
Brasil e Cascavel - O Natal é uma das datas comemorativas mais aguardadas do ano. Para muitas pessoas, é tempo de reunir a família, celebrar conquistas, reforçar laços e renovar esperanças. Mas, para personagem desta matéria, “Paulinho”, no entanto, essa data nunca teve esse significado.

Nada o empolgava. Papai Noel, filmes natalinos, músicas repetidas, histórias sobre “espírito de Natal” — absolutamente nada despertava encanto ou curiosidade. A expressão “Feliz Natal” soava vazia, quase automática, incapaz de provocar qualquer emoção. Desde a infância, Paulinho nunca foi entusiasta da data e ela passou longe de figurar entre suas preferidas.
Sem Ceia, nem presentes
Criado em uma família humilde, o Natal nunca foi mágico. Não havia ceia especial, troca de presentes, decoração ou reunião em torno da mesa. Não existiam brinquedos novos nem expectativas festivas. Para ele, o dia 25 de dezembro era apenas mais um no calendário, sem rituais, sem celebração, sem memória afetiva. Crescer assim moldou sua visão: o Natal era sinônimo de indiferença.
Os anos passaram e, por muito tempo, pouco mudou. A data seguia sendo encarada como um dia comum, até que “Paulinho” conheceu Iolanda. Foi ali que sua perspectiva começou, lentamente, a se transformar.
Ressignificando
O amor tem esse poder: ressignificar hábitos, suavizar resistências e abrir espaço para novas experiências. Com Iolanda, os encontros em família ganharam outro peso — tornaram-se momentos de afeto, partilha e construção de lembranças.
Neste ano, a mudança foi ainda mais evidente. A casa onde o casal mora ganhou decoração natalina: pinheirinho montado com cuidado, presépio, uma guirlanda na porta de entrada e luzes piscando pelos cantos. A ceia foi planejada com carinho, reunindo pratos típicos da época e sobremesas preparadas para serem compartilhadas. Cada detalhe ajudou a dar forma a algo que, para Paulo, sempre foi inexistente.
A experiência foi nova e simbólica. Ele, que sempre rejeitou o Natal, passou a vivê-lo de maneira diferente, ao lado de alguém que sempre amou essa celebração. Iolanda cresceu acostumada a reunir a família no fim do ano para celebrar o nascimento de Cristo e valores como amor, respeito, união e cumplicidade. É o momento de agradecer pelas conquistas e lutas vencidas durante o ano que se encerra, de alimentar boas expectativas para o que está por vir.
Oportunidades
Sem magia aparente, como em um conto simples da vida real, tudo mudou. Ou melhor: Paulo mudou. A forma de enxergar o Natal deixou de ser marcada pela ausência e passou a ser preenchida por significado. Afinal, nem sempre as datas precisam ser como nos ensinaram — às vezes, elas se reinventam quando compartilhadas com as pessoas certas.
Que assim seja também para cada leitor do Jornal O Paraná: que não apenas o Natal, mas qualquer dia comum, possa ganhar um novo sentido. Porque todo dia é uma nova oportunidade de ressignificar histórias. Boas festas!
“O Natal não é uma data, mas uma pessoa!”
A escolha do 25 de dezembro para a comemoração do Natal não está diretamente ligada a uma data histórica comprovada do nascimento de Jesus, mas resulta de um processo religioso, cultural e político ocorrido nos primeiros séculos do cristianismo. (confira box) Contudo, apesar do contorno comercial em torno da festividade cristã nos dias atuais, o Natal é tempo de renovação de inúmeras situações e sentimentos. Para o presidente da Opevel (Ordem dos Pastores Evangélicos de Cascavel) e pastor sênior da Pulse Igreja, Gilvano de Souza, “o Natal não é uma data, mas uma pessoa”.

