Cotidiano

Em situação crítica, hospitais pedem volta das cirurgias eletivas e mutirões

Seis meses após o início da pandemia de covid-19 no País, hospitais e clínicas privados apelam ao governo do Estado a retomada imediata das cirurgias eletivas, para tentar reverter parte dos prejuízos acumulados

Em situação crítica, hospitais pedem volta das cirurgias eletivas e mutirões

Reportagem: Cláudia Neis

Cascavel – Seis meses após o início da pandemia de covid-19 no País e os reflexos dela continuam pesando nas contas de hospitais e clínicas privados, especialmente os que trabalham com maior foco em procedimentos eletivos. Para tentar reverter os prejuízos do período, as instituições solicitaram ao Estado a retomada imediata das cirurgias não urgentes.

As chamadas cirurgias eletivas foram suspensas ainda em março, uma pequena parte retomada em julho, mas logo foram suspensas por conta do baixo estoque de anestésico no Estado, medicamento essencial para intubação e manutenção de pacientes na UTI (Unidade de Terapia Intensiva).

Após aquisição de medicamentos e redução da ocupação hospitalar, na semana passada o Estado liberou alguns dos procedimentos, principalmente os que não exigem que o paciente necessite de UTI. Contudo, os hospitais privados pedem o retorno de todas as eletivas. “São duas situações: dos hospitais filantrópicos, além de dependerem de 40 a 60% do SUS, grande parte está atendendo pacientes covid, então ameniza um pouco; já os hospitais privados têm com única fonte de receita o que atendem, principalmente eletivas por meio de convênios, planos de saúde e particulares, também. Com a suspensão dos procedimentos, a receita caiu mais da metade, o preço dos medicamentos e dos EPIs [Equipamentos de Proteção Individual] aumentou e a folha de pagamento continua a mesma, então a conta não fecha”, explica o presidente da Femipa (Federação das Santas Casas de Misericórdia e Hospitais Beneficentes do Paraná), Flaviano Feu Ventorim.

Agravamento

Flaviano ressalta que os hospitais privados não conseguiram redução nem parcelamento de tributos e que a preocupação é que não consigam se manter em funcionamento pleno.

Além disso, o período entre a consulta, a realização do procedimento e o pagamento de fato é outra preocupação. “O grande problema é que cirurgia, quando liberada, não acontece de um dia para o outro. Se a liberação acontecesse a partir de 1º de setembro, por exemplo, primeiro os médicos retomam as consultas e, se necessário, o paciente é encaminhado para o procedimento. Mas o período entre a consulta e a realização da cirurgia pode ser de 60 dias, pois há os exames, a liberação do convênio, enfim, uma série de questões. E, ainda assim, o convênio tem 30 dias para realizar o pagamento ao hospital após a cirurgia. Então, se levar em conta todo o processo, são 90 dias, e já estaríamos em dezembro”, ressalta Ventorim, lembrando que novembro e dezembro é o período de pagamento do 13º salário dos funcionários.

Além do lado financeiro que as suspensões impactam, o presidente da Femipa destaca o possível agravamento dos casos. “Se você tem um problema que não é resolvido, ele evolui. Então, um problema eletivo agora, se não tratado, pode virar uma urgência. Por isso acredito que em breve será necessário iniciar um planejamento de retomada dos procedimentos”.

Acúmulo de pacientes e mutirões

A Sesa (Secretaria de Estado da Saúde) não tem dados de quantos pacientes aguardam pelas cirurgias eletivas no Paraná. E informou, por meio de nota, que “não existe sistema informatizado, unificado ou não, que registre 100% de pacientes em fila de espera para cirurgias eletivas no âmbito do SUS no Estado do Paraná, devido à grande diversidade de estabelecimentos de saúde e das variadas formas de gestão e participação no SUS”, mas destacou que um novo sistema de cadastramento dos pacientes está sendo desenvolvido e deve ser implantado ainda este ano.

Contudo, é fato que a fila de espera, especialmente no SUS, aumentou.

O presidente da Femipa, Flaviano Feu Ventorim, afirma que, diante do acúmulo e da incerteza de quanto tempo a pandemia ainda deve durar, para algumas especialidades devem ser organizados mutirões. “Com muitos pacientes esperando pelo procedimento, acredito que mutirões ou uma reorganização por parte da Sesa deva ocorrer, mas a nossa preocupação também se volta ao fato de o Estado ter verba para custear os procedimentos, visto que houve queda na arrecadação e mais investimento para o enfrentamento à covid-19. São muitas questões a serem analisadas. Fato é que as instituições privadas estão prontas para retomar os atendimentos e os procedimentos”.

A Sesa informou ainda não há previsão de quando retornará ao normal o atendimento, nem se será possível aumentar a quantidade de procedimentos realizados.

Queda de 35% de cirurgias

Dados repassados pela Sesa dão uma dimensão do impacto da pandemia. Em todo o ano de 2019, foram realizadas 163.027 cirurgias eletivas hospitalares e 356.557 eletivas ambulatoriais, totalizando 519.584 procedimentos no Paraná. Neste ano, de janeiro a junho, foram feitos 167.304 procedimentos, sendo 49.720 cirurgias eletivas hospitalares e 117.563 ambulatoriais. Se considerada a média, representa uma queda de 35% em relação ao ano passado.