mato Grosso do Sul. Em São Paulo, 26 pessoas foram detidas, com 16 ainda sob custódia.
Goiás registrou a prisão de 31 pessoas por incêndios em áreas florestais, enquanto Minas Gerais liderou o número de detenções, com 76 indivíduos. Roraima e outros estados ainda não forneceram informações sobre prisões relacionadas a incêndios. Desde o início, as queimadas impactaram aproximadamente 10,1 milhões de pessoas. Rondônia prendeu 42 pessoas, Goiás 31, Mato Grosso 20, Espírito Santo 8, Distrito Federal 8, Rio de Janeiro 5, Pará 4 e Paraná 1.