Em sua mensagem de Natal, Souza reforça a ideia de que 25 de dezembro é apenas uma “convenção” para lembrar que, “sim, Jesus nasceu; a nossa esperança nasceu”, e está intimamente ligado ao que conhecemos por “fé”. O pastor lembra que a manjedoura, a cruz e o sepulcro, de acordo com a Bíblia, “estão vazios” e são símbolos que apontam para processos que nos trazem “uma nova vida”.
“Jesus é o fundador. Ele iniciou e a Bíblia diz que Ele é o Autor e Consumador da nossa fé (Hebreus 12:2); em Jesus, nossa fé precisa ser desenvolvida e alcançar o seu propósito”, destaca Gilvano Souza.
Oportunidades
De acordo com o presidente da Opevel, “Natal é tempo de perdoar mais, de estar mais perto das pessoas, de demonstrar o amor e espalhar a esperança”. E, para tudo isso, a fé é fundamental. “Mas é preciso perceber também que Jesus não é mais uma criança. Ele nasceu, sim, mas não ficou na manjedoura; cresceu, passou por todas as fases da vida até se tornar adulto e cumprir sua missão de trazer luz e salvação a todos que creem e, Nele, depositam sua fé”, completa, emendando uma pergunta: “Jesus nasceu e cresceu; e a minha e a sua fé têm crescido?”
Por isso, reforça o pastor, neste Natal há uma nova oportunidade para renovar ou mesmo conhecer a fé que transforma vidas e situações. “Natal é uma nova oportunidade para refletir sobre tudo o que fizemos, nossos comportamentos, e avançar para um crescimento e uma maturidade que nos proporcionem relacionamentos mais saudáveis, uma vida e uma realidade, de fato, melhores”, acrescenta.
Grandes desafios
Ao observar a realidade e os muitos acontecimentos de 2025, a necessidade de transformação e renovação é uma percepção cada vez mais evidente. Discussões familiares e de trânsito, por exemplo, que acabam em agressões e produzem sequelas graves – até mesmo a morte – apontam para a urgente necessidade de mudanças que podem ser produzidas a partir dos apontamentos da mensagem do presidente da Opevel.
E para que esse desafio de mudança e profunda transformação social seja encarado e concretizado, Gilvano Souza aponta mais uma vez para a fé e a esperança que estão enraizadas na essência do verdadeiro Natal. “Jesus não é mais aquela criança na humilde manjedoura. Também não ficou pregado na cruz, nem fechado naquele sepulcro. Jesus, o Filho de Deus, está vivo e o governo está sobre Seus ombros”, destacou o pastor, para lembrar que “Jesus nasceu há mais de 2 mil anos e transformou a história e, hoje, mais uma vez, todos temos o desafio de convidá-Lo para ocupar o trono do nosso coração”.
Vida nova
Na conclusão da mensagem de Natal, Gilvano Souza evoca os três grandes símbolos da fé cristã. “A manjedoura, no Natal, nos lembra que Jesus nasceu; nasceu a esperança. A cruz nos faz refletir sobre o pecado, mas também nos tira dele, oferecendo um novo caminho. E a ressurreição nos movimenta para uma vida nova, com desafios e dificuldades, porém com a certeza de que não estamos sozinhos: o Rei dos reis e o Senhor dos senhores caminha conosco. Ele vence a morte, renova a fé, sustenta na dor e aponta para um futuro de vida. A esperança, iniciada na manjedoura, se completa na vida transformada de cada dia.”

Por que 25 de dezembro?
A escolha do dia 25 de dezembro para a celebração do Natal não corresponde a uma data histórica comprovada do nascimento de Jesus. A Bíblia não indica o dia exato, e nos primeiros séculos do cristianismo essa comemoração sequer existia. A definição da data ocorreu a partir do século IV, quando a Igreja passou a associar o nascimento de Cristo a celebrações já existentes no Império Romano, ligadas ao solstício de inverno e ao culto ao “Sol Invencível”. Com isso, o Natal foi instituído como uma festa cristã que simboliza Jesus como a “luz do mundo”, substituindo antigos rituais pagãos e consolidando-se, ao longo do tempo, como uma das principais datas do calendário religioso e cultural.
O primeiro registro oficial do Natal em 25 de dezembro ocorreu em Roma, no ano de 336 d.C. A partir daí, a celebração se espalhou pelo Ocidente cristão. No Oriente, algumas igrejas mantiveram por mais tempo o 6 de janeiro (hoje Epifania) como data principal ligada ao nascimento de Cristo.
O que nasce no Natal: paz e esperança
O que nasce no Natal? Sim, nasce Jesus Cristo. Mas com Ele nasce algo profundamente necessário ao nosso tempo: a paz e a esperança. A paz anunciada pelos anjos aos pastores -“Paz na terra aos homens que Deus ama” – não é apenas uma saudação celestial. É um programa de vida. O Natal é o nascimento da paz, mas também o renascer da esperança.
Quando chegou a plenitude dos tempos – não por acaso, nem por improviso – Deus fez algo desconcertante: entrou na nossa história. O Filho eterno assumiu nossa carne, nossas fragilidades, nosso chão poeirento. O Criador não falou de longe; aproximou-se. O infinito coube num menino. E, justamente por isso, a esperança ganhou rosto, nome e história.
Ao nascer como um de nós, Cristo reconciliou a humanidade com Deus. Aquilo que parecia perdido foi recuperado. A mesma natureza humana que um dia caiu, agora é levantada; a morte é vencida por dentro; a escuridão não tem mais a última palavra. O Natal nos garante: o futuro não está fechado, Deus continua agindo.
A história nos oferece um sinal luminoso. Na noite de Natal de 1914, em plena Primeira Guerra Mundial, soldados inimigos cessaram o fogo. Alguém começou a cantar Noite Feliz e, de ambos os lados, vozes se uniram. Por algumas horas, a paz nasce outra vez e com ela, a esperança, porque o nome de Jesus foi lembrado no campo de batalha. Aquilo que os tratados não conseguiram, Cristo realizou no coração humano. Por isso, como recorda São Leão Magno, “Cristo é a nossa paz”. E onde Ele nasce, a esperança não decepciona.

Desejo a você e à sua família um Natal de paz verdadeira e de esperança renovada. Que o Menino Jesus abençoe os lares de nossa cidade, fortaleça os que sofrem, inspire gestos de fraternidade e nos ajude a construir, juntos, um tempo mais humano e solidário.
Recebam minha bênção e meus votos de um Santo e Feliz Natal.
Dom José Mário Scalon Angonese, arcebispo de Cascavel